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96% das espécies do mundo ainda não foram avaliadas pela Lista Vermelha

A IUCN lançou a atualização 2012 da Lista Vermelha, adicionando 247 espécies às categorias de ameaçadas



The king cobra has been evaluated by the IUCN Red List for the first time and listed as Vulnerable. Photo by: Rhett A. Butler.
The king cobra has been evaluated by the IUCN Red List for the first time and listed as Vulnerable. Photo by: Rhett A. Butler.


Cerca de 250 espécies foram adicionadas às categorias ‘ameaçadas’ – ou seja, estão listadas como Vulneráveis, Em Perigo ou Criticamente em Perigo – na atualização deste ano da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). As 247 espécies adicionadas, incluindo sessenta de aves, perigosamente impulsiona o número de espécies ameaçadas globalmente para perto de 20 mil.



No entanto, até agora, a Lista Vermelha avaliou apenas 4% das espécies conhecidas no mundo. A situação dos outros 96% é desconhecida pelos cientistas.



“Ampliar tanto o número quanto a diversidade de espécies analisadas pela Lista Vermelha é imperativo se quisermos ter uma compreensão clara do nosso impacto sobre o mundo natural”, comentou Richard Edwards, chefe executivo do Wildscreen, que está trabalhando com a IUCN para a conscientização sobre espécies ameaçadas.



A lista deste ano adicionou cobras do leste asiático, uma atualizações das espécies de aves mundiais, e dois primatas, o macaco zogue-zogue (Callicebus caquetensis) e o macaco-espirrador (Rhinopithecus strykeri), esses dois últimos na categoria ‘Criticamente Ameaçados’, a mais severa antes da extinção.


Até agora, a lista da IUCN avaliou 63.837 espécies, incluindo quase todas as aves, mamíferos e anfíbios conhecidos. Um quarto dos mamíferos, 13% das aves e, o mais chocante, 41% dos anfíbios estão atualmente ameaçados de extinção. No geral, 31% das espécies analisadas estão nesta categoria.



Cobras e aves



Decimated by poisoning, the white-backed vulture has been uplisted to Endangered. Photo by: Rhett A. Butler.
Decimated by poisoning, the white-backed vulture has been uplisted to Endangered. Photo by: Rhett A. Butler.



A atualização de 2012 da Lista Vermelha revelou que 10% das cobras encontradas no sudeste asiático estão ameaçadas, muitas devido a agricultura, fabricação de antídotos e comércio de peles decorativas. Uma das mais famosas, a cobra-rei (Ophiophagus hannah) foi listada como vulnerável por causa da perda de habitat e exploração com fins medicinais. Outra cobra muito conhecida, a píton-birmanesa (Python bivittatus) também é considerada vulnerável pela super exploração para alimentação e pele. O desmatamento também coloca em perigo muitas outras.



“More than half of the snake species identified as threatened with extinction—57%—are at most risk from habitat loss and degradation. The Malaysian island Pulau Tioman is home to three of the Critically Endangered reptile species—the Pulau Tioman ground snake, Boo-Liat’s kukri snake and a recently described reed snake, Oligodon booliati—that are under threat from development destroying the small area of remaining forest. This could result in their extinction within a decade,” explains Russell Mittermeier, IUCN Vice President and President of Conservation International.



“Mais da metade das espécies de cobra identificadas como ameaçadas – 57% – estão em risco pela perda de habitat e degradação”, explicou Russell Mittermeier, vice-presidente da IUCN e presidente da Conservação Internacional.



Até o momento, a Lista Vermelha analisou apenas 38% dos répteis do mundo, tornando-os a categoria de vertebrados menos conhecida. A avaliação das cobras no leste asiático contou com o apoio do Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos.


Neste ano também houve atualização das mais de 10 mil espécies de aves do mundo, empreitada realizada a cada quatro anos. A conclusão é uma preocupação especial sobre as aves da Amazônia. O status de 100 espécies amazônicas foi atualizado com níveis maiores de ameaça, incluindo o joão-de-barba-grisalha (Synallaxis kollari) – passando de ameaçado para criticamente ameaçado – e o chororó-do-rio-branco (Cercomacra carbonaria) – pulando de quase ameaçado para criticamente.



“Anteriormente, subestimamos o risco de extinção que muitas aves da Amazônia estão enfrentando”, explica Leon Bennun, diretor de Ciência, Politicas e Informação da Birdlife International. “Porém, dado o recente enfrequecimento da legislação florestal brasileira, a situação pode ficar pior do que os estudos recentes apontam”.



Abutres africanos também levaram um golpe, assim como seus primos asiáticos, devido principalmente ao envenamento. Tanto o abutre-de-costas-brancas (Gyps africanus) como o abutre-de-rüppell (Gyps rueppellii) passaram de quase para ameaçados.



Porém, nem todas as noticias da lista são ruins. Esforços direcionados de conservação tiraram o pássaro Pomarea dimidiate da beira da extinção. Endêmicos das ilhas Rarotonga (apenas existem lá), esta ave saiu da categoria criticamente ameaçado para vulneravel, mas ainda depende de ações conservacionistas.



O formigueiro-do-litoral (Formicivora littoralis) , nativo das restingas brasileiras foi rebaixado de criticamente ameaçado para ameçado após a descoberta que a sua população é um pouco maior do se estimava inicialmente.



Mas essas espécies ainda são minoria, já que, ao contrario da maior parte das espécies ao redor do globo, elas foram avaliadas pela Lista Vermelha. Conforme as suas conclusões, 68% dos peixes, 95% das plantas, 99,6% dos insetos e 99,7% dos fungos ainda não foram estudados. Há tempos a Lista Vermelha sofre com a falta de recursos financeiros e depende muito de trabalho voluntário para as análises e atualizações.



Em 2010, pesquisadores pediram US$ 60 milhões para triplicar o numero de espécies avaliadas, incluindo mais 35 mil vertebrados, 38 mil invertebrados, 25 mil plantas e 14.500 fungos. Os cientistas argumentam que tais análises essenciais criariam o tão necessário “barômetro da biodiversidade”. Até agora, a iniciativa não tem apoio.



Extinção e redescoberta



After missing for over 60 years, the Hula painted frog was rediscovered in Israel. This photo shows the rediscovered female that has brought hope that the species could still be saved. Photo by: Mickey Samuni-Blank.
Depois de desaparecido por mais de 60 anos, o sapo pintado Hula foi redescoberto em Israel, trazendo a esperança de que a espécie pode ainda ser salva. Foto: Mickey Samuni-Blank



A Lista Vermelha registrou 801 extinções desde 1500. Além disso, foram adicionadas quatro espécies à categoria ‘Extinta’, duas de moluscos – Pleurobema perovatum e Stagnicola pilsbryi – e duas de plantas da República Democrática do Congo, Acalypha dikuluwensis e Basananthe cupricol, apagadas da superfície pela mineração de cobre.



Algumas possíveis extinções, entretanto, ainda não foram constatadas pela Lista Vermelha já que a organização espera até que não haja duvidas que o último individuo morreu. Por exemplo, um estudo foi publicado neste ano declarando que a espécie de morcego Pipistrellus murrayi estava extinta desde 2009, porém a Lista ainda o considera como criticamente ameaçado.



O golfinho do Rio Yangtze (Lipotes vexillifer) também permanece na lista como criticamente ameaçado, apesar de muitos pesquisadores acreditarem que a espécie provavelmente desapareceu de vez. Uma pesquisa de 2006 não encontrou um único golfinho.



Há uma razão pela qual a Lista Vermelha continua conservadora no anuncio da extinção, já que neste ano duas espécies conseguiram sair da categoria ‘Extinto’ para criticamente ameaçado: o sapo-hula-pintado (Discoglossus nigriventer) e o gastrópode Rhodacmea filose, uma pequena lesma dos Estados Unidos. As duas espécies foram redescobertas no meio selvagem. O sapo-hula pintado não era visto desde 1955.



Há décadas cientistas alertam que o mundo pode em breve entrar em uma época de extinções em massa. Dada a destruição e degradação ambiental atuais, pesquisadores estimam que as extinções podem estar ocorrendo entre cem e mil vezes mais rápido do que as taxas naturais (estimadas através de fósseis).



As espécies estão ameaçadas pelo desmatamento, super-exloração, sobrepesca, poluição, espécies invasoras, perda de habitat, mudanças climáticas, entre outros.



“A mais recente atualização da Lista Vermelha da IUCN enfatiza os impactos que estamos tendo na biodiverisdade mundial, até mesmo sobre as espécies que a população depende para comer, se medicar, ter água limpa, etc”, lamentou Edwards.



“Precisamos comunicar o apuro, significância, valor e importancia de todas estas espécies se quisermos salvá-las da beira da extinção”.


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