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Armadilha fotográfica captura pela primeira vez vídeo de um pássaro raramente visto na Amazônia … e muito mais


Urumutum noturno (Nothocrax urumutum) filmado pela primeira vez no ambiente selvagem.




Urumutum  (urumutum de Nothocrax). Foto: Cortesia da Estação de Biodiversidade de Tiputini.

Urumutum (urumutum de Nothocrax). Foto: Cortesia da Estação de Biodiversidade de Tiputini.


Um programa de armadilha fotográfica sitiou o Parque Nacional Yasuni, no Equador, e ganhou fama no que os pesquisadores acreditam ser o primeiro filme já feito sobre um urumutum noturno selvagem (Nothocrax urumutum). Além disso, o programa capturou o vídeo de outros animais raramente vistos, incluindo o cachorro-do-mato-de-orelhas-curtas e o tatu gigante.



“O urumutum noturno é um dos pássaros neotropicais mais interessantes. É um pássaro muito raro e é pouco visto no ambiente selvagem devido os seus hábitos crepusculares e noturnos”, Diego Mosquera, chefe do programa da armadilha fotográfica e gerente da Estação de Biodiversidade de Tiputini, que é operada pela Universidad San Francisco de Quito, disse ao mongabay.com. “Não muitos tiveram a possibilidade de vê-lo no ambiente selvagem e eu estou propenso a dizer que essa é provavelmente a primeira filmagem feita desse pássaro em seu habitat.



Único membro do gênero, o Nothocrax, urumutum noturno, é o menor dos urumutuns (veja o vídeo em 1:38), um grupo dos pássaros da família dos Cracidae e parente distante dos Megapodes da Austrálasia. O urumutum noturno é conhecido pelo seu estrondoso canto à noite.



O vídeo mostra também o primeiro vídeo bem sucedido do cachorro-do-mato-de-orelhas-curtas (Atelocynus microtis), um dos mamíferos menos conhecidos na Amazônia (assista ao vídeo em 5:28).


Yasuni, the Cradle of life from Diego Mosquera on Vimeo.




“O cachorro-do-mato-de-orelhas-curtas é uma espécie muito elusiva e pouco conhecida. É classificada como uma espécie em vias de extinção na lista vermelha da IUCN mas os dados disponíveis sobre a sua distribuição e condição são muito escassos, conseqüentemente, qualquer outra nova informação que possamos obter é extremamente importante para compreendermos melhor e trabalharmos em iniciativas de conservação a longo prazo”, disse Mosquera. Embora seja muito raro, o cachorro-do-mato-de-orelhas-curtas é mais frequentemente encontrado em florestas contínuas, daí a importância de se preservar grandes áreas sem impactos.



Na Estação de Biodiversidade de Tiputini foram instaladas armadilhas de câmera video por aproximadamente apenas dois anos –após um programa bem sucedido de armadilha fotográfica– conseguindo capturar fotos fantásticas de muitos dos principais mamíferos, pássaros, e répteis de Yasuni. Entretanto, Mosquera disse, uma espécie continua a eludí-los.



“Nós gostaríamos de fotografar o cão-do-mato-vinagre (Speothus venaticus), que é ainda mais raro do que o cachorro-do-mato-de-orelhas-curtas. Num projeto de armadilha fotográfica de longo prazo em Tiputini, fomos capazes apenas de registrar essa espécie em duas fotos dentre quase 80.000 fotos tiradas. Isso dá uma idéia de como ele é raro.



Mosquera espera que esses videos de animais raramente vistos inspirem uma ação para a proteção dessas florestas e seus milhões de habitantes.



“Florestas não são apenas árvores, e meu objetivo é criar a conscientização através da noção que a sobrevivência humana depende da rede de relacionamentos com outras espécies”, ele disse. “Eu penso que é vital questionarmos sobre a moralidade de explorar nossas últimas florestas para o nosso próprio benefício. Estima-se a metade de todas as espécies poderão ser extintas dentro dos próximos 50 anos devido à atividade humana, e se nós não sabemos o que possuímos e como os ecossistemas funcionam, pouco podemos fazer para mudar essa situação.



A luta por Yasuni



Uma Aranha grande depositando ovos durante a  noite no Parque Nacional de Yasuni. Foto: Jeremy Hance.
Uma Aranha grande depositando ovos durante a noite no Parque Nacional de Yasuni. Foto: Jeremy Hance.



O Parque Nacional Yasuni, onde o programa da armadilha fotográfica ocorre, é provavelmente considerado o lugar de maior do biodiversidade no planeta. Entretanto, é enormemente ameaçado por companhias petrolíferas. Por décadas, esse setor operou dentro e nas cercanias do parque. Mas agora, com o consentimento do governo do Equador, as companhias petrolíferas são adentrando cada vez mais no Parque Nacional de Yasuni.



A Petroamazonas, uma nova companhia petroleira do Equador, começou recentemente a operar no coração do parque, numa área remota conhecida como o bloco 31. Embora a companhia tenha concordado com uma operação sem uso de estradas, utilizando helicópteros para preservar melhor o ambiente, uma análise de satélite recente revelou que a companhia está construindo grandes estradas de acesso em Yasuni.



A mesma companhia recentemente também recebeu concessão de licença para começar a trabalhar numa seção ainda mais controversa do parque: a área de Ishpingo-Tambococha-Tiputinin (ITT). A área de ITT foi centro de uma iniciativa única onde o governo do Equador propôs deixar os vastos campos de petróleo na região intocados, se a comunidade internacional doasse aproximadamente a metade dos rendimentos petrolíferos previstos, ou U$3,6 bilhões de dólares. Entretanto, quando o dinheiro não chegou a tempo para o governo, o presidente de Equador, Rafael Correa, cancelou o programa o ano passado.



Desde então, houve maciço esforço de ativistas para coletar assinaturas em número suficiente para levar a questão do ITT a um refendo nacional. Ativistas, em coalizão com ONGs sob a bandeira da YASunidos, recolheram ao redor 850.000 assinaturas, aproximadamente 25 por cento mais do que o exigido. Entretanto, o Conselho Nacional Eleitoral, CNE tem desde então rejeitado quase que 60 por cento das assinaturas coletadas, dizendo que elas são repetidas ou falsificadas. YASunidos, que chamou as ações da CNE de fraudulentas, está recorrendo da sentença.



A área de ITT cobre aproximadamente 10.000 hectares, ou cerca de 10 por cento do parque, na borda oriental. Muitos acreditam que essa seja a área de maior biodiversidade, situada numa região já conhecida por ter uma ampla biodiversidade. Atualmente, a área de ITT é quase que totalmente inexplorada pelos cientistas.



Presentemente, os cientistas identificaram 153 anfíbios (um recorde mundial), aproximadamente 600 pássaros, 183 mamíferos, incluindo mais que 100 morcegos (um outro recorde mundial). Além disso, Yasuni é conhecida como recordista pelas plantas lenhosas. Os cientistas estimam que em apenas um hectare de Yasuni haja pelo menos 100.000 artrópodes (insetos, crustáceos, e aracnídeos), que, sendo verdade, seria a maior biodiversidade por hectare no planeta.



Mapa de blocos petrolíferos em Yasumi. Cortesia de imagem de Finer.
Mapa de blocos petrolíferos em Yasumi. Cortesia de imagem de Finer, Pappalardo, Ferrarese, De Marchi (2014).



Espécies mostradas no vídeo em ordem da aparência



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