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Estudo descobre que centenas de milhares de espécies tropicais estão sob risco de extinção por causa do desmatamento

  • Há tempos, cientistas acreditam que a taxa de destruição das florestas tropicais e do habitat por elas representados pode levar a um evento de extinção global em massa, mas ainda não é possível apreender totalmente a extensão das perdas potenciais.

  • John Alroy, professor de ciências biológicas na Universidade Macquarie, na Austrália, examinou dados ecológicos em escala local a fim de prever potenciais taxas de extinção global e descobriu que centenas de milhares de espécies estarão sob risco se o homem alterar todas as florestas intactas remanescentes nos trópicos.

  • Em outro estudo, Alroy afirma que extinções em massa ocorrerão principalmente em florestas tropicais, pois a biodiversidade da Terra se concentra intensamente nesses ecossistemas.

Um estudo de 2015 descobriu que a atividade humana está causando perda de espécies a uma taxa cem vezes mais alta do que a dos níveis basais históricos – uma estimativa que os pesquisadores reponsáveis pelo estudo consideram conservadora. Essa descoberta alimenta a suposição de que estejamos testemunhando um a sexto evento de extinção global em massa.

Nova pesquisa publicada nos Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) traz evidências de que, mesmo que ainda não tenhamos entrado em uma sexta era de extinção em massa em escala global, tal situação pode ser iminente.

John Alroy, professor de ciências biológicas na Universidade de Macquarie, na Austrália, examinou dados ecológicos em escala local a fim de prever potenciais taxas de extinção global, e descobriu que centenas de milhares de espécies estarão sob risco caso o homem altere todas as florestas intactas remanescentes nos trópicos.

“Essas alterações não significam pouca coisa, pois dois terços a três quartos de todas as espécies do mundo estão nas florestas tropicais, mesmo que estas ocupem apenas cerca de dez por cento de toda a área continental da Terra”, disse Alroy em pronunciamento.

Há tempos, cientistas acreditam que a taxa de destruição das florestas tropicais e do habitat por elas representado pode levar a um evento de extinção global em massa, mas ainda não se pode precisar a extensão das perdas potenciais.

Em outro estudo, Alroy afirma que extinções em massa ocorrerão principalmente nas florestas tropicais, pois a biodiversidade da Terra se concentra intensamente nesses ecossistemas. Para examinar a severidade dos possíveis impactos, ele aplicou um método altamente preciso para estimar riqueza de espécies sobre dados de 875 amostras ecológicas de árvores e dez outros grupos de organismos “de grande interesse ecológico”, incluindo morcegos, insetos (formigas, borboletas, mosquitos e escaravelhos), mamíferos grandes e pequenos e outros vertebrados (aves, rãs e lagartos). As amostras foram coletadas em vários tipos de habitat em zonas tropicais originalmente coberta por floresta, desde matas primárias e fragmentadas até plantações e pastagens.

“Cerca de 41% das espécies de árvores e animais no conjunto de dados estão ausentes nos habitats alterados, mesmo que a maior parte das amostras ainda represente florestas de algum tipo”, escreve Alroy em seu estudo.

Imagem: Alroy, J. (2017). doi:10.1073/pnas.1611855114

Alroy estima que, se as florestas tropicais remanescentes forem completamente alteradas, mais de 18% das espécies serão perdidos em todos os grupos estudados, exceto entre os grandes mamíferos e os mosquitos. Sete dos grupos examinados perderão mais de 28% de suas espécies. Árvores, por exemplo, perderiam até 30% de espécies, enquanto formigas poderiam perder até 65%.

“A conclusão geral da pesquisa é a de que qualquer perda substancial de floresta primária resultará em numerosas extinções em muitos grupos”, diz Alroy. Ele acrescenta que há fortes razões para considerar suas estimativas como conservadoras, e que o impacto total das atividades humanas sobre a sobrevivência das espécies poderá ser mais severa do que ele prediz: “Mesmo que preservemos florestas de algum tipo em muitos locais, a menos que as protejamos de sofrer qualquer desmatamento, elas podem acabar ficando vazias”.

As descobertas de Alroy também sugerem que muitas espécies tropicais raras podem já ter desaparecido. “O ponto mais importante, no entanto, é que muitas espécies podem já ter sido extintas por ter tido seus habitats totalmente desmatados”, escreve ele em seu estudo. “Além disso, muitas espécies que habitam florestas intactas podem ter se extinguido por causa de fatores não relacionados à destruição do habitat, como caça, interação com espécies invasoras, introdução de epidemias, poluição e efeitos diretos da mudança climática”.

Alroy acrescenta que, dada a velocidade de desmatamento nos trópicos, é “concebível que um evento na escala de uma verdadeira extinção em massa já esteja ocorrendo” e que tais perdas simplesmente tenham passado despercebidas pela humanidade.

“Pode ter acontecido uma extinção em massa bem debaixo de nossos narizes, pois simplesmente não sabemos muito sobre várias espécies raras, que são as mais vulneráveis à extinção”, diz Alroy. “Para saber se isso é real, é preciso muito mais trabalho de campo nos trópicos. A hora de fazer isso é agora”.

Há razão para ter esperança de ainda podermos prevenir uma perda de vida em escala tão grande. Pesquisas anteriores mostram que proteger 50% da área terrestre do planeta é mais ou menos o nível mínimo para assegurar a saúde dos ecossistemas e, assim, a manutenção da vida na Terra. Esse conceito, muitas vezes chamado de “a Natureza precisa de metade”, é amplamente considerado não apenas válido, mas até mesmo tímido, por conservacionistas. Na realidade, um estudo publicado no mês passado sugere que, embora muitas funções dos ecossistemas já tenham sido comprometidas pela atividade humana, ainda podemos alcançar o objetivo de proteger 50% por meio do aumento dos esforços de conservação e a priorização dos habitats mais cruciais para a preservação da biodiversidade.

Uma onça (Panthera onca). Segundo nova pesquisa, grandes mamíferos podem perder mais de 10% de espécies caso as florestas tropicais sejam totalmente alteradas. Foto: Rhett Butler..

CITAÇÕES

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