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Secretário do Meio Ambiente assassinado na Amazónia Brasileira

  • Luiz Alberto Araújo, Secretário do Meio Ambiente de Altamira, no Estado do Pará, foi baleado num homicídio-execução na passada quinta-feira. Entre 2002-2013 foram assassinados 448 ambientalistas no Brasil – metade do valor total de assassinatos no mundo inteiro.

  • Este ano Araújo tinha fornecido informações que ajudaram a pôr fim a uma grande operação de extracção madeireira ilegal liderada por António José Junqueira Filho, conhecido por Ajj.

  • Ajj comandava a sua operação próximo de Altamira há já dez anos, e abatia frequentemente árvores valiosas, de sub-coberto, deixando as mais altas para iludir as imagens de satélite e evitar avistamentos das áreas de corte. As suas operações mantinham os madeireiros em condições de escravatura. Ajj foi multado em 37 milhões de dólares, a maior multa deste tipo alguma vez aplicada na Amazónia.

  • Em Fevereiro passado, a equipa de Araújo recolheu toneladas de peixes mortos que tinham sido secretamente enterrados próximo da recém-terminada mega-barragem de Belo Monte, próximo de Altamira.

Much of the logging in the Amazon rainforest of Brazil is illegal. Enviornmental official Luiz Alberto Araújo, was instrumental in stopping illegal logging operations. until he was gunned down last week. Photo by Rhett A Butler
Muita da exploração madeireira na floresta tropical da Amazónia brasileira é ilegal. O Secretário do Ambiente Luíz Alberto Araújo foi determinante em levar os madeireiros ilegais e outros criminosos ambientais á justiça, até ter sido morto a tiro na semana passada. Foto de Rhett AS Butler

Na terça-feira dia 13, Luíz Alberto Araújo, de 54 anos, que chefiava o Departamento do Meio Ambiente do Governo Municipal de Altamira no Estado do Pará, foi morto a tiro por dois homens. Aproximaram-se de carro e balearam-no 9 vezes, à frente da sua mulher e dos seus dois enteados. Nada foi roubado e pensa-se que o assassinato terá motivações políticas.

Nos seus esforços para aplicar legislação ambiental na região tipicamente sem-lei que é a Amazónia, Araújo fez inimigos poderosos. Ele, juntamente com alguns outros, providenciou informações à Polícia Federal que ao Ministério Público Federal do Brasil (MPF), um ramo independente do Governo, que lhes permitiu lançar a Operação Rios Voadores há vários meses atrás.

Esta investigação de actividades madeireiras ilegais, uma das maiores da Amazónia nos últimos tempos, levou a 24 detenções, incluindo a do cabecilha, António José Junqueira Filho, conhecido por Ajj. Ele e o seu filho foram acusados de invadir ilegalmente a floresta tropical brasileira, extracção de madeira valiosa, destruição e queima da restante vegetação e de consequente transformação em pastagens para gado.

Luiz Alberto Araújo, head of the Altamira municipal government environmental department in the state of Pará, was gunned down last Thursday. Photo courtesy of Altamira(PA)/Photo Archive
Luiz Alberto Araújo, Secretário do Meio Ambiente de Altamira, no Estado do Pará. Foto cortesia de Altamira (PA)/Arquivo de fotos

De acordo com Luciano Evaristo, Director do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, IBAMA, Ajj tinha desenvolvido um novo método de abate das florestas. “Utilizava técnicas de geo-processamento para organizar várias operações de pequena escala”, diz.

Os técnicos mantinham as árvores mais altas de pé para que os satélites operados pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) não detectassem o desbaste que ocorria debaixo da copa das árvores.

De acordo com a policia, os trabalhadores que abatiam as árvores eram mantidos “em condições análogas à escravatura”.

O grupo de Ajj desbastou cerca de 294 qulilómetros quadrados de floresta em torno de Altamira. Ajj foi multado em 119.8 milhões de reais, a maior multa alguma vez imposta na Amazónia Brasileira, por anos de exploração madeireira ilegal.

Luíz Alberto Araújo contribuiu também para a Operação castanheira em 2014, que revelou um desmatamento em grande escala em torno da área de Novo Progresso no sudoeste do Pará.

An April 2016 fish kill on the Xingu River near the Belo Monte dam. Photo courtesy of Cristiane Costa
Uma matança de peixes em 2016 no Rio Xingu próximo da recém inaugurada barragem de Belo Monte. Foto cortesia de Cristiane Costa

Mais recentemente, em Fevereiro deste ano, a equipa de Araújo recolheu toneladas de peixes mortos enterrados secretamente próximo da enorme barragem hidro-eléctrica da Belo Monte, localizada nos arredores de Altamira, que iniciou as operações no início deste ano.

Como resultado disso, a Norte Energia, a companhia que comanda a barragem, foi multada em 35.3 milhões de reais pelas 16.2 toneladas de peixes mortos ilegalmente durante o enchimento do reservatório da barragem.

Araújo é o último de uma longa lista de ambientalistas assassinados no Brasil. De acordo com a ONG Global Witness, foram assassinados 448 ambientalistas no Brasil entre 2002-2013. Este é metade do valor total de assassinatos no mundo inteiro.

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