Um tsunami de desenvolvimento de infraestrutura está colocando ecossistemas globais, vida selvagem e indígenas em risco; com 25 milhões de quilômetros de novas estradas planejadas até 2050, sendo a maior parte nos países emergentes. Acrescente a isso dutos, centenas de barragens na Amazônia, em Mekong e em outros sistemas fluviais, com sua eletricidade geralmente utilizada por projetos de megamineração.
Como no passado, essa maré de construções tem sido fortemente apoiada por governos nacionais, beneficiando largamente a indústria e investidores internacionais, geralmente a custo de indígenas, comunidades rurais, selva e habitat.
Muitos conservadores que estão tentando mitigar o dano de projetos mal concebidos, ou ainda tentando cancelá-los, estão confiando fortemente na mídia a fim de atingir seus objetivos. Existe um precedente para tal estratégia: a cobertura da mídia tem historicamente mostrado um papel crucial em frear alguns projetos internacionais ambiciosos de megainfraestrutura.
Como o desenvolvimento da infraestrutura acelera rapidamente, os ambientalistas atuais estão utilizando todas as ferramentas midiáticas possíveis a seu favor – desde os tradicionais jornais e TV, bem como o Twitter, Facebook, blogs e You Tube – como forma de chamar a atenção para projetos de infraestrutura precariamente projetados, além de informar e engajar o grande público.
Vivemos atualmente a era mais explosiva no desenvolvimento de infraestrutura na história da humanidade. Até meados do século, uma proporção sem precedente na construção de estradas, barragens, minas e usinas, junto com o crescimento urbano, modelará todo o globo em concreto. Possivelmente, a guinada das atividades melhorará milhares de vidas. No entanto, isso está acontecendo às custas de um terrível custo para o mundo natural, uma vez que perdemos florestas tropicais, estuários, pântanos, selvas e indígenas do nosso planeta.
Nas ultimas décadas, a grande onda de desenvolvimento de infraestrutura – e danos ambientais – que havia predominantemente dominado paisagens nos Estados Unidos e na Europa, agora devasta toda África, Ásia e América Latina.
Além disso, campanhas ambientais transnacionais têm surgido para minimizar estragos, projetos habitacionais e suporte aos indígenas. Tais defensores – tipicamente superados e bancados por desenvolvedores corporativos – têm trabalhado cuidadosamente para eliminar projetos com potencial de alto risco ou mitigar seus efeitos negativos.
Centralizar nas campanhas de proteção ambiental de maior sucessor tem ocasionado uma relação próxima com a mídia. Entretanto, o quanto tem sido importante o papel da mídia?
“A mídia é essencial para ‘apresentar ao mundo’ a infraestrutura mal concebida – ela é a conexão-chave entre os cientistas estudando tais problemas, os tomadores de decisão e o público em geral”, Bill Laurance, professor pesquisador emérito na Universidade James Cook da Austrália, comentou à Mongabay.
Com frequência, os cientistas estão sendo essencialmente ignorados por idealizadores de projetos e tomadores de decisão, mas tal fato fica ainda mais difícil para eles se a mídia não conseguir jogar um holofote sobre um projeto e mostrar por que se trata de uma má ideia do ponto de vista ambiental, social ou econômico”, disse Laurance.
O megafone da mídia em execução
Laurance fala por experiência: ele ofereceu centenas de entrevistas para centrais de mídia a fim de divulgar os potenciais custos ambientais para a Amazônia brasileira do projeto Avança Brasil – um governo propôs 40 bilhões de dólares de investimento entre 2000 e 2020 em uma avalanche de novas estradas, barragens, estações elétricas e dutos e outras infraestruturas, que poderia ter entrelaçado a Amazônia brasileira e abri-la para posterior exploração e urbanização.
“Tal fato tornou-se uma grande controvérsia no Brasil e internacionalmente e, por fim, o governo foi forçado a conduzir uma grande revisão interministerial, a qual recomendava o cancelamento de um determinado número de projetos considerados perigosos”, disse Laurance.
Ele também apontou para outros projetos cancelados mais recentemente, como a rede de estradas Ladia Galaska, em Sumatra, e a rodovia Serengeti, na Tanzânia – projetos prejudiciais ao meio ambiente, os quais ele acredita que a mídia teve um papel crucial em educar o público.
John Reid, fundador da ONG Conservation Strategy Fund, concorda que os jornalistas estão em uma posição única que permite serem peças-chave para campanhas bem-sucedidas contra projetos de infraestrutura insensatos.
“Advogados ambientais, cientistas e analistas independentes não têm os milhões de dólares que os desenvolvedores de projetos podem empregar em estudos para defender os projetos. Obter a verdade para um vasto leque de contribuintes, consumidores de eletricidade, legisladores e pessoas potencialmente afetadas é algo que só a mídia pode fazer”, disse ele.
A evidência de tal sucesso, ele observou, foi clara em relação a vários projetos, incluindo a expansão do Canal do Panamá, a BR-319 road no Brasil e a barragem de Bala na Bolívia.
“A mídia muitas vezes alerta o público de que esses projetos estão acontecendo, o período e, além disso, o fato de receber cientistas independentes, economistas e ativistas para serem ouvidos”, disse Reid.
A força arrasadora da infraestrutura
A necessidade de uma consciência mais ampla de um público maior sobre os projetos de infraestrutura em larga escala e de alto risco ambiental nunca foi tão grande.
Mundialmente, mais de 25 milhões de quilômetros de novas estradas estão projetados até 2050, o que é suficiente para dar mais de 600 voltas em torno do planeta. Nove em dez serão construídas em países emergentes e em muitas regiões com biodiversidade e ecossistemas excepcionais protegidos.
A proliferação de barragens projetadas em pontos de biodiversidade global é, da mesma forma, assombrosa. Atualmente, os planos preconizam a barragem de cinco dos seis maiores afluentes nutrindo o rio Amazonas, por exemplo, com mais de 150 novos projetos hidroelétricos demarcados para construção para os próximos 20 anos. No outro lado do globo, ao menos 27 barragens já estão planejadas para a ramificação principal do rio Mekong.
Muitas das barragens propostas estão sendo construídas para produzir energia elétrica a projetos gigantes de mineração. A insaciável gana pelo ouro do mundo desenvolvido, elementos de terra raros, diamantes, zinco, ferro e cobre tem resultado em uma corrida para minerar os últimos lugares selvagens do mundo. A mina de Orinoco proposta na Venezuela, por exemplo, poderá impactar aproximadamente 112.000 quilômetros quadrados da selva do pais, predominantemente florestas tropicais.
Como no passado, essa grande onda de construções está retornando com força total por governos nacionais, beneficiando principalmente a indústria e os investidores internacionais, muitas vezes a custo de indígenas, comunidades rurais, vida selvagem e habitat.
No entanto, muitos conservadores esperam que serão capazes de mitigar os prejuízos de projetos mal concebidos ou, ainda, vê-los cancelados – e a mídia certamente será importante para tais objetivos. De fato, existe um precedente para essa esperança: a cobertura da mídia tem desempenhado um papel histórico como elemento-chave para restringir alguns dos projetos de megainfraestrutura internacionais mais ambiciosos do mundo.
Em meados de 1890, o Banco Mundial pela primeira vez interrompeu pagamentos em empréstimos devido a problemas ambientais e ameaças às populações indígenas locais. O projeto Polonoroeste de 1,5 bilhões de dólares foi estabelecido para asfaltar 1.500 quilômetros de rodovias atravessando o coração da bacia amazônica, com investidores bancando uma campanha publicitária em prol de uma grande rodovia para engajar as pessoas na causa.
Entretanto, tal campanha deparou-se com um paredão de intensas críticas locais e internacionais de grupos de causas ambientais e indígenas, com o advento da exposição da mídia dando ainda mais força aos protestos e ressaltando os riscos apresentados pelo projeto. Em março de 1985, o banco suspendeu seu financiamento.
“Muitas vezes, a atenção da mídia é o que de fato amplifica a conscientização do cidadão sobre um projeto”, comentou Susan Park à Mongabay.
Park, professora adjunta de Relações Internacionais da Universidade de Sidney, autora de um livro sobre as interações entre o Banco Mundial e os ambientalistas, aponta especificamente para investigar relatos no New York Times e no 60 Minutes que mostraram como os bancos estavam financiando a destruição da Amazônia. Ela indicou a má publicidade como o fator principal para o recuo do financiamento.
O programa 60 Minutes “foi o evento definitivo nos Estados Unidos. Isso resultou na criação do departamento ambiental no Banco Mundial. Na Europa, foi o filme documentário do [falecido produtor de filmes britânico] Adrian Cowell que foi crítico, do que apenas uma cobertura da imprensa”, disse Philip Fearnside, professor pesquisador do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia).
Fearnside apontou que embora suspendido o empréstimo, o projeto Polonoreste continuou até “o fim de sua vida útil”, com muitos quilômetros pavimentados. O projeto então foi seguido pelo projeto Planaflora, projetado para reduzir alguns dos impactos socioambientais causados pela construção da antiga rodovia. O desejo do Banco Mundial de financiar o projeto Planaflora como um projeto substitutivo “se deve muito à mídia” pela sua exposição de impactos negativos da Polonoreste, disse Fearnside.
O Banco Mundial, todavia, conta uma história diferente. Ele minimiza o papel da mídia em deter os pagamentos bancários para o projeto Polonoreste, e diz que outras razões governam a decisão tomada em relação ao financiamento do projeto de infraestrutura no geral.
O Banco Mundial cancelou projetos quando vimos que eles poderiam de alguma forma afetar negativamente o desenvolvimento do pais. E o impacto do desenvolvimento, não a cobertura da mídia, é a nossa maior preocupação”, comentou à Mongabay um porta-voz do Banco Mundial.
Seguindo um processo de revisão de quatro anos, o Banco Mundial aprovou em agosto uma nova estrutura ambiental e social.
“Essa estrutura impulsionará as proteções ao meio ambiente e aos mais pobres e vulneráveis em todo o mundo; direcionará o desenvolvimento sustentável por meio da capacitação – e fortalecimento institucional e controle nacional – além de um avanço na eficiência tanto para o mutuário quanto para o Banco”.
O papel da mídia local e da internet
Não é apenas a mídia internacional que apresenta um papel-chave em frear abusos ambientas em infraestruturas. Annina Aeberli, do Bruno Manser Fund, relata como insultos em redes sociais e jornais locais quando combinados durante o último ano resultaram no engavetamento do projeto da megabarragem de Baram, no estado Sarawak da Malásia.
A barragem, uma das doze do entorno que o governo estadual de Bornéu propôs, foi planejada para ser construída ao longo do rio Baram – o segundo maior da Malásia – e era para produzir por volta de 1.200 megawatts de eletricidade.
Enquanto oficiais do governo declararam que o projeto hidroelétrico poderia impulsionar oportunidades de investimentos em Sawawak, eles subestimaram o fato que isso poderia desalojar milhares de Dayaks, e degradar uma biodiversidade no entorno de 400 quilômetros do rio.
Na Malásia, onde boa parte da grande mídia é controlada pelo estado, as mídias sociais e os materiais on-line são geralmente ferramentas “muito importantes” para vociferar e disseminar críticas a respeito de projetos potencialmente perigosos, de acordo com Aeberli.
No caso dessa barragem, uma onda de críticas pela internet e redes sociais contra as políticas de desenvolvimento do governo malaio foram amplificadas ainda mais pelas mídias tradicionais. O jornal local Borneo Post, por exemplo, o qual geralmente não se apresenta crítico quanto ao governo, retratou a história. É muito provável que o relato teve a maior influência no projeto, sendo depois destruído ainda recentemente neste ano.
“Pelo Borneo Post, uma nova audiência, que não era ainda crítica quanto as políticas adotadas pelo governo Sarawak e seus respectivos projetos de infraestrutura, poderia ter sido alcançada. De repente, o grande público começou a escutar as críticas pela primeira vez através da mídia convencional”, explicou Aeberli.
Informando e influenciando
Cynthia Ong, diretora executiva da ONG ambiental Forever Sabah, comentou sobre outro engajamento estratégico com a mídia que se mostrou altamente eficaz na Malásia.
No rico estado ecológico de Sabah, na parte norte de Bornéu, planos para uma controversa usina a carvão foram sucateados em 2011 como consequência de uma coalizão ambiental local na qual a mensagem era amplificar localmente e além das fronteiras do país por meio de reportagens.
A coalizão das ONGs, incluindo a Forever Sabar (que tinha como foco o desenvolvimento sustentável), iniciou-se produzindo um argumento vencedor de relações públicas: as organizações argumentaram que as autoridades deveriam alterar os financiamentos e os focos em projetos de combustíveis fósseis para projetos de energia renovável a fim de melhor atender as necessidades elétricas do estado enquanto também protegem o ambiente. A coalizão então ganhou a cobertura da mídia regional, nacional e internacional a fim de direcionar a mensagem para todo o público.
“A mídia participou integralmente na campanha contra a usina a carvão. Este foi o meio primário para o [nosso] movimento informar, educar, conscientizar, mobilizar, politizar, construir apoios e eventualmente ganhar esta batalha”, Ong recordou.
“As várias formas com que a mídia forneceu uma plataforma multicamadas possibilitou nossa mensagem e histórias de campanha acessíveis a uma ampla parte do público, governo e formuladores de políticas”, comentou. A mídia, em suma, gerou uma inestimável publicidade gratuita, somando um alcance local e global para uma coalizão sem fins lucrativos que sentia falta de um acesso às onerosas empresas de relações públicas empregadas pela indústria e pelo governo.
Nesta “campanha histórica”, o movimento local utilizou grandes produtoras de notícias internacionais como forma de atrair a atenção da mídia alinhada ao governo regional. Em 2010, a revista Time publicou um artigo sobre a proposição da usina a carvão que era amplamente abordada pelas centrais de comunicações malaias.
Um jornal com influência local – visto como bem próximo ao governo – conduziu uma história que retratava o interesse da Time na usina a carvão, perguntando: “Como tamanho jornal internacional deste porte teve conhecimento sobre este problema? Se chamou a atenção deles, talvez teríamos que prestar atenção [também]”, Ong disse à Mongabay. Ela acrescentou ainda que a cobertura da mídia internacional também pode fornecer alguma proteção aos centros locais, que, em contrapartida, poderiam confrontar sanções do governo por relatar problemas de fundamental importância.
A cobertura internacional também teve outro impacto: uma coalizão local de ativistas era agora repentinamente vista pelo público geral como detentora de uma significativa influência e sendo parte de um “movimento ambiental poderoso”.
Jennifer Pinkowski, o jornalista por trás da história publicada na Time, acredita que as publicações internacionais podem ter um importante papel na apuração do perfil de projetos potencialmente danosos como o visto em Sabah. “Se a mídia local tem uma voz, grandes publicações internacionais tem um megafone”, comentou.
No entanto, ela apontou que pode ser difícil obter grandes publicações interessadas em cobrir projetos apresentando ameaças locais. “Ocorreu que muitas vezes aprendi sobre algumas histórias que precisavam ser contadas, mas era incapaz de colocá-las na grande mídia, uma vez que havia uma preocupação por parte do editor que, francamente, ninguém leria ou se preocuparia a respeito. Dessa forma, pode ser um esforço desanimador”, disse Pinkowski.
Com relação a usina de Sabah, ela notou que foi a ação dos ativistas locais que provocou em definitivo o cancelamento do projeto. “Tudo que fiz foi colocar os holofotes sobre o trabalho que estava sendo realizado pelos ativistas locais. O trabalho deles que cancelou a usina, não o meu”.
O motivador para banir a usina a carvão em Sabah havia tido um outro efeito na mídia local. “De certa forma, a campanha necessitava do despertar do jornalismo ambiental investigativo em Sabah”, relembrou Ong.
A campanha também demandou uma mídia sofisticada e entendida por parte dos ativistas: “Entender o cenário energético, político, governamental, os protagonistas do governo e os protagonistas corporativos, as dinâmicas, os sistemas de encerramento, as aberturas, para ser capaz de posicionar as histórias corretas nos movimentos corretos, foi crítico para o nosso sucesso”, explicou Ong.
Armadilhas da mídia
Apesar do papel positivo que a mídia tem tido em pressionar desenvolvedores de infraestrutura para explicar o déficit ambiental deles, Fearnside, do INPA, mencionou que este não é consistentemente o caso. “Historicamente, a cobertura da mídia tem sido, de fato, crucial… [mas] deve também ser dito que o interesse da mídia volúvel é temporário”, explicou, citando o trabalho jornalístico da Cúpula da Terra do Rio de 1992, das Nações Unidas (ECO-92), como evidência do interesse de curto prazo da mídia com relação aos problemas ambientais.
“Após uma maciça cobertura da mídia antes e durante o evento, o meio ambiente simplesmente sumiu da cobertura da mídia por um longo tempo, retornando de imediato ao fim do evento”, disse Fearnside.
O líder da campanha Global Witness, Billy Kyte, notou que enquanto a mídia é unicamente capaz de apresentar as “histórias humanas” na essência para impedir os projetos de infraestrutura, há também “custos reais” para os defensores ambientais que procuram a cobertura da mídia.
Por um lado, a causa dos “ambientalistas” pode ser levada mais a sério pelas autoridades, mas em contrapartida pode enfrentar uma reação do estado ou interesses corporativos que visam silenciá-los”, disse Kyte. Repetidas vezes, o ativismo ambiental – amplificado pela cobertura da grande mídia – tem provado ser um jogo perigoso para cidadãos que tentam bloquear projetos de megainfraestrutura como barragens ou rodovias.
Maxima Chaupe, uma ativista indígena peruana contra a mineração e vencedora do prêmio ambiental Goldman neste ano, teve sua casa metralhada dias após sua premiação. Em Honduras, outro ganhador do prêmio Goldman, uma ativista Lenca antibarragens, Berta Caceres, foi morta em março após ter sido colocada em uma lista militar para baixas. No último ano, a Global Witness documentou 185 mortes de defensores ambientais em 16 países – a mais alta taxa anual deste tipo já registrada.
“Defensores devem estar cientes dos potenciais riscos em procurar a cobertura internacional”, afirmou Kyte, sem rodeios.
Mudança no cenário
Enquanto a mídia tradicional no mundo desenvolvido tem diminuído em importância, a circulação de jornais e a receita com publicidade continua crescendo no mundo em desenvolvimento, especialmente em países com uma crescente classe média e baixa penetração de banda larga.
Novos modelos para financiar o desenvolvimento do jornalismo mundial que podem levar os poderosos a prestar contas, juntamente com o uso generalizado de mídias sociais para disseminar informações, levou a uma profunda mudança no equilíbrio de poder de comunicação entre os desenvolvedores de infraestruturas com acesso ostentoso à grande mídia e aos locais afetados pelos projetos de infraestrutura.
“Em termos gerais, acho que a mídia se tornou mais especializada”, disse Laurance, da Universidade James Cook. “Isso é muito necessário, porque poucos jornais ou meios de comunicação têm jornalistas dedicados com as preocupações ambientais. É um desafio para jornalistas muito ocupados e generalizados gastar muito tempo tentando entender os detalhes técnicos das preocupações ambientais e todas as questões em torno de megaprojetos específicos”.
Para enfrentar esse déficit, alguns grupos não governamentais como o Greenpeace lançaram suas próprias unidades de jornalismo investigativo. Mas isso pode ser problemático: o público muitas vezes vê esses meios de comunicação patrocinados por ONGs como sendo menos imparciais do que aqueles produzidos pela mídia independente, comentou Aeberli, da BMF.
“É por isso que o jornalismo investigativo é mais necessário do que nunca. A tendência no jornalismo, infelizmente, vai mais para o conteúdo fornecido ou patrocinado por empresas em vez de reportagens independentes”, explicou.
O aumento de novas plataformas tecnológicas para o jornalismo, como Twitter, Facebook, blogs e YouTube, no entanto, significa que há mais maneiras do que nunca para as ONGs e os ambientalistas disseminarem informações sobre falhas de projetos de infraestrutura.
“A mudança na forma da mídia pode enfraquecer a reportagem sobre problemas de projetos de infraestrutura, bem como ser fortalecida por ela”, disse Park, da Universidade de Sydney, citando a erosão das mídias sociais do modelo de financiamento dos meios tradicionais e, inversamente, a atenção dos jornalistas.
Apesar da rápida e às vezes caótica transformação tecnológica que está ocorrendo atualmente em todo o cenário midiático, os jornalistas sempre terão um papel importante na divulgação dos prós e contras de novos projetos de infraestrutura, além de registrar as campanhas lançadas por ambientalistas, comunidades locais e grupos indígenas determinados a resistir aos piores impactos desses projetos.
“A mídia popular adora uma controvérsia, e muitos projetos de infraestrutura são inerentemente controversos”, concluiu Laurance. Os defensores do meio ambiente “aproveitam esse [interesse da mídia] para iluminar os lugares escuros onde se tomam decisões ruins, às vezes [revelando] a mancha clara de corrupção”.
Tradução revisada por Debora Santos