Uma nova espécie de mosca-forcéps chamada Austromerope brasiliensis foi descoberta recentemente no Brasil e descrita na revista Zoo Keys. Esta é a primeira descoberta da espécie na região Neotropical e apenas a terceira em todo o mundo conhecido. A mosca-forcéps, muitas vezes chamada de earwig porque os genitais masculinos se assemelham aos da tesourinha (nome comum dado aos indivíduos da ordem Dermaptera – earwig, em inglês), continua a ser um enigma científico devido à falta de informações sobre a família.
As moscas-forcéps compõem a família Meropeida, que acredita-se existir desde que os continentes do mundo foram combinados em um supercontinente (Pangea). Isso significa que a família Meropeidae poderia ter mais de duas centenas de milhões de anos. Mesmo assim, a nova espécie marca a descoberta de apenas o terceiro tipo conhecido da espécie, onde um é conhecido na Austrália e outro na América do Norte.
Pouco se sabe sobre a biologia real da Meropedia. Sabe-se no entanto que a mosca-forcéps tem asas largas que são capazes de dobrar totalmente sobre o abdômen, seu corpo é achatado e sua cabeça é “opisthognathous”, o que significa que tem garras retráteis. A partir de observações, os cientistas concluíram que os adultos são noturnos e residem principalmente no chão. Elas também são capazes de estridulação, ou seja, a produção de som friccionando partes do corpo como um grilo. Na maioria dos casos um artrópode faz isso quando está a procura de acasalamento, alertando os predadores, ou marcando território. No entanto, os cientistas ainda não sabem ao certo porque os indivíduos desta espécie praticam a estridulação. Ainda menos se sabe sobre estágios imaturos ou juvenis da mosca-forcéps, incluindo sua aparência.
O que se pode concluir é que as florestas tropicais do mundo ainda contêm inúmeras surpresas biológicas. A floresta onde foi encontrada esta espécie, também conhecida como Mata Atlântica, é mais antiga do que até mesmo a Amazônia. Abrangendo uma multiplicidade de ambientes de florestas de mangue do litoral até as florestas úmidas, a Mata Atlântica ou Floresta Atlântica, desenvolveu ecossistemas completamente únicos encontrados em nenhum outro lugar, em grande parte devido ao seu enorme tamanho e distância da Amazônia.
No entanto, nos últimos séculos, a Mata Atlântica tornou-se uma das florestas tropicais mais ameaçadas do planeta, bem como uma das menos protegidas, devido ao desmatamento, plantações, pecuária e expansão das populações humanas. A Mata Atlântica encolheu de 1,2 milhões de quilômetros quadrados para menos de 100,00 quilômetros quadrados hoje. Esta redução de tamanho corresponde a uma área equivalente a mais de sessenta e três vezes a cidade de Nova York.
“A descoberta desta nova relíquia de espécie é um sinal importante para reforçar a conservação do bioma brasileiro da Mata Atlântica. Certamente há muitas mais espécies de mecópteros a serem ainda descobertas nessas florestas”, diz Renato Machado, principal autor do estudo juntamente com a Texas A & M University.
Novas espécies de moscas-forcéps descobertas no Brasil: Austromerope brasiliensis. Foto por Machado et al.
Novas espécies de moscas-forcéps descobertas no Brasil: Austromerope brasiliensis. Foto por Machado et al.
Novas espécies de moscas-forcéps descobertas no Brasil: Austromerope brasiliensis. Foto por Machado et al.
A imagem mostra um close-up dos fórceps peculiares do Austromerope. Foto por Machado et al.
CITAÇÃO: Renato Jose Pires Machado, Ricardo Kawada, José Albertino Rafael (2013) New continental record and new species of Austromerope (Mecoptera, Meropeidae) from Brazil. ZooKeys 269: 1–10. doi: 10.3897/zookeys.269.4240.