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Brasil decreta abertura de território tribal à exploração mineira e construção de barragens, por «interesse nacional»

Diretiva também congela demarcação de novos territórios indígenas


Map of indigenous lands in Brazil as of April 2008.Mapa de territórios indígenas desde Abril de 2008. Imagem cedida pela FUNAI.


Uma portaria assinada a 16 de julho pelo Advogado-Geral da União do Brasil poderá prejudicar os esforços das tribos indígenas pelo reconhecimento governamental dos seus territórios tradicionais, relata a Survival International, uma associação de defesa de direitos humanos centrada nos povos nativos.



A portaria «abre todas as áreas indígenas à exploração mineira, barragens, estradas, bases militares e outros empreendimentos de “interesse nacional” sem a necessidade de consultar ou ir ao encontro das preocupações dos povos indígenas», de acordo com um especialista familiarizado com a portaria, que prefere manter o anonimato. Também restringe a demarcação de novos territórios indígenas.



A Survival International refere-se ao documento como «desastroso», citando a luta da tribo Guarani, cujos membros esperam em «acampamentos de beira de estrada ou reservas superpovoadas» que as suas terras ancestrais sejam demarcadas e distribuídas.



«Esta portaria coloca a nossa sobrevivência num enorme perigo», refere um porta-voz Guarani citado pela Survival International. «Estamos a ser ignorados como seres humanos, como primeiros ocupantes desta terra. É o princípio do extermínio do povo indígena.»




Pai e filho da tribo Kayapo, Brasil.

De acordo com o especialista em terras indígenas consultado pelo mongabay.com, a intenção original da portaria seria ultrapassar os problemas da implementação da área indígena Raposa/Serra do Sol no estado brasileiro de Roraima, no norte, mas o poderoso bloco ruralista no Congresso pressionou a aplicação da diretiva a todas as áreas indígenas. Os ruralistas também forçaram com sucesso, no início do ano, o enfraquecimento do Código Florestal brasileiro, que determina a área de floresta que os proprietários das terras são obrigados a preservar. (Está pendente a versão final do Código Florestal.)



No entanto, protestos sobre a portaria levaram a Advocacia-Geral da União a suspender a medida até que haja uma decisão judicial sobre a matéria. A Survival International e várias organizações indígenas brasileiras apelaram à revogação integral da portaria.



Esta medida foi aprovada apenas um mês depois de mais de 1200 cientistas tropicais, reunidos por ocasião do Congresso Anual da ATBC (Associação para a Biologia Tropical e Conservação), terem alertado para esta possibilidade.



Os territórios indígenas cobrem sensivelmente 22% da Amazónia Legal do Brasil. As áreas geridas pelos grupos indígenas têm taxas de desflorestação inferiores às das florestas não protegidas.



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