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Extinção em massa recente está causando ‘extermínio biológico’, aponta novo estudo

  • Com base em uma pesquisa, na qual mostra que, ao longo deste século, duas espécies tornam-se extintas por ano, uma equipe de biólogos analisou a evolução demográfica de 27,600 vertebrados ao redor do mundo.

  • Eles concluíram que aproximadamente um terço dos animais que foram pesquisados encontram-se em declínio.

  • Em uma pesquisa mais detalhada sobre 177 espécies de mamíferos bem conhecidas, a equipe concluiu que todas perderam 30 por cento ou mais de extensão, e 40 por cento das espécies perderam ao menos 80 por cento de seu habitat.

Redução de habitats, caça e mudança climática são apenas algumas das alterações ao planeta Terra provocadas pelo homem, em que biólogos afirmam estar levando o planeta a sua “sexta extinção em massa.” Pesquisas mostram que estamos perdendo duas espécies de animais vertebrados por ano – um ritmo muito parecido com o dos outros cinco casos de extinção na Terra, incluindo o mais recente que aniquilou os dinossauros em torno de 66 milhões de anos atrás.

Entretanto, a onda de tensão sob a vida está muito longe da crescente lista de animais com risco de extinção e mais perto da beira da extinção, de acordo com um novo estudo. Este ‘extermínio biológico’ está, na verdade, dizimando populações de milhares de outras espécies e, potencialmente, ameaçando nosso próprio estilo de vida, uma equipe de biólogos fizeram um relato online na segunda-feira à revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

Perda de habitat e a caça têm levado alguns animais, como a espécie ameaçada de extinção, Gorila-das-montanhas (Gorila beringei beringei), representada na imagem à cima na República do Congo, à beira da extinção. Imagem: John C. Cannon.

“Nós temos que ser muito cuidadosos para não sermos alarmistas, por outro lado”, disse Gerardo Ceballos, um biólogo na Universidade Nacional Autônoma de México e autor principal do estudo. “Mas, agora, o problema é muito grande e muito abrangente, a magnitude é imensa, não referi-lo adequadamente seria irresponsável”.

A perda de aproximadamente 200 espécies por século pode não parecer grande coisa pelos olhos da vida útil de uma pessoa, porém é mais que 100 vezes mais rápido do que a história estima, de acordo com o estudo de 2015 conduzido por Ceballos. Ele explicou que sob ‘circunstâncias normais’ pode ter levado até 10.000 anos para que tantos tenham desaparecido.

A equipe também suspeitou que essa perda total de espécies pode estar encobrindo um problema maior, em que populações distintas estão desaparecendo, portanto, eles decidiram olhar além dos animais classificados como ameaçados de extinção pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza). Para ter uma ideia de como a extensão dos animais – e, consequentemente, suas populações – estão mudando, eles estudaram uma amostra de 27.600 espécies de vertebrados, que são dificilmente metade das espécies de temos conhecimento de existir.

Os pesquisadores descobriram que as populações de quase um terço desses animais nessa amostra estão em decadência. Quanto aos números exatos, os mapas do estudo mostram que, talvez, metade do número de animais individuais que um dia já habitaram a Terra com os humanos desapareceram – um perda que se iguala a bilhões.

O Orangotango-de-bornéu (Pongo pygmaeus) ameaçado de extinção, aqui na Malásia, também está lutando o quanto pode para a permanência em seu habitat, que foi tomado por agricultura humana. Imagem: John C. Cannon.

A equipe também estudou em sua pesquisa a população de 177 espécies de mamíferos bem conhecidas para ver como elas estão desde 1900. Eles detectaram que cada uma das espécies perderam ao menos 30% de seu habitat, e por volta de 40% destes mamíferos perderam 80% ou mais de sua extensão.

A área dos leões (Panthera leo) por exemplo, tem sido reduzida em até um terço do que era, de acordo com o estudo, e seu número diminuiu até 43 % desde 1993.

Enquanto eles estudavam os resultados de sua análise, eles encontraram que “a história fica mais complicada ainda”, afirmou Ceballos.

Algumas áreas geográficas realmente tornaram-se pontos principais em relação aos altos índices de perda de população – as florestas tropicais do sul da Ásia foram especialmente afetadas, por exemplo. Poucos lugares em torno do planeta não foram alterados.

“Está em todo lugar”, afirmou Ceballos, “em qualquer lugar”.

O leão Africano (Panthera leo) está incluso na lista como vulnerável pela IUCN, porém os números têm caído em 43% desde 1993. Imagem: John C. Cannon.

Os trópicos estão vivenciando os mais altos números de população extinta, ele disse; o que é esperado, pois neles contêm a maioria das espécies. Entretanto, os pesquisadores também encontraram que regiões temperadas estão enfrentando perdas que são igualmente altas, se não mais altas.

E a dizimação está em todas as classes de vertebrados, acrescentou Ceballos.

“Isto está afetando tudo, do grande ao pequeno, do comum ao raro, de mamíferos a anfíbios.”

Enquanto continuamos a perder esses componentes fundamentais do ecossistema, no qual dependemos, os relatores aconselham que continuar nessa trajetória irá, sem dúvidas, afetar nossa própria espécie. Eles afirmam que “a capacidade da Terra de suportar vida, incluindo a vida humana, foi ajustada pela própria vida”.

A agricultura, a base da subsistência humana, depende diretamente de pássaros, mamíferos e insetos para a polinização e controle de pestes, ressaltou o co-autor e biólogo da Universidade de Stanford, Paul Ehrlich, em uma entrevista via vídeo para o Woods Institute for the Environment.

“É importante reconhecer que a perda de espécies é ruim e irreversível”, afirmou Ehrlich. “Perder populações e individuais de populações está destruindo nosso mecanismo de sobrevivência”.

Tempo é essencial, concluíram os pesquisadores. Eles dizem que nós temos no máximo duas ou três décadas para corrigir isso.

Ceballos focou nos elefantes da savana africana (loxodonta africana) e nos resultados da pesquisa do the Great Elephant Census.

“Nós perdemos 30% da população dos elefantes em sete anos”, afirmou. “Se esse índice continuar a cair nós iremos perder a maioria deles em duas décadas.”

É importante perceber que elefantes – ou qualquer uma das espécies ou populações afetas pela sexta extinção em massa – não serão os únicos prejudicados, acrescentou Ceballos; se não resolvermos problemas como a mudança climática e perda de habitat.

“O que está em jogo é a continuidade da civilização como conhecemos”, afirmou. “Não há possibilidades de manter a prosperidade humana ao nível que conhecemos se não levarmos estas questões a sério”.

REFERÊNCIAS

O vídeo foi cortesia da Stanford Woods Institute for the Environment.

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