A grande redução no desmatamento no estado do Mato Grosso ocorrida desde a metade dos anos 2000 será difícil de replicar em outros países tropicais onde a produção de commodities é um importante fator na perda florestal, argumenta um novo estudo publicado em uma edição especial do periódico Philosophical Transactions of the Royal Society B.
O trabalho, intitulado ‘Desmatamento norteado por exportações no Mato Grosso: prenúncio ou exceção para outras florestas tropicais?’, avaliou as condições que possibilitaram ao Mato Grosso fazer a transição para um uso da terra intensivo e para uma queda no desmatamento. O documento comparou então essas condições a outros países com florestas tropicais.
Os autores, liderados por Ruth DeFries, da Universidade de Colúmbia, concluíram que embora uma proporção significativa de áreas tropicais esteja vivenciando um desmatamento similar norteado por exportações, poucas atingem o nível de governança, capacidade técnica e capacidade de monitoramento do Brasil, sugerindo que “a viabilidade de replicar o sucesso do Mato Grosso no controle do desmatamento é mais limitada”.
“Cenários de produção que apoiam um consumo remoto semelhante ao do Mato Grosso provavelmente se tornarão mais prevalentes e dificilmente seguirão um modelo de transição de uso da terra com aumento da cobertura florestal.”
Mato Grosso’s forests particularly benefitted from a shift from extensive clearing for low productivity — and economically marginal — cattle ranching to more intensified and more profitable soy and cattle production. The transition was such that the “area deforested in 2010 was only 11 per cent of the 1996–2005 historical average,” according to DeFries and colleagues. Other countries have comparably less extreme low-productivity land suitable for intensification.
Das 36 nações com mais de 50% de cobertura florestal, os países que os pesquisadores descobriram estar mais perto das comparações ao Mato Grosso foram o Gabão, Serra Leoa, Indonésia, Malásia e Peru (em termos de crescimento em exportações agrícolas); Libéria, Gabão, Brunei e Venezuela (em termos de taxa de urbanização); e Costa Rica, Vietnã e Malásia (em termos de agricultura comercial como um fator de desmatamento). Mas nenhum ainda parece pronto para seguir os passos do Mato Grosso.
“A experiência no sul da Amazônia brasileira ilustra que o desmatamento pode ser controlado simultaneamente com aumentos na produção agrícola, mas políticas e incentivos para atingir esses objetivos ainda não estão em vigor em muitas outras regiões de floresta tropical”, disse DeFries em uma declaração.
Em geral, a tendência no Mato Grosso se reflete no resto da Amazônia brasileira, onde a taxa de desmatamento em 2011-2012 ficou mais de 80% abaixo do mais recente pico, em 2003-2004. A queda tem sido atribuída a uma variedade de fatores, incluindo tendências macroeconômicas, aumento da aplicação da lei, novas áreas protegidas, políticas governamentais, e iniciativas do setor privado provocadas em parte por pressão de ativistas ambientais. Entretanto, alguns grupos ambientalistas temem que mudanças recentes na política florestal do Brasil, que regula a quantidade de florestas que um proprietário deve preservar, assim como um aumento no estímulo para novos projetos de infraestrutura, poderiam reverter um pouco dos recentes ganhos ambientais. Eles apontam um forte crescimento na derrubada de florestas desde julho de 2012 como um possível indício de uma reversão.
Citação: DeFries R, Herold M, Verchot L, Macedo MN, Shimabukuro Y. 2013 Export-oriented deforestation in Mato Grosso: harbinger or exception for other
tropical forests? Phil Trans R Soc B 368: 20120173. http://dx.doi.org/10.1098/rstb.2012.0173