Pela primeira vez desde a evolução do homo sapiens, as concentrações de dióxido de carbono na atmosfera atingiram as 400 partes por milhão (ppm), devido à queima de combustíveis fósseis. A Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos da América (NOAA, National Oceanic and Atmospheric Administration) relata que os valores de dióxido de carbono registados no Observatório Mauna Loa, no Havai, atingiram a marca simbólica no dia 9 de Maio e espera-se que continuem a subir nos próximos anos. A última vez que as concentrações foram consistentemente tão elevadas foi há cerca de 4-5 milhões de anos, quando o nível do mar era 5 a 40 metros mais elevado do que actualmente, e a temperatura nos pólos era 10ºC mais alta. Nessa época, as florestas cresciam ao longo das margens do Oceano Ártico e os recifes de coral eram praticamente inexistentes.
“No início da industrialização, a concentração de CO2 era de apenas 280ppm”, diz Rajendra Pachauri, membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, do inglês). “Temos de ter esperança que atravessar este marco possa trazer ao mundo uma sensibilização para a realidade científica das alterações climáticas e para o que a sociedade humana deve fazer para lidar com o desafio.”
As concentrações de dióxido de carbono oscilam ao longo das estações. Maio apresenta os números mais elevados, seguido de uma ligeira quebra. No entanto, os cientistas estimam que as concentrações venham a atingir as 400ppm mais frequentemente durante os próximos anos, acabando por manter-se acima deste nível até que o mundo comece a cortar as emissões, e mesmo durante décadas depois disso (o carbono permanece na atmosfera entre 50 a 200 anos). No ano passado, as concentrações chegaram a atingir as 400ppm, mas apenas em algumas áreas do hemisfério norte. Embora os cientistas digam que atingir as 400ppm é um marco em grande medida simbólico, ainda assim fica demonstrada a quantidade de carbono emitida para a atmosfera nos últimos 150 anos.
Durante a maior parte da evolução humana, as concentrações de dióxido de carbono oscilaram entre 180ppm e 300ppm. Mas a Revolução Industrial levou à queima generalizada de combustíveis fósseis como fonte de energia, o que libertou um dilúvio de carbono para a atmosfera. Com a destruição de florestas e de outros ecossistemas, mais carbono foi emitido. Estas emissões fizeram subir as temperaturas globais cerca de 0,8ºC (1,4ºF) desde as revoluções industriais, o que causou degelo nos glaciares, subida do nível do mar, desaparecimento do gelo ártico, migrações de espécies e aumento de situações meteorológicas extremas como secas e inundações.
Tempestade do Furacão Sandy na costa de New Jersey. Estudos demonstram que embora as alterações climáticas possam não causar globalmente mais furacões, é provável que causem furacões cada vez mais intensos. A subida das águas também contribui para os danos causados por furacões como o Sandy. Fotografia por: Master Sgt. Mark C. Olsen/Força Aérea EUA/Guarda Nacional de New Jersey.
“Milhões de toneladas de combustíveis fósseis poluíram e envenenaram o nosso clima, trazendo ao mundo mais cheias, secas e incêndios cada vez mais intensos”, disse num comunicado Brad Johnson, director de campanha da Forecast the Facts, ONG para a divulgação das alterações climáticas. “Temos de responder com determinação urgente para pôr fim a estas experiências sem controlo na única casa que temos.”
A nível mundial, as nações comprometeram-se a impedir que as temperaturas subam mais do que dois graus Celsius (3,6 graus Fahrenheit). Porém, os compromissos e as medidas tomadas até à data não foram bem-sucedidos na redução das emissões globais de gás-estufa, que continuam a subir ano após ano. Quer o Banco Mundial quer a Agência Internacional de Energia (IEA, do inglês) já avisaram que, se continuar tudo na mesma, o mundo dirige-se para uma catástrofe climática total, devastando cidades costeiras e a agricultura mundial e provocando eventos de extinção em massa. Alguns cientistas chegaram mesmo a avisar que o aquecimento global pode derrubar a civilização humana tal como a conhecemos.
“Estamos em território desconhecido enquanto seres humanos – há milhões de anos que não havia tanto carbono na atmosfera”, diz Bill McKibben, fundador da ONG 350.org, que promove campanhas para a redução mundial das concentrações de carbono para 350ppm. “A única questão é se o implacável aumento de carbono pode ser compensado pelo implacável aumento do activismo necessário para o deter.”
A insuficiência de precipitação na Somália em 2011 deixou carcaças de ovelhas e cabras espalhadas por toda a paisagem. A falta de chuvas, associada à instabilidade, levou a um surto de fome que matou mais de um quarto de milhão de pessoas. Estudos demonstram que a subida de temperaturas nos oceanos pode estar a aumentar os casos de falta de chuva na África Oriental, piorando as secas e a instabilidade alimentar. Fotografia por: Oxfam East Africa/Creative Commons 2.0.