Uma experiência de cinco anos, a primeira de seu tipo, mostra que árvores altas e saudáveis compartilham alguns recursos, especificamente o carbono, com árvores de diferentes espécies.
As redes micorrízicas – filamentos subterrâneos de fungos e raízes de plantas finas que cresceram juntas – são benéficas tanto para os fungos quanto para as árvores. No entanto, nunca se havia comprovado que essas redes subterrâneas de transporte fossem capazes de transferir carbono entre árvores de diferentes espécies – até recentemente.
Os pesquisadores acreditam que esta partilha de recursos pode desempenhar um papel significativo na sobrevivência das florestas, já que estas sofrem cada vez mais com a mudança climática.
Uma nova descoberta tem forçado os ecologistas a mudar a forma como pensam os sistemas florestais: de focos de competição para estruturas interdependentes de cooperação. Uma experiência de cinco anos, a primeira de seu tipo, mostra que árvores altas e saudáveis compartilham alguns recursos, especificamente o carbono, com árvores de diferentes espécies. Esse “comércio” de carbono é impulsionado por redes subterrâneas colaborativas de fungos micorrízicos, que existem em quase todas as florestas do mundo. Os pesquisadores acreditam que esta partilha de recursos pode desempenhar um papel significativo na sobrevivência das florestas, já que estas sofrem cada vez mais com a mudança climática.
Tamir Klein, doutor pela Universidade da Basileia, comenta, por ocasião de seus resultados publicados na revista Science, que “toda a descoberta foi uma surpresa, o meu co-autor não conseguia acreditar, nós pensamos que havia um engano”.
Há muito tempo, os ecologistas acreditam que as árvores competem por nutrientes e recursos. As árvores mais altas e mais antigas são as vencedoras, tendo se apropriado dos recursos necessários ao seu redor e de seus vizinhos. Mas os resultados da experiência em uma floresta temperada da Suíça mostram que as interações entre árvores podem ser mais complexas do que se acreditava. As árvores, na verdade, partilham recursos com os seus vizinhos por meio das vias subterrâneas de raízes finas e fungos simbióticos. Os cientistas já sabiam que as redes micorrízicas – filamentos subterrâneos de fungos e raízes de plantas finas que cresceram juntas – são benéficas tanto para os fungos quanto para as árvores. As redes trocam nutrientes, água e carbono com e entre as plantas. Os fungos permitem uma maior absorção de nutrientes e água do solo, enquanto as plantas verdes exportam açúcares criados por fotossíntese para fungos e outros micróbios no solo. Os cientistas consideram as redes de micorrizas parte integrante dos ecossistemas florestais. Árvores vizinhas da mesma espécie também podem trocar carbonos por meio da fusão física de suas raízes. No entanto, nunca se havia comprovado que essas redes subterrâneas de transporte fossem capazes de transferir carbono entre árvores de diferentes espécies – até recentemente.
A fim de monitorar a troca de carbono, os pesquisadores usaram um guindaste e uma rede de tubos finos para inundar as coroas de abetos de 120 anos e com mais de 12 metros de altura com Carbono-13, uma forma de carbono mais pesada do que a encontrada em condições normais no ar. O uso do carbono-13 os permitiu distingui-lo do carbono regular e monitorar a transferência de Carbono-13 enquanto passava pelo processo de fotossíntese nas folhas e era transportado para os galhos, os caules e as raízes finas das árvores.
Os pesquisadores descobriram que os abetos transferiram o Carbono-13 não só para os seus próprios galhos, caules e raízes para realizar o crescimento, como já se sabia, mas também para outras espécies de árvores, incluindo pinheiros, vidoeiros e lariços por intermédio de redes micorrízicas. Anteriormente, os cientistas não tinham conhecimento do envolvimento de árvores de grande porte na transferência de carbono porque, até recentemente, não havia nenhum método para expor grandes árvores ao carbono-13. “O conhecimento mais avançado era o de que as mudas podiam transferir carbono entre si”, disse Klein. Foi tão surpreendente a constatação de que as árvores altas transferem carbono para outras árvores altas saudáveis de espécies diferentes que até mesmo os cientistas duvidaram de seus próprios trabalhos.
Para ter certeza que nada deu errado, os pesquisadores voltaram à floresta, cuidadosamente escavaram as raízes finas e as seguiram pela terra até a árvore de origem para verificar se o Carbono-13 tinha de fato percorrido o caminho do abeto marcado às árvores vizinhas que eram de diferentes espécies.
Klein afirma que isso é significativo: “É uma mudança na forma como olhamos para as árvores em uma floresta. As árvores vizinhas, na verdade, podem compartilhar carbono fixo e não apenas competir umas com as outras”. Árvores em uma ‘associação’ – aquelas conectadas pelas redes micorrízicas para transporte de recursos – parecem compartilhar igualitariamente o carbono excedente entre si. Segundo o pesquisador, embora este experimento, realizado em uma floresta temperada, tenha sido a primeira evidência de troca de carbono entre diferentes espécies de árvores, “em princípio, isso pode acontecer em qualquer floresta onde há fungos micorrízicos, o que representa a maioria das florestas do planeta”.
A mortalidade das árvores associada à mudança climática é um grande problema global hoje em dia. Ao mesmo tempo em que as causas diretas da morte podem envolver secas, geadas de primavera, incêndios ou doenças, todos estes impactos são agravados pelo aumento das temperaturas globais devido à queima de combustíveis fósseis. Diferentes árvores respondem de formas diferentes ao estresse. Mas quando estão conectadas a essas redes de micorrizas, Klein explica que “as árvores podem conseguir o carbono excedente [de seus vizinhos] suficiente para fazer a diferença entre viver e morrer sob estresse”.
Embora ainda não seja conhecida a magnitude ou os detalhes de como a partilha de carbono funciona, esta acrescenta um novo nível de complexidade ao funcionamento dos ecossistemas florestais. Os cientistas também acreditam que ela pode se tornar um fator importante para uma melhor gestão das florestas quanto à sua resiliência e sobrevivência em uma época de mudanças climáticas.
Citação:
Klein, T., Siegwolf, R. T., & Körner, C. (2016). Belowground carbon trade among tall trees in a temperate forest. Science, 352(6283), 342-344.