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China revela planos sobre enorme ferrovia na América do Sul


Fragments of cerrado forest in Brazil's Mato Grosso state. The proposed railroad route goes through some of the last standing intact forest in the state. Photo by Rhett A. Butler.Fragmentos de floresta cerrado no estado do Mato Grosso no Brasil. A proposta de rota de ferrovia passa por algumas das últimas florestas intactas do estado. Foto por Rhett A. Butler.

A China está procurando adicionar outro degrau de seu investimento na América Latina, através de um anúncio de planos para construir uma extensa ferrovia bifurcada no continente, do Brasil ao Peru. A proposta tem levantado a ira de grupos de conservação que estão preocupados com a ferrovia que funcionará por meio dos ecossistemas sensíveis, ameaçando os animais selvagens e afetando as comunidades indígenas.



O anúncio foi feito no início deste mês pelo Primeiro-ministro chinês Li Keqiang, com a intenção de reduzir os custos de transporte de mercadorias como petróleo, ferro e soja produzidos nos locais do interior. Li seguiu o anúncio com uma visita à América do Sul para fortalecer as relações comerciais e de investimento entre a China e o Brasil, a Colômbia, o Peru e o Chile.



“Durante a visita do Premier Li nos quatro países, discutimos questões importantes como a cooperação industrial, infraestrutura, zonas de comércio livre, cooperação técnico-econômicas, formação e apoio financeiro”, Tong Daochi, assistente do diretor-geral do Ministério do Comércio da República Popular da China, declarou em um comunicado.



A rota de ferrovia proposta abrange 3.500 quilômetros (2.200 milhas) do estado do Rio de Janeiro no Brasil, região noroeste em torno da extremidade norte da Bolívia e no sul do Peru, terminando na costa peruana. Se desenvolvida, ela pode custar mais de US$ 10 bilhões e a rota passaria pelos ecossistemas mais ameaçados na América do Sul, incluindo a Mata Atlântica, cerrado e bacia amazônia.






Trajeto aproximado da proposta ferroviária. Segundo dados da Global Forest Watch, a rota proposta passa por meio ou perto de locais da biodiversidade, paisagens de floresta intacta (grandes áreas de floresta primária) e de lugares de “Aliança para extinção Zero” (onde são encontrados regiões endêmicos e espécies em risco). Clique na imagem para ampliar.



O cerrado – que significa “fechado” em português – é uma vasta pastagem com florestas esparsas que é o lar de centenas de espécies de animais, muitas das quais são endémicas ou encontradas em nenhum outro lugar do mundo. Uma vez ignorado o solo para o desenvolvimento por não ser favorável à agricultura, os Estados Unidos começaram a condicionar o solo com cal na década de 1960. A partir de então, grande parte do cerrado foi sendo convertido para a agricultura, transformando o que era a maior savana da América do Sul em uma terra dominada por campos de soja e pastagens para gado. Os cientistas estimam que existem hoje apenas cerca de 50 por cento do cerrado, um número que está diminuindo cada vez mais devido sua paisagem ter sido removida duas vezes mais rápida do que a da floresta Amazónica.



A Mata Atlântica era espalhada por 150 milhões hectares e abrigada por mais de 650 espécies de vertebrados endêmicos. Agora, contudo, cobre apenas 8% da sua extensão original devido ao desmatamento causado pelas plantações de cana-de-açúcar, fazendas de gado e outros desenvolvimentos. Aumentando ainda mais os estragos, 8% da Mata Atlântica remanescente não é coesa, ocorrendo um mosaico irregular como fragmentos de “ilhas” florestais. A fragmentação de hábitat pode ser devastadora para espécies ameaçadas que não conseguem se mover entre os pedaços de terra, se esses pedaços de terra secarem, a troca de genes e o acesso à recursos serão impedidos.



Li afirmou que a China, Brasil e Peru estão de acordo em conduzir um estudo de viabilidade para os planos do transporte ferroviário, acrescentando que a proteção do meio ambiente e da diversidade biológica será mantida tendo em mente os avanços dos planos da ferrovia .



No entanto, grupos ambientais estão expressando suas preocupações sobre os impactos que podem ocorrer se a ferrovia for concretizada.



“Esse projeto é emblemático e é provável que venha a tornar-se palco central para as organizações da sociedade civil da América Latina “, Paulina Garzon, diretor da Iniciativa de investimento sustentável da China-América Latina, disse ao The Guardian. “É muito grande para passar despercebida, e … vai ser tremendamente controverso em ambas frentes, ambiental e social: em primeiro lugar por causa do seu tamanho e localização, mas também porque os grupos ambientais latino-americanos e as organizações indígenas são muito vocais e muito bem interligadas.”



A rota proposta passa por áreas indígenas na Amazônia, deixando algumas comunidades indígenas preocupadas sobre os seus efeitos.




Cerrado removido no Mato Grosso, Brasil. Foto por Rhett A. Butler.



“Últimos megaprojetos sugerem que longe de consultarem as comunidades indígenas que estão em suas rotas, o governo é mais provável em anular os direitos enquanto fazem mera conversa fiada à proteção ambiental”, disse Christian Poirier da Amazon Watch. “Tal como acontece com os projetos de estradas, as ferrovias abrem acessos livres em regiões anteriormente remotas, trazendo um fluxo de trabalhadores migrantes, inevitavelmente seguidos por máfias de desmatamento e pecuaristas, criando uma tempestade perfeita de pressões sobre a floresta e as populações de floresta.”



A China é uma presença crescente na América Latina, com a promessa de investir US$ 250 bilhões em projetos como minas, represas, concessões de petróleo e transitar infraestruturas como o Gran Canal. Anunciado no ano passado, o monstruoso canal inundaria mais de cem milhas de floresta na Nicarágua e custaria mais de quatro vezes que o PIB do país. Enquanto algumas empresas chinesas estão concordandocom as normas de proteção do meio ambiente, os críticos dizem que os desenvolvimentos como a proposta ferroviário pode ter um alto custo para as terras vizinhas e as comunidades.



“A parte boa é que tem um investimento em um modo de transporte diferenciado. Mas isso parece seguir a lógica de mineração – primeiro você constrói uma estrada, depois um buraco”, disse Nilo D’Ávila do Greenpeace ao The Guardian. “Eles precisam garantir que podem ser construídos sem causar problemas.”







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