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Religião e governo chinês conduzem a matança global de elefantes

The 3rd Annual New York Wildlife Conservation Film Festival (WFCC.org) runs from January 30 – February 2, 2013. Ahead of the event, Mongabay.com is running a series of Q&As with filmmakers and presenters. For more interviews, please see our WCFF feed.



Elephant in Kenya.
Elephant in Kenya. Photo by Rhett A. Butler.


De acordo com estimativas, mais de 30 mil elefantes foram mortos nas savanas e florestas africanas e asiáticas para suprir o mercado de marfim em 2012. A carnificina representa até 4% da população mundial de elefantes.



Alguns conservacionistas estão alertando que os animais correm riscos iminentes de extinção em alguns países.



Bryan Christy.
Bryan Christy

Apesar do apuro dos elefantes estar cada vez mais aparente devido a cobertura da imprensa, menos compreendido é o papel da religião no incentivo ao comércio do marfim. Esta questão foi explorada em profundidade por Bryan Christy em uma matéria de capa da revista National Geographic em outubro de 2012.



A reportagem, intitulada ‘Sangue e Marfim’, detalhou como a demanda por artigos religiosos está conduzindo em larga escala a matança dos maiores animais terrestres do mundo.



Porém, as vitimas vão além dos elefantes. O comércio de marfim está financiando guerras na África e possivelmente até atividades terroristas, enquanto centenas de guarda-parques e conservacionistas estão sendo mortos nos últimos anos. O comércio é cada vez mais controlado por sindicatos criminosos, que também traficam armas, drogas e pessoas. Christy toca nestes assuntos e mais nesta matéria.



Em uma entrevista ao Mongabay.com antes de participar, na semana que vem, do 3° Festival Anual de Filmes de Conservação da Vida Selvagem, em Nova Iorque, Christy discutiu sobre o comércio de marfim, assim como sobre a reação à sua matéria na capa da National Geographic.



Além da revista, ele já publicou matérias nas revistas ‘Foreign Policy’ e ‘Playboy’, e em vários periódicos da área jurídica. Ele é autor de ‘O Rei Lagarto’, um filme detalhado sobre o comércio deste réptil, que será lançado pela FOX 2000 Pictures.





Entrevista com Bryan Christy



Mongabay.com: Qual o seu background?



Bryan Christy: Eu era advogado em Washington, DC, antes de ser jornalista. Me especializei em comércio internacional e investimentos, e gostava muito.



Mongabay.com: Qual foi a maior surpresa durante o seu trabalho na reportagem ‘Sangue e Marfim’?



Fiquei surpreso que ninguém jamais havia falado sobre o papel da religião e dos religiosos no comércio atual de marfim. Era tão óbvio nos países que uma porcentagem significativa do marfim negociado era entalhado para itens religiosos e espirituais, e mesmo assim, ninguém mencionou isso. Ao contrario, a imprensa e muitas ONGs focam no papel dos países, como se fossem homogêneos e pudessem ser convocados.



Bryan Christy.
Blood Ivory also revealed the surprising role the Chinese government plays in the ivory business.

Também fiquei surpreso que o governo chinês tenha um interesse tão direto no comércio de marfim. Ele controla a associação de artesãos que supervisiona o comércio de marfim no país. É o maior player do setor, tem lojas de varejo e patrocina treinamentos em universidades de uma nova geração de entalhadores.



Após o leilão de 2008, o país construiu a maior fábrica para entalhe de marfim do mundo, claramente esperando uma expansão no comércio. No último verão, representantes chineses na CITES declararam que a proibição do comércio de marfim era um fracasso e tentaram expandir ainda mais o comércio ao incluir não apenas o marfim de elefantes naturalmente mortos, mas também aqueles da caça. As vendas do marfim já abrem as portas para a ilegalidade, mas permitir que caçadores clandestinos vendessem seu marfim abriria ainda mais a porta.



Fiquei surpreso que tanta ênfase é dada às estatísticas de apreensão de marfim para embasar a legislação e as decisões políticas sobre o comércio internacional. As estatísticas são úteis, mas podem ser desastrosamente cegas para o que está acontecendo lá fora, e podem ser manipuladas. Como disse J. Edgar Hoover, apenas fazer a lei valer pelas estatísticas é completamente ineficiente (statistical law enforcement alone is ineffective law enforcement entirely).



Finalmente, estou surpreso que para todas as comparações que os especialistas fazem entre o comércio da vida selvagem, armas e narcóticos, nem um único figurão do comércio transnacional de marfim na África e Ásia tenha sido identificado, muito menos preso. Nenhum. Em 24 anos! Não deve haver discussão sobre a legalização do marfim, ou de vendas individuais, é claro demais que nenhum país pode de policiar adequadamente.



Mongabay.com: Como foi a reação à matéria?



Bryan Christy: A reação foi tanto imediata, quanto duradoura. Nas Filipinas, a política nacional conduziu varreduras ao redor do país. Na Itália, a polícia ambiental investigou lojas no Vaticano e em Abruzzo. Devido às cartas enviadas à National Geographic, o Vaticano recentemente se comprometeu em melhorar a situação. A Secretária de Estado Hillary Clinton organizou uma mesa redonda sobre o comércio da vida selvagem em novembro e uma convenção partidária conjunta no Congresso norte-americano também foi realizada para discussões sobre o marfim.



Em março, acontecerá um encontro da CITES com questões significativas em jogo, especialmente a idéia de criação de um mercado internacional de marfim na linha do sistema de comércio de diamante. Isto seria um desastre para os elefantes.



Elephant in Kenya.
Elephant ivory poaching impact in Africa. Courtesy of National Geographic. Click to enlarge and view interactive version.



Mongabay.com: Você enxerga esta matéria incentivando outras iniciativas (livros, filmes, etc)?



Bryan Christy: A National Geographic produziu um filme, ‘Uma Batalha para os Elefantes (Battle for the Elephants), que vai ao ar no canal PBS em 27 de fevereiro de 2013. Ele abrange parte da minha investigação na China. Investi muito na reportagem da National Geographic, certamente um esforço que merece um livro, e estou mais do que feliz e grato que a revista me deu o espaço necessário.



Mongabay.com: A visibilidade gerada por uma matéria como esta torna mais difícil para que você faça futuras reportagens?



Bryan Christy: Certamente há uma troca, mas a conexão é feita com a pessoa que divulga a matéria. Consegui uma rede de contatos enorme como resultado desta reportagem. Também tentei muito mesmo dar ouvidos a ambos os lados da história. A maioria das pessoas compreende isto.



Mongabay.com: O que mais está no seu radar atualmente?



Bryan Christy: Tenho um livro sobre crime organizado e mais algumas coisas no forno.



bryanchristy.com

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