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COP21: Decisão inesperada? Negociadores querem limitar o aumento da temperatura para 1,5 C

  • A redução de meio grau parece insignificante, mas se o limite for atingido muitos dos impactos climáticos desastrosos poderão ser evitados, além de estabilizar o clima mundial.

  • “1,5 para sobrevivermos” tornou-se o grito de guerra contagiante na conferência entre ativistas, resultando em mudanças na proposta dos negociadores no fim da COP21.

  • Enquanto a meta de 1,5 grau Celsius sob os níveis pré-industriais parece impossível de ser atingida, poderia resultar em medidas mais rigorosas na redução do carbono a longo prazo.

The Earth and Moon as seen in a single photograph from the Galileo spacecraft. Photo courtesy of NASA.
A terra e a lua na mesma foto registrada pela nave espacial Galileo. Foto cedida pela NASA.

PARIS: Quando a conferência do clima da ONU chegou em seu momento crítico após 48 horas de negociações, o secretário do Estado dos EUA, John Kerry, prometeu um acordo sem precedentes na coletiva de imprensa. Ele disse que alguns dos 186 países concordarão voluntariamente em reduzir suas emissões de carbono para conter o aumento da temperatura de até no máximo 2 graus Celsius (3,6 graus Fahrenheit) abaixo dos níveis pré-industriais.

“Podemos fazer muito mais nos próximos dias, nas próximas horas”, declarou Kerry. “As decisões são difíceis, os debates são complexos. Mas todos nós sabemos da situação. Não deixaremos Paris sem um acordo. Sabemos da importância de um acordo eficaz. Ele precisa ser tão ambicioso quanto possível”.

Para tal, uma possível decisão inesperada está sendo tomada rapidamente na conferência: as negociações dessa semana estão em ritmo acelerado almejando uma meta mais agressiva no aquecimento global.

O novo lema fez parte de todas as coletivas de imprensa: “1,5 para sobrevivermos”.

“1,5 grau é vital para sobrevivermos”, disse Samantha Smith da WWF Internacional, em uma coletiva na terça-feira. “Essa deve ser a meta de longo prazo.”

Agora, muitos cientistas e ativistas acreditam que o objetivo do limite de 2 graus Celsius, já fixado em conferências anteriores, pode não ser suficiente para evitar impactos de mudanças climáticas potencialmente perigosos.

Um grupo de 20 países formou o ‘Climate Vulnerable Forum’ (Fórum Vulnerável do Clima) – constituído por ilhas do Oceano Pacífico e Índico: as ilhas Seycelles, Maldivas, e Marshall – está se manifestando contra o limite do aquecimento global e quer mantê-lo em 1,5 grau em vez de 2 graus C (2,7 graus F em vez de 3,6 graus F). O fórum é liderado pelo presidente das Filipinas, que foi atingida por três dos tufões mais fortes de sua história nos últimos três anos.

O web site tcktcktck.org explica a diferença de um mero meio grau Celsius. As diferenças são bastante significativas:

CVyTcunW4AA9NYG“Você quer resolver o problema? O limite de 1,5 graus C poderá ter o efeito necessário para resolver o problema. O aquecimento de 2 graus C simplesmente não será suficiente para evitar grandes mudanças climáticas perturbadoras ao longo dos próximos 50-80 anos “, disse John Knox, Relator Especial da ONU sobre a questão das obrigações dos direitos humanos de desfrutarmos de um meio ambiente limpo, saudável e sustentável.

Essa é a opinião de muitos dos negociadores: A linguagem do acordo está fluindo. Onde dizia “2 graus C”, agora há opções como “inferior a 2 graus C” ou “muito abaixo de 2 graus C” ou “entre 1,5 e 2 graus C.”

Porém, poucos podem prever qual será a linguagem final.

Há apenas um problema com o novo limite, disse Alden Meyer da Union of Concerned Scientists (União de Cientistas Preocupados). Se o mundo pudesse de alguma forma parar magicamente de queimar combustíveis fósseis amanhã, o aumento da temperatura já embutido no sistema climático da Terra por gases de efeito estufa aumentaria o limite em 1,3 graus C (2,34 F) até 2100. Já que deter toda a emissão de carbono é impossível, uma meta de 1,5 grau C pode ser simplesmente irrealista, disse Meyer.

No entanto, a nova meta é muito mais que um valor simbólico, pois o mundo está começando os avanços para garantir a estabilização do clima global. O planeta já viu as temperaturas aumentarem 1 grau C (1,8 graus F) desde os tempos pré-industriais, pois os níveis de carbono na atmosfera aumentaram de 270 partes por milhão (ppm) para quase 400 ppm atualmente – causando impactos preocupantes e assustadores em todo o mundo. A única maneira segura de avançar é reduzir rapidamente esses níveis elevados de carbono.

“Se a humanidade deseja preservar um planeta semelhante àquele em que a civilização se desenvolveu e ao qual a vida na Terra está adaptada, as evidências paleoclima e as atuais alterações climáticas sugerem que o CO2 terá de ser reduzido a partir de [níveis atuais] para, no máximo, 350 ppm,” conclui o climatologista aposentado da NASA, Dr. James Hansen.

E a única maneira de alcançar essa meta é fazer a transição imediata da economia global de combustíveis fósseis para energia renovável, eficiência energética e práticas agrícolas e florestais sustentáveis, diz ONG ambiental 350.org.

O mundo aguarda o acordo final dos negociadores na COP21.

 

Justin Catanoso é diretor de jornalismo da Universidade de Wake Forest, na Carolina do Norte. Seu relato é patrocinado pelo Centro Pulitzer sobre Relatórios de Crise em Washington, DC, e pelo Centro de Energia, Meio Ambiente e Sustentabilidade da Wake Forest.

Apollo 17 image of Earth from space. Many COP21 participants want to contain the globe's climate change fever, not allowing it to increase by more than 1.5 degree C. Photo courtesy of NASA
Imagem da terra fotografada do espaço pelo Apollo 17. Muitos dos participantes da COP21 querem conter a mudança climática global, sem permitir seu aumento acima de 1,5 grau C. Foto cedida pela NASA
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