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Cargill comprometida com desflorestação zero, mas ambientalistas levantam questões

Fruto da palmeira-de-óleo (dendê). Todas as fotografias por Rhett Butler
Fruto da palmeira-de-óleo (dendê). Todas as fotografias por Rhett Butler.



Após anos de críticas de organizações ambientalistas, a empresa Cargill anunciou que irá estabelecer políticas para eliminar a desflorestação, a conversão de turfeiras e os conflitos sociais da sua cadeia de fornecimento de óleo de palma. Mas os acitivistas ainda não estão convencidos do compromisso do gigante da indústria agroalimentar.



No dia 8 de Abril a Cargill divulgou uma carta enviada à Mesa Redonda de Óleo de Palma Sustentável (RSPO, do inglês), organismo que define normas de eco-certificação, em resposta a um relatório da Greenpeace que relacionava o óleo de palma vendido pela Cargill à Proctor & Gamble (P&G) com a desflorestação no Sudeste Asiático. A carta apresenta um compromisso para atingir a desflorestação zero que inclui a construção de uma cadeia de fornecimento totalmente rastreável, a proibição da conversão de terrenos com elevado teor de carbono ou de alto valor de conservação (como as turfeiras) e o respeito pelos direitos das comunidades locais e indígenas de rejeitarem as plantações. A promessa inclui os principais. termos das mais recentes políticas de desflorestação zero definidas por produtores de óleo de palma como a Golden-Agri Resources e a Wilmar, bem como por compradores de óleo de palma como Nestlé, Unilever, Kellogg’s, Mars e Proctor & Gamble. Mas a carta não é, em si mesma, uma política.



“Esta actualização aos nossos programas e princípios de rastreio, tal como foram divulgados na carta à RSPO, faz parte de um esforço contínuo para desenvolver e fortalecer as políticas da Cargill em relação ao óleo de palma” disse Steven Fairbairn, porta-voz da empresa, ao mongabay.com. “Pensámos que era importante partilhá-los agora, enquanto esse trabalho global continua. Estabelece o nosso compromisso continuado com o óleo de palma sustentável e o progresso que fazemos, para enfrentar especificamente preocupações-chave, partilhadas com outras partes interessadas, em torno de questões como uma cadeia de fornecimento rastreável, a desflorestação, as turfeiras e os direitos dos pequenos proprietários e das comunidades locais.”



Conversão de floresta tropical para a plantação de óleo de palma nos declives de Sabah, Malásia Oriental
Conversão de floresta tropical para a plantação de óleo de palma nos declives de Sabah, Malásia Oriental.



Estes objectivos foram bem recebidos pela ONG Rainforest Action Network (RAN), que nos últimos oito anos tem pressionado a Cargill sobre as suas práticas de extracção de óleo de palma, e pela Greenpeace, mas ambas disseram que o gesto fica aquém, até que seja acompanhado de uma política com um prazo determinado.



“A RAN congratula-se com esta indicação de que a Cargill está finalmente a reconhecer que tem um problema com o Óleo de Palma de Conflito. Mas para uma empresa que se apresenta como líder da indústria agroalimentar comprometido com a inovação e a agilidade, precisa de fazer muito mais do que exprimir uma declaração de intenções”, disse Ginger Cassady, directora do programa de florestas da RAN. “Uma declaração de intenções não é o mesmo que uma política vinculativa, com um prazo determinado. Para se tornar um fornecedor de óleo de palma verdadeiramente responsável, a Cargill deverá comprovadamente eliminar das suas operações globais desflorestação, destruição de turfeiras, apropriação de terras e violações de direitos laborais.”



Annisa Rahmawati, activista florestal da Greenpeace Sudeste Asiático, partilha o sentimento de Ginger Cassady.



“A vontade da Cargill de assumir um compromisso com uma política de desflorestação zero que vai além da RSPO e protege as turfeiras é um sinal de uma tentativa séria para quebrar a sua ligação à destruição das florestas”, declarou Rahmawati ao Mongabay. “É um passo encorajador, mas é apenas uma carta de intenções. Apelamos à Cargill para que passe rapidamente à acção e desenvolva estes princípios numa política global detalhada e num plano de acção credível que lide com os seus fornecedores mais problemáticos como a KLK e a Musim Mas; um plano que também inclua medidas que previnam a apropriação de terras e a exploração social.”



A Cargill afirma que o seu compromisso se aplica ao
A Cargill afirma que o seu compromisso se aplica ao “óleo de palma que produzimos, comercializamos e processamos”, sugerindo que os seus fornecedores acabarão por ser obrigados a seguir as mesmas directivas, o que significa que teriam de evitar as queimadas a céu aberto como se vê nesta plantação na Malásia.




A empresa confirmou também que irá estabelecer uma estratégia com prazos determinados e salientou que a sua actual política já exige o corte e a expulsão com os fornecedores que violem as normas da RSPO.



“Já nos comprometemos a divulgar nos próximos 12 meses planos com prazos definidos e a apresentar relatórios de progresso regularmente”, afirmou a empresa ao Mongabay.



Questionada sobre como iria lidar com empresas como a Musim Mas e a KLK, recentemente acusadas de desflorestação e conflito social pelos activistas, a Cargill afirmou: “A nossa política actual determina claramente que deixaremos de fazer negócio com um produtor de óleo de palma se a RSPO considerar que essa empresa quebrou os seus princípios e a expulsar. Como parte da nossa revisão de políticas, estamos a estudar o desenvolvimento e implementação de processos que encoragem a adopção de práticas melhoradas de sustentabilidade por parte dos fornecedores, bem como métodos para gerir a conformidade com essas práticas.”



Abate de floresta para a produção de óleo de palma em Riau
Abate de floresta para a produção de óleo de palma em Riau.



A RAN afirma que a posição actual do gigante das commodities sobre este assunto é menos ambiciosa do que a dos seus congéneres.



“É evidente que a Cargill não poderá depender apenas da RSPO para enfrentar problemas graves como a destruição das florestas e turfeiras, protecção de orangotangos e tigres, poluição ambiental, apropriação de terras, conflito social e violações de direitos humanos que derivam da produção de óleo de palma de conflito. A Cargill está a ser ultrapassada pelas ambições de outros comerciantes, como a Wilmar International, que adoptou uma política Sem Desflorestação, Sem Conversão de Turfeiras e Sem Exploração.”



O grupo acrescentou que se a Cargill estabelecer uma política consistente, isso poderá ter um efeito dominó sobre todo o sector do óleo de palma.



“A Cargill é um dos principais fornecedores de óleo de palma dos mercados globais e um dos maiores importadores de óleo para os Estados Unidos. A sua linha de negócios envolve todos os aspectos do óleo de palma, produção, negociação, refinação e comercialização, desde o produtor ao consumidor final. A posição da Cargill confere-lhe uma vantagem significativa em cada um dos elos da cadeia de fornecimento necessários para estabelecer um abastecimento rastreável e responsável desde os produtores até aos mercados, eliminando o abastecimento dos produtores de óleo de palma de conflito.”



Desflorestação para a produção de óleo de palma no Bornéu
Desflorestação para a produção de óleo de palma no Bornéu.



Esta vantagem poderá estender-se também para outros sectores. A Cargill é um grande nome nos mercados de cacau, soja, algodão e carne de vaca, entre outros. Também tem investido em iniciativas de conservação florestal com base em carbono.



Nesses campos, a empresa diz que já se encontra a trabalhar na redução da sua pegada ambiental ao longo das suas outras cadeias de fornecimento agroalimentar.



“Cada cadeia de abastecimento tem os seus desafios específicos e estamos a trabalhar em parceria com indústria, governos e ONGs para impulsionar práticas mais sustentáveis relevantes para cada uma delas”, declarou Fairbairn, da Cargill, ao Mongabay.



“À medida que surgem novos conhecimentos e informação, a Cargill irá ajustar e melhorar as políticas, de acordo com os nossos objectivos de proteger florestas, turfeiras, comunidades locais e direitos humanos.”




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