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85% do couro brasileiro vai para mercados sensíveis a preocupações ambientais

Cerca de 40% da carne bovina e 85% da produção de couro atendem a mercados que são potencialmente sensíveis a preocupações ambientais, fornecendo uma explicação parcial para a razão pela qual os produtores brasileiros assumiram recentemente compromissos para reduzir o desmatamento na produção de gado, descobriu um novo estudo publicado no Tropical Conservation Science.



A pesquisa, conduzida por Nathalie Walker e Sabrina Patel, da Federação Nacional da Vida Selvagem, e Kemel Kalif, da Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, usou dados do governo para estimar a proporção de carne bovina e produção de couro que chega a mercados ambientalmente sensíveis. Eles descobriram que a grande maioria das exportações de couro “pode ser considerada suscetível à demanda por produtos que não desmatam.”




Para a carne bovina, a proporção é substancialmente menor, mas ainda significativa. É importante ressaltar que 80% da carne bovina brasileira é consumida internamente, indicando que “a preocupação do consumidor no Brasil com o desmatamento relacionado à indústria do gado é vital para apoiar e aumentar ações na indústria para reduzir o desmatamento”, de acordo com os autores.






Range of Products from Cattle, with Export Values per Animal. Courtesy of Walker et al 2013




As descobertas fornecem uma hipótese sobre a razão pela qual quatro grandes frigoríficos em 2009 assinaram uma moratória sobre desmatamento na produção de gado. A moratória, que foi estabelecida em resposta a um relatório do Greenpeace que relacionava o desmatamento da Amazônia a grandes marcas ocidentais, comprometeu as companhias a evitarem compras de gado de fazendas onde a derrubada de florestas ocorreu após outubro de 2009. O acordo levou os frigoríficos a suspenderem compras de 221 fazendas nos primeiros nove meses de validade.




Contudo, a moratória não se aplica a todos os produtores de gado na Amazônia brasileira, especialmente ao mercado de gado clandestino, que os pesquisadores estimam que é responsável por pelo menos 26% da produção na região.






The Brazilian Cattle Herd: Amazon and non-Amazon. Courtesy of Walker et al 2013




“A indústria de abate clandestino é, por definição, outro setor que não deve responder à demanda do mercado”, escreveram eles. “Devido à sua natureza ilegal, não é possível determinar se o tamanho médio, a densidade do rebanho das fazendas ou o nível de desmatamento nas fazendas fornecedoras de matadouros clandestinos diferem das fazendas de fornecimento legal.”




“Nossa estimativa de que 26% dos abates no Brasil são parte da indústria clandestina é similar a dados da produção ilegal na indústria de laticínios, onde estima-se que 20% da produção de laticínios não seja nem controlada nem inspecionada. Entretanto, alguns acreditam que a proporção do mercado que é clandestina é muito maior.”




No entanto, Walker, Patel e Kalif observam que a moratória “tem o potencial tornar um terço da indústria do gado livre de desmatamento”. Eles argumentam que uma melhor governança, regras de concessão de empréstimo mais rígidas e outras iniciativas podem ajudar a reduzir a indústria clandestina.




Overview of Cattle Supply Chain –Leather, Beef, Live Cattle and Co-Products.




CITAÇÃO: Walker, N. F., Patel, S. A. and Kalif, K. A. B. 2013. From Amazon pasture to the high street: deforestation and the Brazilian cattle product supply chain. Tropical Conservation Science. Special Issue Vol. 6(3):446-467




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