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Cientistas flagram jiboia devorando um bugio (fotos)

Em feito inédito, cientistas fotografaram e filmaram uma jiboia (Boa constrictor) atacando e devorando inteira uma fêmea de macaco bugio, um dos maiores primatas do Novo Mundo, pesando cerca de 4 kg. Esse raro evento de predação foi gravado em um pequeno fragmento florestal (2,5 hectares) no estado de Rondônia por Erika Patricia Quintino, pesquisadora da PUC do Rio Grande do Sul.



“Relatos de predação por serpentes entre os primatas do Novo Mundo limitavam-se a espécies de porte pequeno e médio. Aqui, mostramos o primeiro caso documentado de predação bem-sucedida de um atelídeo por uma serpente—uma fêmea de bugio-vermelho-do-rio-Purus, Alouatta puruensis, foi subjugada por uma jiboia de 2 metros de comprimento”, escrevem na revista Primates Quintino e seu orientador, Julio Cesar Bicca Marques.



Bugios são animais sociais e, geralmente, vivem em grupos de mais de uma dezena. A fêmea em questão era membro de um grupo de seis indivíduos. Segundo os pesquisadores, quando ela foi atacada, uma outra fêmea do grupo “correu, vocalizando, na direção da serpente, e bateu nela várias vezes, mas, como a serpente não reagiu, dirigiu-se a uma árvore próxima, de onde assistiu à maior parte da ação”.



Embora o ataque inicial—com a jiboia dando o bote a partir da copa de árvores onde estava escondida—tenha sido muito rápido, o evento todo durou mais de uma hora.



“A jiboia demonstrou o comportamento de caça característico da espécie, que consiste em atacar e imediatamente enrolar-se em torno da presa, matando-a por constrição (provavelmente em menos de 5 minutos); no entanto, o período total de retenção da presa durou 38 minutos”, escrevem os pesquisadores, acrescentando, sombriamente: “a fêmea de bugio foi engolida, a partir da cabeça, em 76 minutos”.



Close de uma jiboia (Boa constrictor) devorando uma fêmea de macaco bugio. Foto: Erika Patricia Quintino
Close de uma jiboia (Boa constrictor) devorando uma fêmea de macaco bugio. Foto: Erika Patricia Quintino.


Essa rara oportunidade de observação—bem como as imagens e vídeos resultantes—é importante por mostrar que as jiboias não apenas são capazes de matar macacos grandes, mas também podem desempenhar um papel predatório mais importante do que se imaginava em relação a bugios e outros primatas. Além disso, segundo o que escrevem os pesquisadores, a fragmentação da floresta amazônica, em várias partes do Brasil (como em Rondônia, por exemplo), dá à jiboia uma vantagem sobre os primatas, o que pode ameaçar pequenas populações que sobrevivem nos fragmentos.



“A estratégia de caça de espreita usada pela jiboia (que pode permanecer no mesmo lugar por dias ou mesmo um mês inteiro) pode ser particularmente interessante em pequenos fragmentos florestais pelo fato de que os macacos costumam usar os mesmos caminhos para se locomover entre sítios de alimentação,” concluem os pesquisadores.



A pecuária, as plantações de soja em expansão e o crescimento urbano vêm fragmentando a floresta amazônica, criando bolsões de floresta que são mais suscetíveis a danos provocados por vento, incêndios e perda de biodiversidade.





Jiboia devorando uma fêmea de bugio. Foto: Erika Patricia Quintino.
Jiboia devorando uma fêmea de bugio. Foto: Erika Patricia Quintino.





Outra vista da jiboia devorando fêmea de bugio. Foto: Erika Patricia Quintino.
Outra vista da jiboia devorando fêmea de bugio. Foto: Erika Patricia Quintino.





CITAÇÃO: Erika Patricia Quintino, Julio Cesar Bicca-Marques. Predation of Alouatta puruensis by Boa constrictor. Primates. 2013.





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