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Carne estragada e deflorestação ilegal: os escândalos da maior produtora de carne do Brasil

  • Em 17 de março, agentes da Polícia Federal brasileira infiltraram instalações pertencentes à JBS e à outra gigante processadora de alimentos, a BRF, assim como várias empresas menores.

  • A blitz foi a culminação de uma investigação que ocorreu por dois anos, a “Operação Carne Fraca”, um suposto esquema em que a JBS, BRF, e outras empresas estavam subornando oficiais do governo a fazer vista grossa enquanto carnes bovinas e suínas estragadas e infectadas com salmonela eram vendidas e exportadas.

  • Apenas quatro dias depois de suas plantas serem invadidas como parte da sonda contra corrupção, a JBS se encontrou em meio a outro escândalo. Em 21 de março, como parte de uma operação de três anos com o nome de “Carne Fria”, a agência de proteção ambiental do Brasil, o Ibama, infiltrou duas instalações da JBS no estado do Pará que tinham sido acusadas de comprar milhares de cabeças de gado criadas ilegalmente em áreas desmatadas da Amazônia.

No mês de março a maior produtora de carne do mundo, a empresa brasileira JBS, esteve envolvida em não apenas um, mas dois grandes escândalos.

Em 17 de março, agentes da Polícia Federal brasileira infiltraram instalações pertencentes à JBS e outra gigante processadora de alimentos, a BRF, assim como várias empresas menores. A blitz foi a culminação de uma investigação que ocorreu por dois anos, a “Operação Carne Fraca”, um suposto esquema em que a JBS, BRF, e outras empresas estavam subornando oficiais do governo a fazer vista grossa enquanto carnes bovinas e suínas estregadas e infectadas com salmonela eram vendidas e exportadas.

De acordo com o New York Times, 33 inspetores federais estão sendo investigados por aceitar suborno para ignorar a adulteração e expiração de carnes processadas e falsificar permissões sanitárias. Exportações de 21 plantas embaladoras de carne também foram suspensas.
A confiança no setor agropecuário do Brasil levou um grande baque, com vários mercados-chaves de exportação, incluindo China, União Europeia, Japão e México, anunciando proibições ou restrições sobre as importações de empresas processadoras de carne brasileiras (algumas das quais já foram levantadas).

Como resultado, a exportação de carne brasileira caiu para apenas $74.000 em 21 de março, uma redução drástica comparada com a média diária de março de $63 milhões. A JBS respondeu em um anúncio em 27 de março que estava interrompendo a produção de carne em 33 de suas 36 plantas, embora a empresa afirmar que planejava retomar o funcionamento das usinas a uma capacidade de dois terços na semana seguinte.

Ambas JBS e BRF negaram qualquer irregularidade.

Apenas quatro dias depois de suas plantas serem invadidas como parte da sonda contra corrupção, entretanto, a JBS se encontrou envolvida em outro escândalo. Em 21 de março, como parte de uma operação de três anos com o nome de “Carne Fria”, a agência de proteção ambiental do Brasil, o Ibama, infiltrou duas instalações da JBS no estado do Pará que tinham sido acusadas de comprar milhares de cabeças de gado criadas ilegalmente em áreas desmatadas da Amazônia.

Gado pastando em área desmatada no Brasil. Foto por Rhett Butler.

Investigadores do Ibama disseram que foi determinado que as duas usinas da JBS haviam comprado cerca de 59.000 vacas de operações de pecuária localizadas em 507 quilômetros quadrados de terra que estão sob embargo devido à deflorestação ilegal na área. Cerca de 90 por cento do gado criado na área foi para usinas da JBS, reportou Climate Home enquanto o restante foi para outras 13 processadoras menores.

A JBS negou as alegações em uma declaração emitida pelo porta-voz da empresa Cameron Bruett: “A JBS não tem comprado e não adquiriu nenhum animal de fornecedores da lista de áreas embargadas pelo IBAMA. A JBS prioriza as questões de desmatamento e sustentabilidade, como evidenciado pelo sofisticado sistema de monitoramento via satélite de fornecedores de gado que utilizamos para verificar a conformidade com os padrões ambientais e sustentáveis da JBS. Nossas três últimas auditorias independentes resultaram em taxas de conformidade social e ambiental de mais de 99.9 por cento. Qualquer fornecedor encontrado em não-conformidade com nossos padrões rigorosos é imediatamente bloqueado de nosso sistema interno e inelegível para vender gado à empresa”.

Em resposta ao segundo escândalo envolvendo a JBS no período de uma semana, a ONG ambiental Greenpeace afirmou que iria suspender imediatamente quaisquer negociações com a empresa. O grupo disse em uma declaração que a compra de gado de áreas desmatadas ilegalmente é um crime ambiental e que as alegações do governo contra a JBS constituem uma violação do “Termo de Ajuste de Conduta” estabelecido em 2009 entre o Ministério Público do Brasil e 69 empresas, incluindo a JBS.

A JBS também assinou voluntariamente o Compromisso Público da Pecuária, notou o Greenpeace, o que significa que a empresa se comprometeu a assegurar que suas fontes de matéria prima não estivessem envolvidas em qualquer tipo de desmatamento, trabalho escravo ou invasão de terras indígenas e áreas protegidas.

“O Greenpeace considera as acusações contra a JBS extremamente sérias, portanto estamos suspendendo negociações com a empresa até que seja provado que a carne não tenha nenhum envolvimento com desmatamento, trabalho escravo e conflitos com terras indígenas e áreas protegidas”, Tica Minami, diretor do Greenpeace Brasil na Amazônia, disse em uma declaração.

Mosaico de campos de soja, reservas florestais e pastagens de gado na Amazônia brasileira. Foto por Rhett Butler.

Um relatório feito pela Chain Reaction Research publicado no ano passado descobriu que a pecuária não é apenas um dos principais agentes de deflorestação na América do Sul, mas o agente principal. No Brasil, Colômbia, Equador e Peru, por exemplo, mais de 70 por cento de todo o desmatamento está ligado à indústria pecuária.

Este número é ainda mais alto no Brasil. O país possui o maior rebanho de gado comercial do mundo e produz mais carne bovina do que qualquer outro país amazônico — e de acordo com o relatório, a criação de gado representou mais de 80 por cento do desmatamento ocorrido no Brasil entre 1990 e 2005.

Apesar de seu grande papel como condutora do desmatamento da Amazônia, a indústria pecuária fez progressos relativamente pequenos na obtenção de cadeias de suprimento sustentáveis em comparação com produtores de outros commodities como soja e óleo de palma. Marcio Nappo, diretor de sustentabilidade da JBS, contou ao Mongabay no início do mês de março que as complexidades da cadeia de suprimentos da pecuária dificultam a erradicação de vínculos com o desmatamento e abusos de direitos humanos. A transparência da cadeia de suprimentos é particularmente difícil para a indústria pecuária, ele disse, porque o gado pode passar de mãos em mãos várias vezes antes de serem direcionados a uma das plantas da JBS.

“Eu não posso controlar minhas matérias-primas; é um puro mercado de commodities, impulsionado pelo preço”, disse Nappo. “Eu não faço ideia de quem será meu fornecedor amanhã”.

Funcionários da JBS contaram aos correspondentes do Mongabay Sue Branford e Mauricio Torres, cuja série de 12 partes para o Mongabay em colaboração com The Intercept Brazil foca em numerosas ameaças à Amazônia, que a “lavagem de gado”, na qual os proprietários de gado movem os animais criados em áreas ilegais para pastagens que não estão sob embargo antes de levá-los para o matadouro, tornou-se uma tática comum para contornar os compromissos feitos pelas embaladoras de carne no Compromisso Público da Pecuária de 2009.

Os fazendeiros são certamente um dos laços fracos nas tentativas de obter uma cadeia de suprimentos sustentável para produtos pecuários que saem do Brasil. De acordo com uma análise, apenas alguns dos fazendeiros do país, cujas participações combinadas constituem uma “pequena fração” de um por cento do pasto total do Brasil, receberam certificação através de um sistema criado pela Rede de Agricultura Sustentável para incentivar a adoção de práticas de pecuária sustentáveis.

Gado no Brasil. Foto por Rhett Butler.

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