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Exclusivo: Fotografias aéreas impressionantes revelam que o Equador está a abrir estradas no coração da floresta húmida mais rica do mundo (Parque Nacional Yasuni)

Em Agosto de 2012 os fotógrafos profissionais Ivan Kashinsky e Karla Gachet estavam em missão para a National Geographic no Parque Nacional Yasuní, a floresta com maior biodiversidade do mundo. Durante a sua estadia, fizeram uma sessão de fotografia sobrevoando uma área conhecida como Bloco 31 (ver mapa), uma concessão de petróleo controversa localizada no coração do parque, no preciso momento em que a companhia estatal de petróleo, Petroamazonas, abria secretamente um novo acesso.



Em Janeiro de 2013 a National Geographic, no seu número dedicado à biodiversidade do parque, publicou apenas uma destas fotos, deixando muitas das imagens mais constrangedoras longe dos olhos do público. Aqui apresentamos uma colecção impressionante de imagens não publicadas, proporcionando uma visão aérea das incursões industriais ao coração de uma das mais importantes áreas protegidas do mundo.



Do acesso secreto ao Bloco 31 em Yasuní.
Foto # 1 do acesso secreto ao Bloco 31 em Yasuní. Foto © Ivan Kashinsky. Clicar na imagem para aumentar.


Da estrada de acesso.
Foto #2 da estrada de acesso. Foto © Karla Gachet.





Estas fotos são particularmente importantes neste momento porque, depois do falhanço da iniciativa de elevado perfil Yasuní-ITT, acreditamos que a Petroamazonas está a planear construir mais estradas deste tipo, cada vez mais para o interior do parque. Aqui estão as razões para a nossa preocupação:



Existe bastante documentação de que as estradas são os principais motores da desflorestação tropical, em particular no Amazonas Equatorial. Novos acessos despoletam uma série de impactos sócio-ambientais secundários- como a colonização, abate ilegal de árvores e caça excessiva- o que conduz de forma inevitável à fragmentação de habitats e à degradação dos ecossistemas.



Em testemunhos recentes perante uma comissão do Congresso, os oficiais Equatorianos, incluindo o director da Petroamazonas, discutiram o projecto de expansão das operações de exploração no Bloco 31 e no Bloco ITT, que lhe fica adjacente. Uma vez que estas áreas ficam situadas num parque nacional, o Congresso deve declarar que os projectos têm um interesse nacional antes de poderem prosseguir. Para acalmar os receios, os oficiais afirmaram que não iria haver uma construção de “novos acessos” aos Blocos 31 e ITT. Pelo contrário, eles utilizariam “trilhos ecológicos”.



Esta afirmação pede a questão, o que é exactamente um trilho ecológico e é tão amigo do ambiente como soa? Num documento recente submetido ao Congresso, os oficiais Equatorianos descreveram a estrada de acesso construída em 2012 no Bloco 31, como um “trilho ecológico”. Portanto podemos analisar estas novas fotos recentemente publicadas para determinar se esta estrada constitui de facto um trilho com um impacto reduzido ou apenas mais uma destrutiva estrada de acesso com um nome verde.



Infelizmente nós consideramos que as seis novas fotos aqui apresentadas apontam para a primeira hipótese. Note-se que a Foto 1 mostra dois trabalhadores a percorrer o trilho. Ao usá-los como escala, torna-se claro que este caminho é uma estrada e não um trilho. Além disso, a maquinaria pesada que é possível ver nas Fotos 2 a 6 também nos permite confirmar que estamos a lidar com uma estrada e não um trilho.



Da estrada de acesso à exploração de petróleo.
Foto #3 da estrada de acesso à exploração de petróleo. Foto © Karla Gachet.


Da estrada de acesso à exploração de petróleo
Foto #4 da estrada de acesso à exploração de petróleo. Foto © Karla Gachet.





Estas fotos realçam um outro problema crítico: a ameaça aos Tagaeri e Taromenane, o povo indígena semi-nomádico que vive em isolamento voluntário no coração de Yasuní. Em 1999, o Equador criou uma “Zona Intangível”, uma área em que a exploração de petróleo é proibida, de modo a proteger o seu território da fronteira petrolífera em expansão. No entanto, tememos que a Petroamazonas planeie expandir estas novas estradas de acesso para o interior da Zona Intangível, de modo a explorar o que resta do petróleo nos Blocos 31 e ITT (ver mapa).



A Petroamazonas já demonstrou que não tem problemas em construir novas estradas de acesso através de uma floresta húmida única e megadiversa. Além do Bloco 31, têm vindo a ser construídas novas estradas de acesso a norte do parque, noutra concessão designada por Bloco 12. A nossa recente análise das imagens de satélite revelam que a Petroamazonas construiu 13 km de novos acessos, no Bloco 12, entre 2009 e 2011. A estrada mais a sul está a apenas 2.5 km da fronteira do Parque Nacional de Yasuní e a menos de 5 km da famosa Estação de Biodiversidade Tiputini. Esta estação é um dos mais importantes centros de investigação na Amazónia, mas as investigações científicas já começaram a ficar comprometidas pela poluição sonora industrial provenientes das novas operações da Petroamazonas. A proximidade desta estrada com a estação está também a permitir o acesso à exploração da fauna, pelos caçadores, nos terrenos disponibilizados para gestão por esta instituição.



Em conclusão, até que o Equador providencie informação técnica detalhada que demonstre o oposto, podemos apenas concluir que a Petroamazonas planeia construir mais estradas de acesso destrutivas, como a que está documentada nas fotos agora publicadas, cada vez mais para o interior do Parque Nacional de Yasuní.



Da estrada petrolífera de acesso.
Foto #5 da estrada petrolífera de acesso. Foto © Karla Gachet.


Da estrada petrolífera de acesso
Foto #6 da estrada petrolífera de acesso. Foto © Karla Gachet.



Mapa do Bloco 31 dentro do Parque Nacional de Yasuní.
Mapa do Bloco 31 dentro do Parque Nacional de Yasuní.





Mais informação acerca do trabalho de Ivan Kashinsky e Karla Gachet pode ser vista aqui:



Autores: Matt Finer, Center for International Environmental Law; Varsha Vijay, Duke University; Salvatore Eugenio Pappalardo and Massimo De Marchi, University of Padova



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