Além de serem um incômodo na sua casa, em um conjunto de ilhas isoladas (arquipélago) na costa nordeste do Brasil, os ratos são uma ameaça para o rabo-de-palha-de-bico-vermelho (Phaethon aethereus). Os ninhos de aves marinhas no remoto Parque Nacional de Abrolhos são invadidos por duas espécies de ratos que atacam seus ovos e filhotes: o rato-preto (Rattus rattus) e o rato-marrom (Rattus norvegicus).
As aves marinhas são aves coloniais, ou seja, aves que vivem em colônias de alta densidade e de importância especial para a conservação, pois muitas de suas características são fatores de risco para a extinção. Isso ocorre com o rabo-de-palha-de-bico-vermelho. A reprodução dessa ave é restrita a vários locais em todos os trópicos e atinge a idade reprodutiva tardia. Pesquisadores brasileiros conduziram recentemente uma análise de viabilidade populacional (AVPs) no extremo sul da colônia de reprodução do rabo-de-palha-de-bico-vermelho localizada no Parque Nacional de Abrolhos e publicaram os resultados na página de acesso livre do mongabay.com Tropical Conservation Science Ciência da Conservação Tropical).
Ninho do rabo-de-palha-de-bico-vermelho no arquipélago de Abrolhos. Foto por: Cesar Musso.
Essa colônia é particularmente significativa devido ao seu isolamento. Potencialmente, essa população remota do rabo-de-palha-de-bico-vermelho é diferente no fator morfológico, genético ou ecológico das populações de outras colônias.
“Essa [colônia] representa a população do extremo sul no Atlântico ocidental, e é uma das subpopulações mais ao sul em toda a sua distribuição”, escrevem os pesquisadores. Por isso, eles consideram essa colônia como um alvo importante para a conservação.
Os pesquisadores determinaram que o futuro dessa colônia de reprodução é incerto. Atualmente a pressão dos ratos predadores é tão grande que a população dessas aves enfrenta extinção em menos de 75 anos. Por isso, os pesquisadores sugerem duas maneiras para proteger o rabo-de-palha-de-bico-vermelho dos ratos: controle e erradicação.
Os pesquisadores descobriram que a redução da população de ratos em 40% seria provavelmente suficiente para evitar a extinção do rabo-de-palha-de-bico-vermelho. Mas fatores humanos, como a pobre gestão de resíduos, podem impedir o controle adequado da população de ratos. De acordo com os pesquisadores, o melhor caminho a seguir é a erradicação.
Visão completa das cinco ilhas pequenas do arquipélago de Abrolhos. Foto por: Marcello Lourenço
Entretando, a erradição tem suas próprias dificuldades. Os pesquisadores dizem que a erradicação é improvável e que o método é caro. Financeiramente esse empreendimento necessitaria de uma grande dose de força política. Além disso, o sucesso contínuo requer um programa de longo prazo dos procedimento de quarentena para garantir que o Parque Nacional de Abrolhos não seja invadido por ratos novamente.
Apesar dessas potenciais dificuldades, os pesquisadores observaram que o tamanho do conjunto de ilhas, sua pequena população humana e a discreta prática de turismo são favoráveis para a estratégia de erradicação.
“Nós recomendamos o desenvolvimento e a implementação de um programa de gestão para erradicar completamente os ratos do Parque Nacional de Abrolhos”, escrevem os pesquisadores. “Apesar desse programa necessitar de implementação o mais rápido possível, será necessário realizar outras pesquisas para identificar estratégias mais eficientes para a erradicação”.
Citações:
- Sarmento, R., Brito, D., Ladle, R. M. , da Rosa Leal, G. and Amorim Efe, M. 2014. Invasive house (Rattus rattus) and brown rats (Rattus norvegicus) threaten the viability of red-billed tropicbird (Phaethon aethereus) in Abrolhos National Park, Brazil. Tropical Conservation Science Vol.7 (4): 614-627.