Cada país participante da COP21 firmou seu próprio compromisso autodeterminado pela quantidade de emissões de carbono que ele pode cortar de sua economia.
Infelizmente, o total de compromissos para a redução da emissão de carbono por todas as nações representa cerca de 50% menos do que os cortes necessários para evitar uma mudança climática catastrófica.
O REDD +, uma política que permite que as nações industriais continuem queimando combustíveis fósseis enquanto pagam aos países em desenvolvimento para preservar as florestas, pode ser parte da solução, embora alguns argumentem que ela não tem os mecanismos de controle necessários para evitar a fraude.
AApós duas décadas de negociações praticamente fracassadas, um otimismo flutuante rodeia os líderes mundiais de 194 países que estão prontos para elaborar e aprovar um acordo sem precedentes para reduzir as emissões de carbono em Paris durante as próximas duas semanas. A cúpula marca a 21.ª tentativa consecutiva da Organização das Nações Unidas para lidar com os estragos crescentes das alterações climáticas provocadas, em grande parte, pelo homem.
A partir de hoje, 100 líderes mundiais, incluindo o presidente Obama, estarão reunidos em Paris em uma demonstração de solidariedade pela cidade atingida pelo terrorismo e para reconhecer que há um amplo consenso sobre a necessidade de todos os países em reduzir a respectiva parte de emissões de gases do efeito estufa. Essas emissões já resultaram no registro do recorde de altas temperaturas a nível mundial por 15 anos consecutivos – com 2015 muito provavelmente sendo o mais quente desde que a manutenção do recorde começou.
Enfatizando o sentimento de otimismo dos negociadores: pela primeira vez, os três maiores emissores de carbono do mundo – China, EUA e a União Europeia, que representam 50% das emissões globais – estão a bordo com promessas para reduzir a queima de carvão, petróleo e gás natural nos próximos 10 a 15 anos.
Além disso, a Climate Wire revelou uma história importante na sexta-feira, que o bilionário e fundador da Microsoft, Bill Gates, pretende anunciar hoje a criação de um fundo de energia limpa mutibilionário, saudado como o maior da história. Segundo informações, ele financiará a pesquisa e o desenvolvimento de uma nova tecnologia de energia limpa para “acelerar o ritmo do progresso, desenvolver e implantar novas soluções” para combater o aquecimento global, como Bill Gates disse anteriormente.
O corte nacional de carbono não faz sentido
Até agora, tudo bem. Até você fazer a matemática.
Os cientistas do clima estão em amplo entendimento de que para evitar alterações climáticas catastróficas ameaçadoras para a civilização, o aumento da temperatura global, medida desde meados de 1800, deve permanecer abaixo de 2 °C (3,6 °F) até 2100. Já estamos quase na metade do caminho: as temperaturas subiram quase 1 °C desde o alvorecer da era industrial.
A queima maciça de combustíveis fósseis para a geração de energia tem sido uma faca de dois gumes: riqueza sem precedentes de Primeiro Mundo e aumento da prosperidade no mundo em desenvolvimento, juntamente com o aumento rápido da instabilidade climática com ondas de calor mais numerosas e intensas; secas mais duradouras; tempestades mais fortes e frequentes; maior derretimento do Ártico; elevação do nível do mar; morte de recifes de corais e muitos outros impactos negativos.
A cúpula do ano passado em Lima, no Peru, destacou a primeira abordagem bottom-up para lidar com as emissões de carbono. Ela veio como o resultado da conferência malsucedida de Copenhague em 2009, quando uma abordagem top-down do tipo “faça o que eu pedir” da ONU explodiu em uma acrimônia altamente visível, com os países pobres recusando-se a ser intimidados.
No início deste ano, mais de 170 países – incluindo todos os principais emissores de carbono – usaram a nova abordagem bottom-up para definir suas próprias metas de redução de emissão de carbono. Os cortes prometidos por cada nação são conhecidos como a sua Contribuição Pretendida Nacionalmente Determinada (INDC – Intended Nationally Determined Contribution).
Os cortes acumulados prometidos para as emissões de carbono estão longe de serem reconfortantes.
“Quando você olha para as promessas INDC e faz a soma, estamos na metade do caminho de onde precisamos estar para ficar abaixo dos 2 °C. No meio do caminho. A menos que os principais emissores se tornem muito mais agressivos, o mundo está caminhando para 3,5 °C (6,3 °F) mais quente. E isso seria além de catastrófico”, disse John Knox, representante especial para a ONU sobre a mudança climática e direitos humanos.
A única maneira de reduzir a disparidade das emissões, disse Knox, “é cortar o uso de combustíveis fósseis. Não há outra maneira de resolver o problema”.
Factoring nas florestas
A menos, é claro, que você consiga assegurar as florestas para as árvores.
Jason Funk, cientista climático sênior na Union of Concerned Scientists, falou em uma conferência de imprensa da pré-COP21 em 20 de novembro, em Washington, DC, sobre a importância do setor de terras para os cortes de carbono – abordagens de manejo florestal que podem resultar tanto em mais emissões de carbono como, de preferência, na redução de gases do efeito estufa na atmosfera.
“As atividades do setor de terras respondem coletivamente por cerca de 24% das emissões globais dos gases do efeito estufa”, disse Funk, “e as florestas fornecem potencial de sequestro igual a 10% a 14% das emissões brutas atuais”.
O sequestro refere-se ao armazenamento de carbono fora da atmosfera ou dos oceanos, onde crescentes cargas de carbono estão levando a desestabilização do clima.
O mantra de cientistas como Funk é simples: as florestas tropicais e florestas de nuvens que cercam a barriga equatorial da terra são sumidouros naturais para as emissões de carbono – esponjas enormes e sedentas que aprisionam carbono em suas folhas, galhos, troncos e raízes, desde que estejam de pé. Cortá-las, queimá-las? Todo o carbono armazenado escapa como se estivesse saindo de uma chaminé para aumentar o caos climático.
“As florestas e os ecossistemas são a única maneira que temos para retirar o carbono da atmosfera em [uma grande] escala”, disse Steve Panfil, assessor técnico na Conservation International. “Qualquer acordo em Paris tem que levar isso em conta. Se pararmos o desmatamento onde ele está agora poderíamos reduzir as emissões em 30%”.
Dos cinco cientistas na conferência de imprensa em novembro, nenhum é mais familiarizado do que Chris Meyer com a controversa política florestal chamada REDD+. Essa política pede aos países industriais para compensar os países tropicais para manter as florestas em pé, compensando assim e limitando que os gases do efeito estufa em países industrializados continuem a queimar.
“Não esperamos que o acordo de Paris tenha uma grande sessão sobre o REDD+ ou mesmo que seja mencionado explicitamente”, disse Meyer, especialista em REDD+ no Fundo de Defesa Ambiental em Washington, DC, “Isso é porque nas COPs anteriores, em particular na COP19, em Varsóvia, isso já foi decidido”.
O REDD+ é controverso, em parte, devido a críticos como Chris Lang, autor britânico do site REDD Monitor. Ele afirma que a política permitirá que os principais países industrializados e os emissores de carbono, como a Noruega e a Alemanha, por exemplo, continuem poluindo à vontade, enquanto compram a própria consciência limpa lançando algum dinheiro em países tropicais pobres na tentativa de proteger as florestas com o sequestro de carbono.
Lang questiona a falta de rigor científico embutido no mecanismo do REDD: as florestas tropicais estão realmente sendo preservadas para compensar a poluição do Primeiro Mundo? Ele pergunta. Quanto carbono realmente está sendo sequestrado? Como pode ser medido com precisão? Como você sabe que ambos os países não são parte de uma grande farsa de comércio internacional em que uma parte mantém a queima de combustíveis fósseis e a outra fica mais rica, fingindo salvar as florestas?
“A ideia de que você pode fazer as florestas valerem mais ficando em pé, em vez de derrubá-las para as riquezas de combustíveis fósseis e metais preciosos que se encontram por baixo, é simplista”, disse Lang em uma entrevista ao Mongabay. “Você sempre pode obter mais dinheiro com o corte de árvores e o plantio de óleo de palma [em um país como a Indonésia, do que você consegue], com a perfuração de petróleo [no Equador] ou escavando para obter ouro [no Peru]”.
Dando uma chance ao REDD+
Meyer discorda de Lang, argumentando que o REDD+ é um mecanismo de mercado útil que permitirá aos países fazerem mais reduções de carbono economicamente eficientes. Ele o vê como apenas “mais uma ferramenta em sua caixa de ferramentas de política para trabalhar”.
Meyer aponta para os primeiros sucessos do programa piloto do REDD+ no Acre, no Brasil, na Amazônia ocidental, perto da fronteira com o Peru. O Acre é maior do que alguns países da América Central, com mais floresta tropical, e sofreu um desmatamento significativo devido à pecuária, exploração madeireira e extração. Mas agora, milhares de acres de floresta estão sendo gerenciados e preservados, disse Meyer.
Sem pretender compensações, mas disposta a dar uma chance ao REDD+, a Alemanha pagou milhões para o governo jurisdicional no Acre para reduzir suas concessões de terras para a exploração madeireira e pecuária. Os funcionários usaram parte do dinheiro para apoiar a extração da borracha sustentável, mantendo assim mais árvores em pé, ao mesmo tempo que geraram empregos. A maior parte do dinheiro alemão vai para comunidades indígenas no Acre que determinam como vão usá-lo para preservar as florestas que eles chamam de casa.
“Estes são serviços ecossistêmicos – mais sequestro de carbono, mais empregos nas florestas, mais segurança alimentar – que estão sendo pagos para manter as florestas em pé”, disse Meyer. “São pioneiros em muitos aspectos”.
Independente do sucesso reivindicado no Acre, Meyer reconhece os desafios rígidos de intensificação do REDD+ e a aplicação de regulamentos e penalidades para se certificar de que é eficaz em todo o mundo.
“O REDD+ complementa, mas não substitui os esforços essenciais para a transição de combustíveis fósseis para formas mais limpas de energia”, disse Meyer.
Enquanto isso, o climatologista Jason Funk argumenta que os observadores não devem exagerar na “lacuna das emissões”, depois que os compromissos nacionais voluntários INDC forem totalizados. Paris não é o fim, disse ele, é um ponto de articulação com todas as nações a bordo para futuras negociações e da pressão internacional inevitável para fazer melhor.
“É como um tipo de arca de Noé de um acordo”, disse Funk sobre o potencial acordo na COP21 em Paris. “Você não tem acomodações perfeitas. Mas é mais importante estar na arca do que ser deixado para trás. Se você está na arca é porque todos têm o potencial para avançar juntos”.
Claro, isso levanta a questão para saber se a arca de compromissos globais de carbono será suficiente, e isso vem com o tempo, para enfrentar as ferozes tempestades da mudança climática por vir.
Justin Catanoso, diretor de jornalismo da Universidade Wake Forest, na Carolina do Norte, cobrirá a COP21 em Paris para o mongabay.com. Seu relato é patrocinado pelo Pulitzer Center for Crisis Reporting, em Washington, DC, e pelo Center for Energy Environment and Sustainability da Wake Forest.