Se você sobrevoar o Grande Vale do Rift da África a partir de seu ponto mais ao norte na Etiópia, sobre os grandes parques nacionais do Quênia e da Tanzânia, e seguir em direção ao sul até o final, chegará ao Parque Nacional de Gorongosa no centro de Moçambique. Planaltos à leste e à oeste do parque flanqueiam o exuberante vale ao centro. Dramáticos penhascos de calcário, cavernas inexploradas, pântanos, vastos pastos, rios, lagos e vários retalhos costurados de savana e floresta contribuem para a incrível diversidade desse parque. O que torna o lugar único, no entanto, é o Monte Gorongosa – uma elevada massa de montanha com boa vista do vale abaixo. A montanha é coberta com uma luxuriante floresta tropical e abriga espécies que não podem ser encontradas em nenhum outro lugar do planeta. Existem pouquíssimos lugares na África onde é possível ver leões, elefantes e antílopes da savana quente e seca e então, apenas a quilômetros de distância, adentrar a umidade fresca da floresta tropical.
Esse é o cenário da primeira viagem do professor E.O. Wilson para a África. Como um biólogo que quer salvar a vida na Terra, ele quis saber quais espécies não descobertas vivem nesse grande parque inexplorado. Com a ajuda de sua assistente de campo local, Tonga Torcida, ele reuniu as crianças locais no Monte Gorongosa para ajudá-lo a coletar tudo o que pudessem encontrar. A diversidade de pequenas criaturas no Monte Gorongosa foi surpreendente e ele considera Gorongosa como sendo “…ecologicamente, o parque mais diverso do mundo.”
O professor Wilson se envolveu quando soube do Projeto de Restauração Gorongosa, uma parceria sem fins lucrativos entre os EUA e o governo de Moçambique, em um esforço de 20 anos sem precedentes para proteger e restaurar o Parque Nacional de Gorongosa. Essa parceria tem como objetivo salvar a biodiversidade de Gorongosa e ajudar as comunidades humanas a melhorar seus padrões de vida. É uma história de esperança, determinação e perseverança contra chances formidáveis, e sim, contratempos e decepções ocasionais.
E.O. Wilson coletando insetos durante o BioBlitz no Monte Gorongosa. Foto por: Piotr Naskrecki.
O Professor Wilson reconheceu que o Monte Gorongosa é importante não apenas para as espécies endêmicas, mas também porque representa uma grande porção da represa do parque. A floresta tropical absorve umidade durante a temporada de chuva e molha as vastas planícies de Gorongosa durante a temporada de seca. Sem intervenção, essa floresta sagrada pode ser extinta para sempre e a água abastecedora dos rios aos animais no vale abaixo secaria.
Mas esta é uma história de esperança. Os heróis desta história são homens e mulheres moçambicanos esforçados que acordam todas as manhãs para plantar árvores no Monte Gorongosa. Esse time, liderado por Pedro Muagura, planta milhares de mudas nativas a cada ano para gradualmente reconstruir a floresta perdida. Outros heróis desta história são as inúmeras pessoas generosas que realizam doações todos os anos para que árvores sejam plantadas no Monte Gorongosa.
Em um artigo recente da National Geographic Magazine, entitulado “O Renascimento de Gorongosa”, o Professor Wilson descreve sua primeira visita a Gorongosa e explica porquê esse lugar especial deve ser salvo. Desde essa primeira visita, ele escreveu um livro sobre Gorongosa (a ser lançado no próximo ano), organizou pesquisas biológicas adicionais com cientistas reconhecidos do mundo todo e desenvolveu capítulos sobre Gorongosa em seu novo livro digital de biologia, Life on Earth (“Vida na Terra”). Um novo laboratório de pesquisa no parque está sendo nomeado em homeagem ao Professor Wilson, em honra à sua visão, liderança e assistência a esta causa.