Uma equipe de cientistas do Carnegie Institution for Science descobriu que, entre 1999 e 2016, a expansão de minas de ouro custou para a região uma perda de 4.437 hectares (10.964 acres) de florestas por ano.
A área trabalhada por mineradores em 2016 era 40 % maior do que em 2012.
Esses achados, juntamente com análises de ecologistas do Monitoring of the Andean Amazon Project, indicam que o aumento da atuação do governo peruano tem retardado a taxa de desmatamento.
A Reserva Nacional de Tambopata é um paraíso para plantas e para a vida silvestre, sem mencionar que ecologistas anseiam por entender os mistérios da floresta neste canto da Amazônia peruana.
“Há uma abundância de espécies”, disse Greg Asner, ecologista da Carnegie Institution for Science da Universidade de Stanford. “É um lugar onde vi onças-pintadas nadando em rios e uma quantidade enorme de fauna”.
Mas, por quase duas décadas, essa “paisagem épica” na região de Madre de Dios vem sendo ameaçada. Mineradores de ouro se instalaram na zona de amortecimento da reserva e inclusive na própria reserva, deixando o solo descoberto, desprovido de florestas e da camada superficial de solo em seu entorno. Em um estudo publicado na terça-feira na revista Environmental Research Letters, Asner e sua equipe demonstraram que, apesar das intervenções do governo peruano, o fervor por ouro não cedeu.
“A mineração de ouro, para mim, é a agressão mais extrema que você pode fazer na Reserva de Tambopata e em sua zona de amortecimento”, disse Asner em uma entrevista. “É um ataque brutal à natureza naquela reserva.”
Em um estudo anterior publicado em 2013, Asner e seus colegas catalogaram essa destruição entre 1999 e 2012. Eles haviam descoberto que a área dedicada à mineração de ouro em Madre de Dios em 2012 era quatro vezes maior do que em 1999, muitas vezes seguindo os picos do preço de ouro durante esse período.
O novo estudo começa a partir de onde o último estudo parou e estende a abordagem única de Asner, a qual se concentra no monitoramento aéreo da floresta. À medida que sobrevoam transectos de um lado para outro sobre a floresta tropical, um espectrômetro (tipo de sensor) instalado no avião da equipe mede diferenças sutis na forma como as substâncias químicas no dossel refletem a luz.
Ao estudar esses dados, juntamente com imagens dos satélites Landsat da NASA, e analisando-os com um software próprio de mapeamento de desmatamento e degradação, chamado CLASlite, eles podem inclusive perceber pequenos distúrbios na cobertura florestal de até 10 metros quadrados, ou cerca de 107 pés quadrados. Isso inclui as pequenas – ainda assim destrutivas – minas que antes eram invisíveis para cientistas e autoridades peruanas.
O presente estudo mostra que, entre 1999 e 2016, a expansão da mineração de ouro custou à região uma média de 4.437 hectares (10.964 acres) de florestas perdidas por ano, e a área coberta em 2016 foi 40% maior do que em 2012. Asner também estava curioso sobre o impacto que a repressão do governo causou sobre a extração ilegal de ouro há alguns anos.
“Eles haviam adotado uma estratégia agressiva em 2012 para reduzir a mineração de ouro“, disse Asner. A análise da equipe mostrou que a ação foi bem-sucedida, pelo menos por um tempo: “houve uma redução após 2012, mas logo a mineração voltou em plena força”.
O ressurgimento do desmatamento indica que um esforço de longo prazo por parte do governo será necessário para impedir a destruição causada pela mineração, segundo Asner.
Há sinais de que o governo está empenhado em remover essa ameaça. Em setembro de 2016, as autoridades do governo começaram a ser “muito mais agressivas para remover mineradores de dentro da área de Tambopata”, disse Matt Finer, ecologista do Monitoring of the Andean Amazon Project (MAAP), em um e-mail.
Parece estar funcionando: “as recentes imagens de satélite mostram uma importante ausência de expansão do desmatamento dentro da reserva”, disse Finer.
Ainda assim, a mineração de ouro provou ser um problema persistente, mesmo com as ações das autoridades para eliminar a mineração nessa reserva. Em julho, elas realizaram uma “grande intervenção” na zona de amortecimento de Tambopata. No entanto, “esse esforço parece menos bem sucedido, já que as recentes imagens ainda mostram extensos campos de mineração na área”, disse Finer.
O jornal El Comercio, com sede em Lima, noticiou em julho que os assentamentos temporários dos mineiros são centros de “tráfico de seres humanos, exploração sexual [e] tortura” além de danos ao meio ambiente.
Asner explicou que a zona de amortecimento foi originalmente criada para permitir que grupos indígenas continuem usando a floresta e seus recursos, como eles fizeram por séculos. O plano era apresentar outras formas para eles se beneficiarem e ao mesmo tempo proteger a floresta permanente, como o ecoturismo.
Muitos consideram que as contínuas incursões na zona de amortecimento, em grande parte por pessoas de fora, são uma afronta ao modo de vida dos povos locais. Além disso, é provável que os impactos negativos da mineração de ouro – mesmo a mineração contida na zona de amortecedor – possam atingir a jusante.
“Toda a detecção que estamos fazendo não resolve o imenso efeito adicional da poluição hidrológica proveniente dos sedimentos e do mercúrio usado no processo de mineração”, disse Asner.
O mercúrio se liga ao ouro, ajudando os mineradores a extraí-lo dos sedimentos. É também um elemento tóxico que pode ter efeitos devastadores em peixes e nas populações da vida selvagem, os quais fazem de Tambopata um lugar tão importante para proteger.
“Não é uma grande suposição dizer que agora essa mineração de ouro está poluindo o sistema do rio através da … própria Reserva Tambopata”, disse Asner.
CITAÇÕES:
Asner, G. P., Llactayo, W., Tupayachi, R., & Luna, E. R. (2013). Elevated rates of gold mining in the Amazon revealed through high-resolution monitoring. Proceedings of the National Academy of Sciences, 110(46), 18454-18459.
Asner, G. P., & Tupayachi, R. (2016). Environmental Research Letters, 12, 094004.
Imagem do banner: onça-pintada (Panthera onca) no rio Tambopata. Foto de Rhett A. Butler / Mongabay.