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Em risco de extinção, os macacos muriquis no Brasil são cheios de surpresas

A notável recuperação dos macacos muriquis no Brasil pode não contar toda a história


No papel (ou seja, em tese), os muriquis do norte (Brachyteles Hypoxanthus) parecem ser uma história de recuperação/conservacionista. Três décadas atrás, existia somente 60 desses dóceis primatas arbóreos vivendo em uma pequena parte da Floresta Atlântica na costa leste do Brasil. Agora existem mais de 300.



Mas os números não contam toda a história, de acordo com a antropologista Karen Strier e o ecologista teórico Anthony Ives da Universidade de Winsconsin, Madison. Os dois analizaram 28 anos de informações demográficas dos muriquis, um dos mais longos estudos desse tipo. Eles descobriram padrões surpreendentes sobre a taxa de natalidade e mortalidade, proporções de sexo e até a frequência que os macacos saem das árvores. Essas descobertas levantam questões sobre a longa sobrevivência dos muriquis e qual a melhor maneira de protegê-los. Os cientistas escreveram na edição de 17 de setembro da PLos ONE.




Macacos muriquis do norte, em uma população selvagem na Floresta Atlântica brasileira foram fotografados em 2008. A antropologista da Universidade de Wisconsin-Madison, Karen Strier devotou 28 anos aos estudos desses macacos criticamente em risco de extinção. Foto: cortesia de Carla B. Possamai/Universidade Federal do Espírito Santo

Embora a população dos muriquis esteja crescendo, seu território, não está. Os macacos habitam 957 hectares da floresta (mais ou menos 2.360 acres) cercados por plantações de café e fazendas. Apesar das vantagens de viver em uma área particular – A Reserva Particular do Patrimônio Natural Feliciano Miguel Abdala, em Minas Gerais – Eles ainda enfrentam um dos maiores problemas da conservação biológica: fragmentação do habitat.



“Normalmente, quando as populações aumentam e os recursos se tornam limitados, as fêmeas não produzem muitas crias”, disse Ives numa entrevista com mongabay.com. Entretanto,as fêmeas muriquis tiveram mais bebês devido aos intervalos serem mais curtos entre os nascimentos.



Em outro resultado surpreendente, mais muriquis machos no auge de suas junventudes morreram quando a população cresceu. A maioria de populações em crescimento tem uma alta taxa de mortalidade para os machos mais jovens e os mais velhos, os quais não competem tão bem, ”Mas o oposto aconteceu com os muriquis”, disse Ives.



A proporção sexual deles também mudou. No início do estudo, dois terços dos muriquis eram fêmeas; no final, dois terços eram machos. “Outros estudos de população mostraram uma reversão similar”, disse Strier. Embora a razão não seja clara, as consequências a uma população em perigo são óbvias: Poucas fêmeas produzem uma população menor.



Além das estatísticas surpreendentes, os muriquis mudaram também seu comportamento. Tipicamente arbóreos, os macacos começaram a passar mais tempo no solo. Strier acha que essa mudança vertical pode ter levado ao inesperado aumento das taxas de fertilidade e mortalidade. A procura de comida no solo pode favorecer uma alimentação mais nutritiva, fazendo com que as fêmeas mais saudáveis reproduzam mais rápido. “Descer das árvores também pode expor mais machos a perigosos predadores”, disse ela.



“O estudo mostra que apesar da população estar crescendo, ela não está fora de perigo”, Strier disse a mongabay.com “Não é apenas números, é a dinâmica,” ela disse”.



“O trabalho é extraordinário”, disse Anthony Rylands, vice presidente do IUCN SSC Grupo Especialista em Primatas, Va. “Idealmente, você gostaria de fazer comparação a estudos similares, e realmente não há nenhum.”




Um novo estudo relata um aumento no uso do solo pela população dos macacos muriquis no Brasil, que por um lado são conhecidos como arbóreos. Cientistas liderados pela antropologista Karen Strier da University de Wisconsin-Madison acreditam que a inovação de comportamento pode ser à base das mudanças demográficas nos últimos 30 anos, incluindo o aumento inesperado em ambos, fertilidade e mortalidade. Foto: Karen Strier, Universidade de Wisconsin-Madison

“Apesar dos resultados incomuns, o quadro geral é bom: a população está crescendo,” disse William Morris, biólogo
conservacionista na Universidade de Upssala, Suécia. “Mas isso é como ações no portfolio. Atuações passadas não garantem atuações futuras,” Morris disse a mongabay.com. “Essa é uma ótima mensagem para observarmos a conservação de populações raras .”




Strier planeja continuar monitorando os muriquis, com um foco no porque as fêmeas são agora mais férteis. “A chave para o futuro é expandir suas áreas na floresta para favorecer o crescimento da população”, ela disse. Corredores para ligar seus fragmentos na Floresta Atlântica estão em desenvolvimento há vários anos.



E o que mais? o muriqui é um candidato para se tornar o mascote dos Jogos Olímpicos de Verão em 2016. A posição de celebridade talvez possa ajudar na sua conservação.





CITAÇÃO: Strier K and Ives A (2012) Unexpected Demography in the Recovery of an Endangered Primate Population. PLoS ONE. 7(9):e44407. doi:10.1371/ journal.pone.0044407





Elizabeth Devitt é estudante de pós-graduação no Programa de Communicação da Ciência na Universidade da Califórnia, Santa Cruz



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