Notícias ambientais

Após gigante indonesiano da indústria de papel se comprometer a não mais desmatar, pressões aumentam sobre o seu maior concorrente


Canal de drenagem de turfeiras e pilhas de MTH arrancadas pela fornecedora de madeira da APRIL, a PT. RAPP, na península de Kampar. Algumas árvores, protegidas pela CITES, foram salvas e deixadas de pé. Foto: Eyes on the Forest at N°17’52.36” E102°43’22.29”, em fevereiro de 2012.


Após o gigante indonesiano da indústria de papel, Asia Pulp & Paper(APP), anunciar, na semana passada, que não iria mais utilizar como matéria-prima as fibras oriundas da destruição de florestas tropicais, grupos ambientalistas estão ,agora, pressionando o outro principal produtor de papel a assumir o mesmo compromisso.



Na Terça-Feira, a WWF repetiu o apelo do Greenpeace para a Asia Pacific Resources International Limited(APRIL) para eliminar o desmatamento da sua cadeia de abastecimento. Como a APP, a APRIL tem sido relacionada à transformação em larga escala das florestas tropicais, ameaçadas de Sumatra, em plantações industriais de árvores para a produção de celulose e papel. Esse tipo de plantação tem custado muito caro à rara vida selvagem – orangotangos, tigres, elefantes, e rinocerontes -, ao mesmo tempo em que geram emissões significativas de gases de efeito estufa, provenientes do desmatamento e drenagem das ilhas de turfeiras carbono-densas.



“A APRIL é agora o único maior conversor de floresta natural, dentre os produtores de celulose da Indonésia,” disse Nazir Foead, Diretor de Conservação da WWF-Indonésia, em um pronunciamento. “Nós insistimos para que a companhia mude, imediatamente, o seu modelo empresarial não-sustentável, parando de drenar nossos solos de turfa e de modificar as nossas florestas”.



“A WWF luta para que a APRIL pare de retirar as fibras das florestas tropicais, solucione os conflitos sociais e restaure as florestas e turfeiras que destruiu,” acrescentou Aditya Bayunanda, gestora da área de papel e celulose da WWF-Indonésia.



Análises feitas pela Eyes on the Forest(EOF), uma coalisão de grupos ambientais sumatrianos, incluindo a WWF-Indonésia, mostram que a APRIL desmatou, pelo menos,140.000 hectares (346.000 acres) de floresta tropical entre 2008 e 2011, sendo responsável pela perda de 1/3 de toda a mata, na Província de Riau, durante o período. A WWF-Indonésia diz que dois terços das concessões que suprem a APRIL em Riau estão localizadas em áreas de turfeiras.




Concessões de fornecedores da APRIL na peninsula de Kampar. Concesssões da subsidiária da APRIL, a PT.RAAP são representadas pelo contorno laranja(incluindo uma quadra na ilha de Padang, ao longo da península); concessões de dez fornecedores afiliados, que obtiveram licenças de dois bupatis(chefes do distrito) presos, são representadas pelo contorno vermelho; uma concessão adicional de um fornecedor afiliado é representada pelo contorno amarelo. Cortesia de EoF.



A afirmação da WWF acontece, menos de uma semana, após pedidos similares do Greenpeace e Rainforest Action Network(RAN),grupos ativistas, que ajudaram a liderar a campanha para pressionar a APP a não mais desmatar florestas nativas.



O Greenpeace enviou uma carta a Sukanto Tanoto, o presidente da Royal Golden Eagle International, o conglomerado que é proprietário da APRIL, deixando a empresa em alerta de que logo seria alvo de ativistas, se não colocasse em ordem as suas operações. Enquanto isso, a RAN, que vinha fazendo campanha contra a APRIL, desde 2009, lançou um novo protesto e-mail, por meio do seu web site.



A APRIL “continua a destruir as preciosas florestas e turfeiras da Indonésia, prejudicando os direitos das comunidades locais, – e atualmente não tem planos de parar, ”escreveu Lafcadio Cortesi, defensor da floresta, em um blog. ”É hora da APRIL atender ou suplantar os compromissos assumidos pela APP para proteger as florestas e os direitos humanos.”



Orangotango de Sumatra. Foto: Rhett A. Butler

A nova política de conservação florestal da APP é muito abrangente, aplicando-se a todas as fibras que entram na sua cadeia de abastecimento; se vêm de concessões de propriedade da APP, afiliados, ou de fornecedores independentes. O compromisso proíbe a conversão do elevado teor de carbono e da floresta de alto valor de preservação, a definição do que será determinado por auditores externos. A APP também se comprometeu a solucionar os conflitos sociais, que assolam várias de suas concessões, bem como adotar o conceito de “Consentimento Livre, Prévio e Informado” no engajamento com as comunidades, para desenvolver novas plantações. Essa política poderá custar à APP dezenas de milhões de dólares no desenrolar dos contratos com fornecedores, e que precede à conversão de florestas, já sob concessão. No entanto, o potencial de valorização é substancial. A pressão exercida pelos ativistas tem custado dezenas de milhões de dólares em perda de negócios, em um momento que se está tentando levantar uma quantidade significativa de capital, para cumprir obrigações de dívidas e expandir as finanças. Um acordo similar, firmado em 2011, pela filial da APP, a Golden Agri Resources(GAR), possibilitou à gigante produtora de óleo de dendê a levantar $400 milhões, através de uma oferta de bônus. Apenas dois anos antes, a GAR tinha enfrentado deserções generalizadas dos clientes, devido a suas ligações com o desmatamento e a destruição das turfeiras.



Ao mesmo tempo em que o anúncio da APP estava sendo amplamente elogiado, nem todo mundo estava convencido de que o gigante produtor de papel iria acatar o acordo. A APP falhou em cumprir promessas anteriores de eliminar, progressivamente, a conversão das florestas ricas em vida selvagem. Porém, agora o Greenpeace concordou em suspender a sua campanha contra a APP, na esperança de que a sua política florestal possa levar outros do setor silvícola da Indonésia – mais notadamente a APRIL – a seguir em direção a práticas mais ecológicas. Tal mudança no setor privado poderia criar uma nova dinâmica, no âmbito dos ministérios da Indonésia, para desenvolver e implementar políticas de apoio ao desenvolvimento da Lei do carbono, incluindo-se a aceleração do processo de destinação das áreas preservadas, e o oferecimento de incentivos para desenvolver plantações em terras não-florestadas.



Exit mobile version