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A próxima grande ideia para a preservação florestal? Incentivar todos a supervisionar as florestas

Inovação na preservação de florestas tropicais: perguntas e respostas com o Dr. Nigel Sizer



Clareira florestal no Bornéu malasiano. Fotografia: Rhett A. Butler.

Clareira florestal no Bornéu malasiano. Fotografia: Rhett A. Butler.




Nigel Sizer tem trabalhado na vanguarda dos problemas florestais globais por décadas. Atualmente, é diretor global do programa florestal do World Resource Institute’s
(WRI – Instituto Mundial de Recursos), cujos projetos incluem a Global Forest Watch, (Vigília Florestal Global), a Forest Legality Alliance,
(Aliança de Legalidade Florestal), e a Global Restoration Initiative (Iniciativa de Restauração Global). Esses programas trabalham com órgãos governamentais, negociantes e sociedades civis com o objetivo de manter florestas por diversas gerações.



Em 20 de fevereiro de 2014, o WRI lançou a Global Forest Watch (GFW), um sistema online de monitoramento de florestas para rastrear o desmatamento ao redor do mundo. Empregando tecnologia a satélite, crowdsourcing e dados abertos, o aplicativo de mapeamento GFW garante um acesso a informações sobre florestas atual e confiável.



“Considerando um período mais extenso, espera-se que dentro de dois a cinco anos a GFW passe por uma reforma drástica de projeto para cobrir muitas outras áreas (…) aumentando intensamente nossa habilidade de detectar mudanças de menor escala e reportá-las muito mais rapidamente”, Sizer contou ao mongabay.com. “Em outras palavras, buscamos melhorar a precisão da GFW de tempo real aproximado a tempo real virtual em alta resolução, ao mesmo tempo mantendo extrema facilidade de uso.”



Nigel frequentou a Universidade de Cambridge e possui graduação, mestrado e doutorado em ciências naturais e ecologia de florestas tropicais. Morou e trabalhou no exterior durante a maior parte dos últimos 25 anos; na Indonésia, no Brasil e em diversas partes da África. Antes de se juntar ao WRI, Nigel serviu a Rare como vice-presidente do grupo da Ásia; também serviu como conselheiro principal em Mudanças Climáticas e Problemas de Energia na Ásia para o ex-Presidente dos EUA, Bill Clinton, e para a Clinton Global Initiative. Trabalhou com a UNEP em Nairobi, e estabeleceu o Nature Conservancy’s Asia-Pacific Forest Program (Programa de Conservação da Natureza na Ásia e no Pacífico).



“Os políticos ainda não entendem,” diz Sizer, “pouquíssimos líderes de negócios estão realmente engajados; corrupção em larga escala e clientela ainda são prioridade quando se trata de terrenos e florestas em muitos países. Muito mais esforço precisa ser feito para atacar a política oculta e os problemas de mercado, ou para apoiar as alianças e coalizões que tentam fazer isso localmente ou de maneira mais ampla. Transparência radical através da Global Forest Watch é a contribuição que a minha equipe visa para alcançar esse processo.”






UMA ENTREVISTA COM NIGER SIZER



Mongabay:Há quanto tempo trabalha com a conservação de florestas tropicais e em quais localidades? Qual é o foco do seu trabalho?



Nigel Sizer. Fotografia é cortesia de Niger Sizer.
Nigel Sizer. Fotografia é cortesia de Niger Sizer.

Nigel Sizer:
Eu me interessei enquanto fazia um mochilão na África, depois de ter terminado a escola, em 1984 — há 30 anos! Estudei ecologia com três anos de experiência na Amazônia brasileira, trabalhando próximo a Manaus no famoso projeto Minimum Critical Size of Ecosystems (Tamanho Mínimo Crítico de Ecossistemas), organizado pelo Dr. Tom Lovejoy. Quando completei meu doutorado, o WRI me convidou a me juntar à equipe e desenvolver um trabalho mais amplo na política de florestas pela região da Amazônia, uma oferta que não pude recusar – o trabalho dos sonhos! Eu estava no WRI havia 8 anos, com equipes trabalhando na região do Congo, na Rússia, no Canadá, na Indonésia e em muitos outros locais. Então eu me juntei a TNC e fui para Jacarta, morando na Indonésia pela maior parte dos dez anos seguintes. Voltei ao WRI há 3 anos.



No WRI, temos agora três grandes conquistas: a Vigília Florestal Global (Global Forest Watch), lançada há apenas algumas semanas, a Iniciativa de Restauração Global (Global Restoration Initiative), e a Aliança de Legalidade Florestal (Forest Legality Alliance). Todos buscam foco nas causas fundamentais da perda de floresta e no declínio ligado a mercados, governâncias, direitos e acesso a informação.



Mongabay:Qual você acha que é a próxima grande ideia ou inovação emergente na conservação de florestas tropicais?

Nigel Sizer:
Eu sou suspeito, é claro, mas preciso mencionar a GFW — dê uma olhada e nos diga o que acha!



O reflorestamento e a restauração da paisagem florestal são outros fatores bastante importantes. Fundamentalmente, acredito que uma maior preocupação sobre as mudanças climáticas e problemas relacionados a segurança alimentar e a escassez de água resultaria em enormes mudanças no modo como trabalhamos com florestas e paisagens pela próxima década. Que maneira melhor de isolar carbono do que plantando árvores? E essa também é uma peça fundamental da adaptação às mudanças climáticas. Não exige financiamento excessivo; exige um trabalho mais cuidadoso com relação a problemas referentes a estabilidade de terra e florestas, reconhecimento de direitos e melhores associações ao mercado.



A Tropical Forest Alliance 2020
é outro espaço interessante para observar. Somos parceiros e vemos muita coisa dos bastidores enquanto grandes empresas e governos levam mais a sério a perda de florestas ligada a grandes commodities. Ainda é cedo para dizer, mas estou otimista que seremos capazes de ajudar a levantar novas soluções a partir da TFA.



Mongabay: A GFW já é uma plataforma incrivelmente poderosa. Que novas ferramentas você prevê que ela ofereça daqui a dois anos? E em cinco anos?





Nigel Sizer: Essa é uma pergunta importante. Quando criamos a GFW, pretendíamos construir a parceria, a equipe e os recursos necessários para acompanhar o avanço tecnológico com o passar dos anos. Precisamos de dois anos e de muito esforço para alcançar a tecnologia atual, e para descobrir que outros dados já existem que podem ser incluídos. No próximo ano, pretendemos incluir muito mais informações sobre pessoas na GFW — povos indígenas e reivindicações de terras comunais — para muitos países; essa é uma das nossas mais altas prioridades. Também pretendemos adicionar informações muito mais detalhadas referentes a mudanças climáticas, contribuindo para o monitoramento de apoio e relatando necessidades relacionadas a emissão de gás estufa e à mudança do uso de terras. Mais concessões, uso de terras e informações de propriedades também serão incluídos.



Ao longo de um período maior, dentro de dois a cinco anos, esperamos que a GFW passe por uma reforma drástica de projeto para cobrir um uso muito mais voltado a particularidades de cada país, já que a maioria dos usuários estará interassado em sua própria nação, e também acrescentaremos dados de sensor remoto em resoluções mais altas. Neste último plano, esperamos que os dados se tornem disponíveis de maneira mais ampla, disponiveis a resoluções de cinco metros e talvez com atualizações diárias — aumentando imensamente nossa habilidade de detectar mudanças de menor escala e reportá-las de maneira mais rápida. Em outras palavras, pretendemos transformar a GFW de tempo quase real a tempo virtualmente real em altíssima resolução, ao mesmo tempo mantendo extrema facilidade de uso.



Por fim, esperamos que a nossa e outras organizações possam desenvolver aplicativos mais especializados em conjunto com o sistema GFW, por exemplo, para apoiar empresas com sua gestão de cadeias de fornecimento para reduzir o desmatamento nessas cadeias, ou apoiar governos buscando facilitar os sistemas de detecção de desmatamento ilegal para apoiar a aplicação legal. Muito mais esforço é necessario para fortalecer o crowdsourcing e os aspectos de engajamento de comunidades da GFW. Temos diversos membros da equipe dedicando-se a isso.



Mongabay: Você prevê maneiras de integrar na GFW procurações ou métricas para outros serviços de ecossistema, como água e segurança de alimentos?



A equipe da Global Forest Watch e parceiros no lançamento. Fotografia é cortesia de Nigel Sizer.
A equipe da Global Forest Watch e parceiros no lançamento. Fotografia é cortesia de Nigel Sizer.


Nigel Sizer: A WRI já possui uma ferramenta de risco de água maravilhosa chamada Aqueduct, e estamos explorando possíveis associações à GFW. Segurança alimentar nos leva a pensar em obter melhores formas de medida e monitoramento de sistemas agroflorestais, e na saúde mais ampla dos ecossistemas. Existem áreas que esperamos ver avançando logo, e que a GFW e outros projetos relacionados sejam capazes de ativar mais adiante. Parte disso será feito através de quem usa as informações que tornamos mais prontamente disponíveis, e boa parte dessas informações nós podemos nem saber que existem, já que haverá vários grupos ao redor do mundo explorando o poder dos grandes dados e da gestão de recursos naturais.




Mongabay:Em termos de conservação, existe algo que você acha que NÃO está funcionando (ou que não está funcionando bem) que continua a ganhar muita atenção e apoio?



Nigel Sizer:
Ótima pergunta! Bem, em geral, as tendências globais não são boas, então muita coisa não está funcionando. Os políticos ainda não entendem, pouquíssimos líderes de negócios estão realmente engajados; corrupção em larga escala e clientela ainda são prioridade quando se trata de terrenos e florestas em muitos países. Muito mais esforço precisa ser feito para atacar a política oculta e os problemas de mercado, ou para apoiar as alianças e coalizões que tentam fazer isso localmente ou de maneira mais ampla. Transparência radical através da Global Forest Watch é a contribuição que a minha equipe visa para alcançar esse processo.





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