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Roedores salteadores preenchem o papel dos mega mamíferos, ajudando a espalhar as sementes das árvores tropicais

An agouti in Panama. Photo by: Rhett A. Butler.
Um agouti no Panamá. Foto de: Rhett A. Butler.


De modo a dispersarem as suas sementes, as árvores tropicais, produtoras de frutos grandes, contavam provavelmente com mamíferos de grandes dimensões, que vaguearam a Terra há cerca de 10,000 anos atrás. Mas, de acordo com um novo estudo publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), depois da extinção de gigantes como o mastodonte, os roedores ladrões – aqueles que escavam e enterram de forma contínua as sementes de outros roedores – podem estar a cumprir essa tarefa.




Historicamente, as árvores tropicais como a palma (Astrocaryum standleyanum) contavam com que a fauna de maior porte comesse os seus grandes frutos e espalhasse as sementes neles contidas. Com a extinção dos grandes mamíferos, “a questão é, como é que esta árvore conseguiu sobreviver durante 10,000 anos se os seus dispersores de sementes estão extinctos,” disse o co-autor do estudo, Roland Kays, num comunicado à imprensa.



A resposta pode estar na actividade desonesta de pequenos roedores acumuladores-dispersores. O Agouti, um roedor comum encontrado na América Central e do Sul, é há muito conhecido por enterrar sementes, mas o que surpreendeu os investigadores foi “a constante escavação, transporte e enterramento das sementes, vezes sem conta,” afirma Kays.



A dispersão de sementes a grandes distâncias resultou de um comportamento anormal: retaliação. Os indivíduos cujas sementes tinham sido roubadas mostraram uma tendência para roubar sementes de outros, e isto ajudou a espalhá-las para além do alcance de um só Agouti. De acordo com o estudo, “a dispersão de sementes através das fronteiras das áreas habitacionais foi consequência deste roubo recíproco.”



De forma a capturar os ladrões, os investigadores contaram com uma combinação de câmaras de vídeo-vigilância e transmissores de rádio, para captarem e identificarem quer as sementes quer os Agoutis. Esta técnica levou-os a perceber que apenas 16 por cento das sementes desenterradas eram recuperadas pelos seus donos. Além disso, ao contrário de serem comidas, 88 por cento das sementes escavadas eram transportadas para um novo local e novamente enterradas. Este movimento ajudou a dispersar as sementes até cerca de 280 metros do seu ponto de partida.



Além de ajudarem a prevenir que certas espécies de árvores fiquem extinctas, os roedores ladrões podem também ter um papel benéfico no futuro.



“Quando pensamos na mudança climática global e na alteração dos habitats, para que uma floresta se mova para novas áreas, as árvores precisam que as suas sementes se movam para novas áreas,” elabora Kays num comunicado de imprensa. Mesmo na ausência de mamíferos de grandes dimensões, os roedores ladrões podem continuar a providenciar uma forma para que isto aconteça.






CITATION: Jansen, Patrick A., Ben T. Hirsch, Willem-Jan Emsens, Veronica Zamora-Gutierrez, Martin Wikelski, and Roland Kays. 2012. “Thieving Rodents as Substitute Dispersers of Megafaunal Seeds.” Proceedings of the National Academy of Sciences (July 16). doi:10.1073/pnas.1205184109.




Tyler Lark é um estudante de Ambiente e Recursos que está a investigar a alteração no uso de terrenos agrícolas no Center for Sustainability and the Global Environment (SAGE), na Universidade de Wisconsin-Madison.




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