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Amazónia sob pressão


Construção de um canal para a obra do projecto da central hidroeléctrica de Belo Monte, próximo de Altamira, tirada por Daniel Beltrá para a Greenpeace. Quando estiver a funcionar, será a terceira maior do barragem hidroeléctrica do mundo, inundando 400.000 hectares e desterrando cerca de 20.000 pessoas. Imagem  Daniel Beltrá / Greenpeace.



As construtoras de barragens procuram sofregamente capitalizar o potencial hidroeléctrico do Amazonas, colocando constantemente em risco a viabilidade da floresta mais importante do Mundo e a sua principal artéria, o rio Amazonas – é isto que indica uma nova avaliação que está a registar a fulminante expansão de barragens na região.



O relatório, publicado na forma de um atlas por 11 ONGs e institutos de investigação, que constituem a Rede Amazónica de Informação Sócio-ambiental Georreferenciada (RAISG) , revela que nos nove países que contém a Amazónia já se construíram ou planeiam construir-se mais de 400 barragens, todas na bacia hidrográfica do Amazonas. São já 176 as barragens construídas, e mais 246 estão em fase ou de construção ou de planeamento. Destas novas 246, 67 planeiam ter uma capacidade superior a 30 megawatts de potência.



O Brasil, com 231 barragens em fase de planeamento, é o pais que tenciona construir o maior número. O gigante sul-americano estima que a sua quota do potencial hidroeléctrico do Amazonas é de cerca de 260.000 MW, o equivalente ao necessário para fornecer energia a 250 milhões de lares americanos.



As empresas brasileiras de construção estão também por trás de muitas das barragens nos países vizinhos. O Peru tem 11 centrais hidroeléctricas planeadas, enquanto a Bolívia estima construir mais quatro, segundo o relatório.



As secções média e baixa do Amazonas são as mais procuradas para as barragens, com 79 projectos. Destas, 16 terão mais de 30 MW de capacidade. Só nesta esta área são já 34 as barragens concluídas. O rio Tocantins, no sul da Amazónia Brasileira, é também alvo de um projecto de aproveitamento hidroeléctrico megalómano, que se traduz na construção de 20 barragens de grande capacidade. As partes mais altas do Amazónia poderão ter até 13 barragens.



Number of hydropower by country of the Amazon, by type and phase


Planned Current
Country > 30MW Total > 30MW Total Total
Brasil 176 55 231 87 22 109 340
Perú 2 9 11 31 2 33 44
Bolivia 1 3 4 1 9 10 14
Ecuador 10 10 10
Venezuela 6 6 6
Colombia 1 1 1
Guyane Française 1 1 1
Suriname 1 1 1
total 179 67 246 120 51 171 417




Os ecologistas referem uma série de problemas graves com as grandes barragens em ecossistemas tropicais, particularmente à escala em que se estão a projectar estes empreendimentos na Amazónia. As grandes barragens interferem com o ciclo hidrológico e com o fluxo de nutrientes no ecossistema, e restringem ou bloqueiam as rotas migratórias dos peixes de rio que se vêem assim impedidos de desovar e de assegurar a continuação destas espécies. As áreas inundadas provocam grandes quantidades de emissões de gases de efeito estufa. Falhas nos projectos, presentes em várias barragens tropicais, provocam a libertação de gás metano proveniente do fundo das represas, que tem o efeito de exacerbar os impactos climáticos prejudiciais. E, finalmente, as inundações das bacias hidrográficas vão desterrar comunidades inteiras que, tradicionalmente, assentam a sua subsistência no rio, e vão inviabilizar economicamente as povoações a jusante arrasando os números de peixe para pesca.



O atlas, porém, refere que muitos destes temas são recorrentes no diálogo em torno dos projectos das barragens. O facto é que os verdadeiros impactos das barragens são amplamente desconhecidos. Um exemplo disso é a polémica barragem de Belo Monte, de 11.233 MW de potência geradora. Os políticos envolvidos têm assegurado constantemente que a área afectada pela barragem de Belo Monte, no Sul da Amazónia, não faz parte da área da floresta, e que não se vai inundar área de floresta tropical. A verdade é que, como todo o efeito, dezenas de milhares de hectares vão ficar submersos pela barragem. De acordo com os analistas, para o projecto ser financeiramente viável terão de ser construídas duas barragens adicionais a montante da barragem de Belo Monte – um facto que muito pouco se registou até agora no debate em torno deste projecto. Entretanto, sem qualquer hesitação, os apoiantes da barragem continuam a afirmar que estas grandes centrais hidroeléctricas são uma forma de produzir “energia limpa”.



“As barragens desempenham um papel central no greenwashing na Amazónia”, diz Philip Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazónia, em Manaus, num simpósio em Junho de 2012 em Bonito, no Brasil. “As barragens libertam metano, um gás com um impacto no aquecimento global bem maior que o do dióxido de carbono por tonelada emitida, principalmente nas primeiras décadas após a sua construção.”



Para alem das barragens, o atlas alerta para outras importantes ameaças para a Amazónia, entre elas a desflorestação, o boom da exploração mineira, o aumento da extracção de petróleo e gás natural, a proliferação dos projectos de exploração hidroeléctrica, a construção de estradas e o aumento da incidência de fogos florestais.



CITATION: RAISG 2012. Amazonía bajo presión [PDF-Spanish}



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