O estudo identificou a maior concentração de biodiversidade filogenética, funcional e de espécies da Terra e determinou quão bem a rede atual de áreas protegidas abrange essas dimensões.
As três facetas da biodiversidade se sobrepõe em apenas 4.6 por cento do território na Terra, com apenas 1 por cento sob proteção.
A pesquisa aponta áreas que poderiam ser priorizadas para maximizar a quantidade de biodiversidade única protegida.
Determinar onde criar parques, reservas e outras áreas protegidas tipicamente envolve procurar por locais com altas densidades de espécies diferentes de animais. Mas, de acordo com um novo estudo global, essa abordagem é insuficiente para proteger a biodiversidade dos mamíferos.
A pesquisa faz parte de um crescente número de evidências que destacam a necessidade de uma visão mais ampla de biodiversidade além da quantidade de espécies que vivem em uma área específica; uma que leva em consideração a variedade de histórias evolutivas e as maneiras com que cada animal opera em um ecossistema. Conhecidas como diversidade “filogenética” e “funcional”, respectivamente, estas “dimensões” da biodiversidade, juntamente com o número de espécies, devem ser consideradas no planejamento de conservação efetiva, disse Fernanda Brum, uma bióloga das universidades Federal de Goiás e Federal do Rio Grande do Sul, ambas no Brasil.
“Quando estamos selecionando áreas baseado na riqueza de espécies, não podemos assumir que estamos obtendo essas outras coisas”, disse Brum, a autora principal do estudo a ser publicado no jornal acadêmico Procedimentos das Academias Nacionais de Ciências.
“As atuais redes de áreas protegidas não estão localizadas nos melhores lugares para obter essas diferentes dimensões”, ela adicionou.
Brum e seus colegas têm procurado por meios em que os humanos influenciam na diversidade filogenética e funcional, levando-os a considerar se configurações de parques e outras áreas de conservação existentes servem como citadelas para todo o espectro de biodiversidade.
Para responder a esta pergunta, eles mapearam os locais dessas diferentes facetas da biodiversidade. Eles identificaram o habitat de mais de 4.500 mamíferos. Também procuraram os locais de 14 características distintas dos mamíferos – aspectos da biologia dos mamíferos como suas dietas, períodos de vida e densidades populacionais, que ajudaram a determinar o papel funcional de um animal no ecossistema.
Para o componente evolucionário, eles pontuaram os mamíferos em suas relações entre si usando “árvores” filogenéticas. Animais localizados em ramos mais distantes de outros representam a maior quantidade de história evolutiva única.
Então, eles compararam os locais com as maiores concentrações das dimensões de biodiversidade, focando nos 17 por cento superiores de cada uma. A edição de 2011 da Convenção da Biodiversidade Biológica em Aichi, Japão, estabeleceu 17 por cento como o objetivo da área da Terra a ser protegida até 2020.
Várias regiões tiveram níveis previsivelmente altos de todos os três tipos de biodiversidade, como a Amazônia e Papua Nova Guiné. Mas, globalmente, a equipe descobriu que as áreas prioritárias para diversidade filogenética, funcional e de espécies eram bastante distintas.
Na verdade, todos os três aspectos se sobrepuseram em apenas 4.6 por cento da superfície da Terra.
“Isso é exatamente o que esperamos”, disse Oliver Wearn, um ecologista da Sociedade Zoológica de Londres que não estava envolvido na pesquisa. “Os condutores de riqueza de espécies, singularidade filogenética e singularidade funcional são todos diferentes, então esperamos que os padrões sejam diferentes.”
Quando os pesquisadores compararam estas áreas com o atual conjunto de áreas protegidas de acordo com a IUCN e o Programa Ambiental da ONU, o número foi ainda mais baixo. Apenas 1 por cento das áreas globais protegidas atualmente contém todas as três facetas da biodiversidade.
“Este resultado mostra um desafio para o planejamento de conservação”, Brum disse. “Se realmente queremos obter a maior quantidade de facetas da biodiversidade possível, como faremos isso?”
As lacunas recentemente identificadas na cobertura de áreas protegidas são um ponto de partida, disse ela. Com apenas 14 por cento da área global de terra atualmente protegida, a adição dos 3.6 por cento não-protegidas poderia facilitar o cumprimento da Meta de Aichi de proteger completos 17 por cento da superfície da Terra.
“Eles consideraram o fato de que você não vai querer conservar, por exemplo, a mesma espécie, ou o mesmo espaço funcional, duas vezes”, Wearn disse. “Eu não acho que isso tudo junto já tenha sido feito antes.”
Agora, o desafio é incorporar outras considerações críticas, ele disse.
“Incorporar os custos de oportunidade de estabelecer áreas protegidas seria um grande próximo passo”, Wearn disse, adicionando que seria importante identificar os locais com necessidade de proteção mais urgente, como as florestas do Sudeste da Ásia ou Madagascar.
Este estudo reflete apenas um aspecto que determina quais espaços devem ser conservados, Brum disse.
“O estabelecimento de uma área protegida trata-se mais de uma decisão política do que biológica”, ela disse. “Existem problemas socioeconômicos, conflitos com atividades econômicas; é necessária vontade política de proteger o lugar, então é mais difícil do que apenas incorporar informações biológicas.
“É apenas um mapa de partida para olhar para estes lugares e ver o que acontece lá, por quê isso é tão importante e quais possíveis conflitos podem ocorrer nestes lugares.”
CITAÇÕES
- Brum, F. T., Graham, C. H., Costa, G. C., Hedges, S. B., Penone, C., Radeloff, V. C., … & Davidson, A. D. (2017). Global priorities for conservation across multiple dimensions of mammalian diversity. Proceedings of the National Academy of Sciences, 201706461.
Imagem do banner de guepardos na Tanzânia por John C. Cannon.