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Programa inovador visa proteger Amazônia peruana de impactos da Estrada Interoceânica

Uma entrevista com Arbio

Margem esquerda: área de concessão da Arbio. Foto por: Arbio.
Margem esquerda: área de concessão da Arbio. Foto por: Arbio.


Arbio foi iniciada por Michel Saini e Tatiana P. Espinosa na região amazônica peruana de Madre de Dios. O projeto tem como foco uma resposta de proteção em função do aumento desronado do uso da terra guiado pelo desenvolvimento.



A recente construção da Rodovia Interoceânica na área de Madre de Dios apresenta uma enorme ameaça à biodiversidade da floresta. Arbio oferece oportunidades para ajudar a estabelecer uma zona tampão perto da estrada para limitar intrusivas atividades agrícolas e desmatamento.



Michel Saini e um engenheiro Ambiental Italiano da Escola Politécnica de Milão. Em 2003 viajou ao Chile para estudar Engenharia Florestal e aprender o que uma floresta de verdade sente. Após essa experiência, ele decidiu se dedicar ao estudo e conservação das florestas na América Latina. Ele se mudou para a Costa Rica em 2007 e completou um mestrado em Gestão e Conservação das Florestas Tropicais no CATIE, especializando-se na política e na governança dos recursos naturais.



No CATIE ele conheceu uma colega de classe, Tatiana P. Espinosa, engenheira Peruana em Ciências Florestais na UNALM, Peru. Seu interesse na Amazônia a levou a trabalhar na região de Madre de Dios desde 2003 com questões de Conservação, Fauna e Gestão de produtos florestais não madeireiros. Em 2009, após concluir o programa, eles viajaram juntos para o Madre de Dios e em
2010 Arbio nasceu. Para mais informações, visite o site.






ENTREVISTA COM ARBIO



A região de  Madre de Dios é caracterizada por ter a maior diversidade de borboletas do mundo. Há mais de 1200 espécies. Foto por: Arbio.
A região de Madre de Dios é caracterizada por ter a maior diversidade de borboletas do mundo. Há mais de 1200 espécies. Foto por: Arbio.





Mongabay: Que tipo de programas a Arbio planeja introduzir a fim de apoiar as economias locais, evitando a destruição das florestas e da biodiversidade na região de Madre de Dios?



Arbio: Pretendemos introduzir o conceito de conservação produtiva, que é um conceito de convivência da sociedade com o ecossistema da floresta. Nosso projeto inclui a introdução do método analógico Florestal, que é o exato oposto de uma monocultura: É uma cultura com 20 ou mais espécies no mesmo hectare, com altura diferente e idade e exigências nutricionais. Fertilizantes não são mais necessárias, quando encontramos as correlações entre os nutrientes necessários e produzido por cada cultura. Este método busca manter um ecossistema dominado por árvores, fornecendo produtos não-madeireiros (castanha, plantas medicinais, frutas da Amazônia, etc.) e manter um habitat de vida selvagem. Desta forma, buscamos capacitar as comunidades rurais socialmente e economicamente através do uso de espécies que fornecem produtos comerciais. Este sistema é completamente integrado com a paisagem, enfatizando a biodiversidade para garantir a produção sustentável e a operação é baseada em considerações ecológicas e restauração de ecossistemas.



Mongabay: Quais são alguns dos animais mais comumente vistos na área?



Arbio: Entre os mamíferos temos o poderoso jaguar (Panthera onca), anta (Tapirus terrestris), “sajinos” ou porcos selvagens (Pecari tajacu), centenas de rebanhos de queixadas (Tayassu pecari). No rio pode ser visto a capivara – o maior roedor do mundo (Hydrochoerus hydrochaeris), veados (Mazama sp), animais de hábitos noturnos como um chozna (Potos flavus), tatus (Dasypus novemcinctus), e uma variedade de macacos, incluindo o bugio (Alouatta seniculus), White-fronted-prego (Cebus albifrons), macacos da noite (Aotus sp.) e micos (Saguinus sp.).



Entre os répteis têm o jacaré branco (Caiman crocodylus), o “taricaya” tartaruga aquática (Podocnemis unifilis), tartaruga (Geochelone denticulata), uma variedade de jibóias e cobras, lagartos, etc.



Entre as aves temos a maior espécie de arara (Ara chloropterus), a maior cegonha na América do Sul: o Jabiru (Jabiru mycteria), tucanos (Ramphastos cuvieri), a ave de rapina mais poderosa: a águia-real (Harpia harpyja ), também garça (Egretta thula), jacu (Mitu tuberosum), pucacunga (Penelope jacquacu).



Além de uma ampla variedade de artrópodes, como borboletas (esta região possui o recorde mundial em diversidade de espécies de borboletas), besouros, lacraias, aranhas, formigas que medem 4 cm, entre outros.


Mongabay: Você poderia descrever o sistema Arbio de aluguel de terra da área florestada por hectare para a conservação e fins de investigação?








Arbio: Nosso projeto é inteiramente financiado por indivíduos, através dos nossos alugueis via das áreas via internet. Qualquer usuário da Internet pode escolher o seu próprio hectare e ver uma foto de satélite de cada hectare da nossa área base e efetuar um processo de locação, para a conservação, que custa apenas $42/ano EUA. Hectares escolhidos automaticamente entram na categoria de “conservação absoluta”, que significa que só a vida selvagem local e nosso zelador pode entrar, no entanto, no decorrer do projeto os modelos de conservação produtiva serão implementadas, vamos conectar através de e-mail as pessoas que estão protegendo hectares em locais estratégicos (perto do acampamento-base ou nas trilhas) perguntando se eles querem mudar o uso da sua terra de conservação absoluta a conservação produtiva. Em sumo, a possibilidade de mudança de uso da terra é apenas para hectares estratégicos e para aqueles que querem dar aos pesquisadores a oportunidade de testar agricultura biológica sustentável e / ou plantas medicinais seguindo o modelo de silvicultura analógica, ou para realizar pesquisas relacionadas à vida selvagem. Todos os detalhes serão discutidos com o inquilino em caso a caso. E se o inquilino não concordar, os hectares vai continuar na conservação absoluta, é claro!



Mongabay: Quais são algumas das principais ameaças colocadas pela construção da Rodovia Interoceânica?


Área de Concessão. Foto por: Arbio.
Área de Concessão. Foto por: Arbio.

Arbio: A ameaça é histórica e bem documentada. A Rodovia Interoceânica mesmo no solo brasileiro, levou ao desmatamento de 50 quilômetros de cada lado da estrada em 20 anos após sua construção. Se não fizermos nada, a mesma coisa vai acontecer em nossa região também, só que em um ritmo mais rápido, porque tudo está crescendo e ficando mais rápido devido ao modelo de desenvolvimento que visa o crescimento a qualquer custo. A ameaça se da devido ao que é visto como “desenvolvimento”. Monocultura extensiva simplesmente não funciona para a sociedade ou para o ecossistema. Muito poucas pessoas podem trabalhar na agricultura extensiva e menos pessoas de fato se beneficiam dos imensos campos. O desmatamento está em toda parte e os incêndios e a fumaça podem ser vistos a quilômetros de distância.



A agroindústria brasileira agora pode transportar produtos diretamente para a costa do Pacífico, evitando uma viagem grande de sua costa atlântica para os grandes mercados: China e Índia. Além disso, o baixo preço da terra em relação ao Brasil, juntamente com economias de custos de Alfândegas e da maior proximidade com o Pacífico vai fazer na Amazônia peruana a meta das principais indústrias de monoculturas.



Mongabay: As iniciativas de conservação como a Arbio são capazes de competir com a indústria extrativista como mineração de ouro e monoculturas nos trópicos?



Arbio: A resposta a esta pergunta depende da educação do atual proprietário de terras e sua capacidade de pensamento de longo prazo. O sistema de posse atual da terra na Amazônia peruana, um sistema de concessões outorgadas pelo Estado, está realmente ajudando o nosso trabalho, mesmo que algumas leis são contra a sustentabilidade. Tendo a concessão de um terreno por 40 anos, renováveis e hereditárias permite aos inquilinos pensar em soluções de longo prazo para sustentar a si e suas famílias, e vender a terra ou desmatamento para a monocultura é uma solução absolutamente de curto prazo. Eles sabem que a maioria das pessoas que venderam a sua terra agora estão vivendo nas periferias da capital sem uma forma de renda para viver, e as pessoas que transformaram a terra em uma monocultura estão pagando os bancos e os fornecedores de fertilizantes; com pouco ou nenhum benefício ao seu modo de vida. Oferecemos de graça uma forma de desenvolvimento que propicie uma vida de acordo com as tradições ancestrais e que seja atrelada ao mercado preservando o conceito de sustentabilidade no futuro; não somente com o método analógico Florestal de cultura, mas também com a inserção no mercado de comércio justo e ao pagamento futuro de Serviços Ambientais, quando essa oportunidade se tornar disponível. Pensamento de longo prazo é a nossa maneira de ganhar a forma atual de desenvolvimento.



Para mais informações, visite www.english.Arbioperu.org.






Imagem de satélite do acampamento base da Arbio. Foto por: Arbio.
Imagem de satélite do acampamento base da Arbio. Foto por: Arbio.





Marrom-prego (Cebus apella), observados em grupos de 6 a 18 indivíduos. Foto por: Arbio.
Marrom-prego (Cebus apella), observados em grupos de 6 a 18 indivíduos. Foto por: Arbio.






Cabana construída com materiais da floresta nos campos base. Foto por: Arbio.
Cabana construída com materiais da floresta nos campos base. Foto por: Arbio.





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