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Conservar o habitat não é suficiente para ajudar espécies a lidar com a mudança climática

  • Nova pesquisa descobre que estratégias de conservação baseadas em habitat não compensam adequadamente pela perda de distribuição que espécies de três grupos podem enfrentar devido às mudanças climáticas.

  • Uma equipe de cientistas na Áustria observou os efeitos da mudança climática em 51 espécies de gafanhotos, borboletas e plantas vasculares presentes na Europa Central.

  • A conservação baseada em habitat pode fornecer um suporte para sobrevivência, mas o modelo estudado prediz que isso não será suficiente para prevenir a extinção regional de algumas espécies.

As alterações provocadas pela mudança climática sobre as condições que sustentam a vida na Terra forçam algumas plantas e animais a diferentes distribuições. Para abordar essa questão, algumas estratégias de conservação visam ajudar espécies, protegendo-as e restaurando os locais para onde elas possivelmente se deslocarão. No entanto, um novo estudo, publicado hoje no jornal Nature Climate Change, sugere que essas táticas podem ser fracas e, no final, não impediram a extinção de algumas espécies.

Os gafanhotos são os que mais se beneficiam das medidas de conservação no estudo. Foto de John C. Cannon.

“Medidas de conservação baseadas em habitat ajudam a manter as populações em tamanhos viáveis por um período maior, porém não são capazes de eliminar os efeitos da mudança climática”, disse o ecologista Johannes Wessely da Universidade de Viena, por email. “As medidas de conservação aplicadas não fornecem uma quantidade adequada de habitats de alta qualidade.”

Wessely e colegas começaram a observar, sob a perspectiva de um clima em mudança nos próximos três quartos de século, três grupos de animais e plantas que vivem na Europa Central: borboletas, gafanhotos e plantas vasculares, que incluem coníferas e plantas com flores.

“A principal resposta das espécies [à mudança climática] é a migração, a fim de adaptar suas distribuições”, disse Wessely.

Utilizando registros de observações de campo de 51 espécies desses três grupos, os pesquisadores desenvolveram um modelo para simular como a distribuição dessas espécies pode mudar e como as estratégias que focam a criação de habitats poderiam ajudar.

“[Conservação baseada em habitat] poderia melhorar a migração e o fluxo genético e, portanto, aumentar o potencial de respostas adaptativas das populações”, ele disse..

A equipe encontrou uma “resposta surpreendentemente uniforme” a essas abordagens de conservação, ele disse “elas ajudaram (a aumentar a extensão de distribuição), mas não ajudaram muito”.

Esse achado levou Wessely e seus colegas à conclusão de que não apenas ajudar as espécies a lidar com os efeitos da mudança climática é “urgentemente necessário”, como também os esforços para parar as mudanças climáticas.

O Maciço do Monte Branco, parte dos Alpes Europeus. Foto por Gnomefilliere (trabalho próprio) GFDL ou CC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons.

No estudo, os gafanhotos apresentaram resultados melhores do que as borboletas e plantas vasculares. Isso talvez porque os gafanhotos conseguem viajar longas distâncias rapidamente, explicou Wessely, ou talvez porque as larvas não são tão exigentes quanto ao que elas comem.

Os pesquisadores também perceberam que, no modelo, algumas estratégias foram mais eficientes do que outras. O manejo de áreas protegidas, como parques e reservas, e a criação de corredores para conectar habitats proveem lares mais adequados do que a restauração parcial de habitats fragmentados, a qual eles denominam “melhoria de matriz de paisagem”.

“No entanto, nenhuma das estratégias de conservação avaliadas foi capaz de compensar completamente pelo impacto negativo das mudanças climáticas sobre plantas vasculares, borboletas ou gafanhotos na Europa Central”, escreveram os autores.

O estudo observou os efeitos da mudança climática em 51 espécies de borboletas, gafanhotos e plantas vasculares na Europa Central. Foto por Rhett A. Butler / Mongabay.

Espécies alpinas, aquelas que vivem em áreas de montanhas, podem enfrentar um caminho particularmente difícil para sobreviver diante das mudanças climáticas, de acordo com a pesquisa. Os autores afirmam que em parte isso ocorre porque poucas dessas espécies podem sobreviver em ambientes de mata densa, então, para criar ambientes viáveis para elas, nós teríamos que adotar medidas contra intuitivas – e emissoras de carbono – de desmatar florestas que em grande parte são naturais.

Criticamente, a conservação do habitat não impediu que algumas espécies de terras baixas e espécies alpinas desaparecessem completamente da região.

“Para as espécies que foram extintas, nós observamos um ligeiro atraso (devido a um aumento em sua distribuição, em comparação com o cenário convencional), mas sem reversão da tendência de morte”, disse Wessely. “Uma implicação é que é muito importante identificar espécies ameaçadas para desenvolver estratégias de conservação específicas para elas”.

CITAÇÃO

Wessely, J., Hulber, K., Gattringer, A., Kuttner, M., Moser, D., Rabitsch, W., … Essl, F. (2017). Habitat-based conservation strategies cannot compensate for climate-change-induced range loss. Nature Clim. Change, advance online publication. Retrieved from http://dx.doi.org/10.1038/nclimate3414

Imagem da faixa de uma borboleta por John C. Cannon.

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