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Como um morcego pode sobreviver ao desmatamento? Ele tem que ser pequeno, móvel, e vegetariano

  • Morcegos estão sobre grande pressão pois as paisagens mudam ao seu redor e seus lares se tornam mais e mais fragmentados.

  • Um recente estudo examinou como são importantes as características funcionais em que permitem os morcegos sobreviverem a paisagem modificada pelo homem na Amazônia.

  • Os pesquisadores descobriram que nem todas as espécies de morcegos enfrentam a fragmentação do habitat igualmente e que os morcegos pequenos, móveis e vegetarianos se adaptam melhor a fragmentação.

Florestas tropicais estão cheias de morcegos, com mais de 1.300 espécies conhecidas em todo o mundo, os morcegos vêm em todas as formas e tamanhos. Cada espécie tem a sua própria gama no qual os ecologistas chamam de “características funcionais”, que são características bioquímicas, fisiológicas ou comportamentais, exclusivas do animal.

No entanto, como outros animais que vivem nas florestas tropicais, os morcegos estão sob grande pressão pois a paisagem muda ao redor deles e seus lares se tornam mais e mais fragmentados. As perturbações naturais do habitat desempenham um papel nestas alterações, mas as maiores pressões são provenientes muitas vezes, das atividades humanas, tais como a produção de gado, agricultura, desmatamento, mineração e construção de barragens.

Um estudo recente, publicado no Journal of Applied Ecology, examinou como são importantes as características funcionais em que permitem os morcegos sobreviverem a paisagem modificada pelo homem na Amazônia. E descobriu que nem todas as espécies de morcegos enfrentam a fragmentação do habitat igualmente e que os morcegos pequenos, móveis e vegetarianos se adaptam melhor a fragmentação.

Researchers handling a bat to photographing the wing to measure aspect ratio and relative wing loading (two components of the wing morphology trait). Photo by Madalena Boto.
Pesquisadores segurando um morcego para fotografarem a asa e medir o tamanho do aspecto de proporção e da relativa carga da asa (dois componentes morfológicos característicos da asa). Foto de Madalena Boto.

O estudo foi liderado pelo grupo do Centro de ecologia, evolução e mudanças climáticas da Universidade de Lisboa e foi conduzido pelo Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais na Amazônia brasileira. Por mais de dois anos, o grupo usou redes para capturar quase 5,000 morcegos de 59 espécies diferentes espécies em oito florestas fragmentadas.

Focando nas 26 espécies mais comuns que puderem ser recolhidas com precisão nas redes, o grupo correlacionou as características funcionais das espécies com suas vulnerabilidades à fragmentação. Para fazerem isso, eles analisaram cada prevalência das espécies entre todas as florestas fragmentadas e sua abundância em cada um dos fragmentos, assim como no controle de lugares localizados na floresta primária continuada.

Os resultados confirmaram que os cientistas esperavam: morcegos vegetarianos, os quais tendem ser mais capazes de sobreviverem as variações dos habitats e os menores, mais leves e mais móveis que outros tipos de morcegos, são menos vulneráveis a fragmentação do habitat. Pelo mesmo sinal, os resultados mostraram que os morcegos carnívoros, os quais tendem a serem específicos do habitat, maiores, mais pesados e menos móveis, estão em um grande risco de extinção local.

Researchers collecting data at the Biological Dynamics of Forest Fragments Project (BDFFP), Central Amazon, Brazil. Photo by Madalena Boto.
Pesquisadores coletando dados no Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (BDFFP), no centro da Amazônia, Brasil. Foto de Madalena Boto.

“Nossos resultados indicam que muitas espécies de morcegos animalivorous raramente continuam em pequenos fragmentos e na matriz da floresta secundária, sendo os primeiros a serem extintos com a perda do habitat”,” Fábio Farneda, um estudante de Doutorado, que liderou a pesquisa disse ao mongabay.com.

Mas por que ser pequeno, móvel e vegetariano é uma grande vantagem para certos morcegos? Porque isso significada que eles são bem mais capazes de se adaptarem às mudanças climáticas. Eles não são tão seletivos sobre seus arredores. Eles são mais propensos de se deslocarem da floresta. E mais, é sempre mais fácil encontrar comida quando você está na camada mais baixa da cadeia alimentar.

Farneda e seus co-autores escreveram que a melhor maneira de minimizar a extinção local do morcego é “aumentando a disponibilidade de habitat e aumentando a conectividade estrutural e funcional na escala de paisagem através da criação, restauração e manutenção de corredores e escadas de pedras.”

Tent-making bats in La Selva, Heredia Province Costa Rica. While tent-making bats mainly eat fruit, it may supplement its diet with insects, flower parts, pollen, and nectar. Photo by Rhett Butler.
Morcegos Uroderma bilobatum na La Selva, província de Heredia na Costa Rica. Os morcegos Uroderma bilobatum comem principalmente fruta, podendo completar a dieta com insetos, partes de flores, pólen e néctar. Foto de Rhett Butler.

A compreensão de como as características funcionais das espécies interagem com as características ambientais, pode ajudar os cientistas a preverem como a biodiversidade poderia ser afetada no futuro, sob diferentes cenários de utilização do solo, de acordo com os pesquisadores. Como a perda de floresta e a fragmentação de habitats continuam, Farneda disse que acredita que essa informação é “fundamental para a criação de planos de conservação eficazes”.

 

Citação:

Farneda, F.Z., Rocha, R., López-Baucells, A., Groenenberg, M., Silva, I., Palmeirim, J.M., Bobrowiec, P.E.D., Meyer, C.F.J. (2015). Trait-related responses to habitat fragmentation in Amazonian bats. Journal of Applied Ecology, 52: 1381–1391.

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