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A Recuperação da Mata Atlântica depende do uso histórico do solo

A intensidade do uso do solo influencia a rapidez de regeneração das florestas tropicais, diz uma nova pesquisa. Florestas tropicais são a prioridade para a conservação da biodiversidade. Elas são as áreas principais de endemismo, mas algumas são também os habitat mais ameaçados do globo. A Mata Atlântica se destaca entre outras florestas tropicais, tendo uma estimativa de 8,000 espécies de plantas endêmicas e mais de 650 vertebrados endêmicos. Entretanto, restam apenas 11 por cento dessas florestas. A qualidade do que ainda permanece é também uma preocupação: 32 a 40 por cento do restante são pequenas áreas de floresta secundária. Embora a restauração dessas florestas secundárias levaria um longo tempo para mitigar a perda de cobertura florestal e biodiversidade em outros lugares, não é sempre possível recuperar a riqueza, diversidade e composição da flora. O uso histórico do solo pode fazer essas mudanças irreversíveis.



Publicado no jornal de acesso aberto da mongabay.com, Ciência da Conversação Tropical, o estudo pesquisou os efeitos de diferentes históricos do uso do solo no processo de restauração das áreas da Mata Atlântica, na Reserva Ecológica Michelin, Brasil.



“O distúrbio histórico influenciou a riqueza, a diversidade e a composição da flora na floresta estudada” escreveu Rocha-Santos e Talora, autores líderes do estudo.



The Atlantic Forest outside of Rio de Janeiro. Photo by: Rhett A. Butler.
A Mata Atlantica, fora do Rio de Janeiro. Foto: Rhett A. Butler.

Os mais altos valores de riqueza e diversidade foram encontrados em áreas com um histórico de baixo impacto na exploração da madeira. Nessa área foram registrados 93 espécies de 35 famílias. As áreas que sofreram desmatamento agricultural retornaram 77 espécies de 38 famílias, enquanto aquelas com histórico de alto impacto de exploração da madeira tiveram os valores de riqueza e diversidade mais baixos entre os três históricos do uso do solo: É uma estrutura de comunidade arbórea composta de 75 espécies com mais de 32 famílias.



“A área em recuperação depois de baixo impacto na exploração da madeira apresentou alto nível de riqueza e diversidade, indicando que esse distúrbio foi o motivo da causa rápida de recuperação. Por outro lado, a área submetida ao alto impacto na exploração da madeira mostrou o nível de riqueza e diversidade mais baixo, sugerindo que quanto maior a intensidade de exploração, maior o tempo necessário para recuperação das características dessa floresta,” disse os autores.



Enquanto a diversidade nas áreas de desmatamento foram similar às áreas de alto nível de exploração da madeira, pesquisas anteriores mostraram que áreas de desmatamento apresentam baixa riqueza apenas nos primeiro anos (5-20 anos), e depois de 40 a 60 anos de recuperação, a composição e diversidade dessas florestas são similares às florestas tropicais com menos distúrbios. Estudos em florestas tropicais também indicam que a predominância das maiores espécies (onde são representadas por apenas algumas espécies) é encontrada em áreas em estado inicial de sucessão. As áreas expostas à exploração seletiva da madeira, indiferente da intensidade, parecem estar em um estado de recuperação mais avançado do que as áreas expostas ao desmatamento. Isso foi também registrado em florestas tropicais africanas. As ações de enriquecimento podem então serem necessárias para acelerar a recuperação das florestas que ainda restam.




“Certas ações podem ajudar na recuperação do processo ecológico como ciclagem de nutrientes, polinização biótica e dispersão, o qual pode ter sido corrompido pelo uso anterior do solo”, concluíram os autores.



O fato de ser necessária apenas pequena intervenção em áreas onde a cobertura florestal já esta estabilizada, diminui bastante o custo de restauração. Política à parte, nós não temos desculpas quando se trata da recuperação da Mata Atlântica.





CITAÇAO: Rocha-Santos, L. and Talora, D. C. 2012. Recovery of Atlantic Rainforest areas altered by distinct land-use histories in northeastern Brazil. Tropical Conservation Science Vol. 5(4):475-494 .


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