Notícias ambientais

Terá o ponto de inflexão sido atingido? A zona oeste da Antárctica está a derreter de forma lenta mas imparável

A enorme fenda descoberta no Glaciar Pine Island, no Oeste da Antárctica, que os cientistas afirmam estar a evoluir de forma irreversível para o colapso. A falha, descoberta durante um voo em 2011, irá eventualmente libertar um iceberg gigante. Foto de: NASA.
A enorme fenda descoberta no Glaciar Pine Island, no Oeste da Antárctica, que os cientistas afirmam estar a evoluir de forma irreversível para o colapso. A falha, descoberta durante um voo em 2011, irá eventualmente libertar um iceberg gigante. Foto de: NASA.


Em 200 anos o planeta poderá estar bastante diferente. Esta semana, dois importantes estudos revelaram que a camada de gelo do Oeste da Antárctica está num estado de inevitável colapso, interligado com as alterações climáticas. O lento colapso poderá conduzir a um aumento no nível do mar de 3.6-4.5 metros (12-15 pés), inundando muitas ilhas, áreas baixas e cidades costeiras. O único aspecto positivo é que os cientistas estimam que este colapso pode demorar entre 200 a 1000 anos.



“Tem havido bastante especulação acerca da estabilidade das camadas de gelo arinhas, e muitos cientistas suspeitam que este tipo de colapso está em curso”, afirma Ian Joughin, um glaciólogo da Universidade de Wisconsin, co-autor de um estudo publicado na Science, que foca um dos mais importantes glaciares naquela região, o glaciar Thwaites.



A equipa percebeu que o glaciar Thwaites está num estado de regressão rápida e que este processo não deverá parar. O glaciar Thwaites sozinho pode causar um aumento no nível das águas do mar de quase 2 pés; no entanto este glaciar é também o tampão da muito maior camada de gelo da zona Oeste da Antárctica. De acordo com os investigadores, quando este glaciar desaparecer, nada irá impedir que a totalidade da camada de gelo derreta, adicionando cerca de 10 a 13 pés a este nível.



Um mapa de elevada resolução da camada de gelo do glaciar de Thwaites. A água quente, conduzida por ventos fortes, está a introduzir-se sob a camada de gelo flutuante do glaciar. Os cientistas acreditam que esta fusão é inevitável. Mapa  por: David Shean/Universidade de Washington.
Um mapa de elevada resolução da camada de gelo do glaciar de Thwaites. A água quente, conduzida por ventos fortes, está a introduzir-se sob a camada de gelo flutuante do glaciar. Os cientistas acreditam que esta fusão é inevitável. Mapa por: David Shean/Universidade de Washington.

Além disso, estas estimativas só têm em conta a região Oeste da Antárctica e não consideram outras perdas de gelo nesse continente ou na Gronelândia.



Joughin e a sua equipa usaram lasers aéreos para melhor perceberem a topografia do solo sob o glaciar de Thwaites, o que lhes proporcionou uma visão mais correcta de como esta fusão poderá ocorrer.



Mas Joughin disse ao Climate Progress que as suas descobertas eram “conservativas” e “não incluíam todos os feedbacks.” Embora notem que, dada a informação disponível, a estimativa mais provável é de 200 a 500 anos, a equipa também não projectou uma simulação para a pior hipótese possível, o que significa que a perda de gelo poderá decorrer ainda mais rapidamente.



O estudo publicado na Science foi complementado por outra investigação da NASA, que incluiu seis glaciares da região– incluindo o Thwaites– e que chegou à mesma conclusão: a fusão dos glaciares daquela zona passou o ponto de não retorno. Esta equipa utilizou dados de satélite e dados aéreos para registar o derreter dos glaciares desde o início dos anos 90 e para melhor mapear a topografia.



“O colapso deste sector do Oeste da Antárctica parece ser imparável,” notou o co-autor Eric Rignot, da Universidade da Califórnia e da NASA, cujo estudo foi publicado nas Geophysical Research Letters. “Neste momento o fim parece ser inevitável.”



Infelizmente, a equipa não encontrou montes ou montanhas que pudessem reduzir esta fusão.



Os resultados encontrados também significam que o recente Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (sigla em inglês IPCC) pode já estar desactualizado. Este importante relatório, publicado em Setembro, não incluiu os dados da Antárctica que poderão variar entre 0.28 e 1 metros (0.9 e 3.2 pés) até 2100, nas suas estimativas para o aumento do nível do mar.



Embora a fusão dos glaciares na região seja um mecanismo extremamente complexo, ambos os estudos concordam que ventos mais fortes– possivelmente ligados às alterações climáticas, o buraco na camada de ozono ou ambos os fenómenos—empurraram águas mais quentes para baixo dos glaciares, libertando-os do solo onde assentavam.



“A razão pela qual este recuo está a acontecer de modo simultâneo aos longo de grandes sectores, sugere que há uma razão comum que despoletou estes eventos, tal como um aumento do calor oceânico retido sob as partes flutuantes dos glaciares,” adicionou Rignot.



De acordo com os especialistas, embora a fusão do Oeste da Antárctica pareça ser inevitável, quer demore algumas centenas de anos ou um milénio, este fenómeno pode depender, pelo menos em parte, da quantidade de combustíveis fósseis queimados no futuro.





Iceberg no mar de Admunsen ao largo do Oeste da Antárctica. Quando os glaciares derretem, é comum  gerarem icebergs gigantes. Foto de: NASA.

Iceberg no mar de Admunsen ao largo do Oeste da Antárctica. Quando os glaciares derretem, é comum gerarem icebergs gigantes. Foto de: NASA.





Citações:





Exit mobile version