O Estado brasileiro do Acre tem tido pouca atenção dos amantes de pássaros e cientistas especializados em aves, embora esteja situado profundamente dentro da floresta amazônica. Agora, uma nova pesquisa publicada no jornal Tropical Conservation Science, de acesso aberto no mongabay.com, pelo ornitólogo John J. DeLuca, trabalha para construir uma melhor imagem de aves raras na região, em grande parte, negligenciada. O trabalho é tão mais importante quanto o Brasil-Peru Rodovia Interoceânica e poderia trazer grandes mudanças para a região.
“[A rodovia] pode levar a um aumento drástico do desmatamento em todo o sudoeste da Amazônia e causar um declínio no habitat e populações de espécies de interesse de conservação”, observa DeLuca, acrescentando que no lado positivo, “o mais fácil acesso ao Acre também pode aumentar as oportunidades para o ecoturismo, especialmente os passeios de observação de pássaros focados em espécies raras e de alcance restrito”.
Na realização de mais de 200 pesquisas de aves em ecossistemas de floresta de bambu e primárias, DeLuca descobriu que o flautim-rufo (Cnipodectes superrufus), que só foi descoberto em 2007, era raro, mas ainda presente. A espécie está listada como vulnerável pela Lista Vermelha da IUCN. A maracanã-de-cabeça-azul (Primolius couloni), também listada como vulnerável, era incomum, mas está agora amplamente difundida em toda a região.
Através de entrevistas com 21 caçadores locais, DeLuca também constatou que o gavião-real (Harpia harpyja) e o uiraçu-falso (Morphnus guianensis), ambos listados como quase ameaçados, estavam classificados como de raros a incomums na área. Ambas as espécies eram mortas com a justificafiva de que traziam perigo para o gado.
“É importante notar que não há pesquisas revisadas ou documentação de primeira mão sobre uma ou outra espécie matando gado. Essas percepções podem ser mais baseadas em rumor do que na realidade”, DeLuca escreve, notando que é necessária mais investigação.
Nessas entrevistas, DeLuca também descobriu que os caçadores estão amplamente interessados em oportunidades de ecoturismo.
“O desenvolvimento de uma gerência de ecoturismo feita pela comunidade pode aumentar o apoio local para a conservação da vida selvagem e resultar em menor consumo ou perseguição de espécies raras de aves e outros animais selvagens de interesse de conservação”, escreve ele, apontando para Assis Brasil, na Reserva Extrativista Chico Mendes, como um local privilegiado para iniciar uma operação desse tipo.
CITAÇÃO: DeLuca, J. J. 2012. Birds of conservation concern in eastern Acre, Brazil: distributional records, occupancy estimates, human-caused mortality, and opportunities for ecotourism. Tropical Conservation Science Vol. 5(3):301-319.