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À medida que a desflorestação na Amazónia diminui, a produção de alimentos aumenta

Novos estudos associam o declíneo acentuado na desflorestação da Amazónia com um aumento na produção de alimentos. .



Plantações de soja e floresta no Mato Grosso, Brasil. Foto de Rhett A. Butler.
Plantações de soja e floresta no Mato Grosso, Brasil. Foto de Rhett A. Butler.


No estado brasileiro do Mato Grosso, uma queda acentuada na desflorestação tem sido acompanhada por um aumento na produção de alimentos, reporta um novo estudo publicado no jornal Proceedings of the National Academy of Science. O estudo afirma que as intervenções políticas combinadas com pressões dos grupos ambientais, encorajaram a expansão agrícola em áreas já desflorestadas, em vez de conduzir a novas zonas desflorestadas.



Marcia Macedo e os seus colegas da Universidade Columbia analizaram as tendências na desflorestação e na produção de soja no Mato Grosso, entre 2001-2010, um estado na fronteira agrícola do Brasil onde se assistiu a mais de um terço da perda de floresta Amazónica desde a década de 80. Eles descobriram que, durante a primeira metade da década, cerca de 26 por cento do aumento na produção de soja foi resultado da expansão das zonas cultivadas para áreas florestais, contabilizando cerca de 10 por cento do total de desflorestação durante o período. Durante a segunda metade da década (2006-2010), a expansação das culturas de soja contribuíram apenas 2 por cento para a desflorestação. 91 por cento do aumento de produção nos últimos anos da década de 2000 ocorreram em zonas previamente limpas para pasto. Os investigadores encontraram, surpreendentemente, poucas evidências de “dispersão”, pelo que a expansão das culturas de soja foram deslocadas de áreas florestadas para áreas do tipo savana, como o cerrado.




Graph courtesy of Macedo et al 2012.

O autor afirma que o declíneo coincide com diversas tendências e evoluções, incluindo flutuações nos mercados de comodidades e na implementação de várias iniciativas políticas ao mais alto nível, destinadas a restringir crédito ao sector florestal, uma melhoria na monitorização e aplicação da lei e na exclusão dos desflorestadores das cadeias de fornecimento de produtos da maioria dos exportadores.



“O período de 2005-2010 incluiu, uma campanha proeminente da Greenpeace, um grupo internacional de activismo a ambiental, que pressionou os maiores produtores e negociantes de soja a adoptarem uma moratória sobre novas desflorestações para cultura dos grãos de soja; a criação de uma lista negra dos munícipios com as mais elevadas taxas de desflorestação, o que restringiu o acesso ao crédito e a subsídios; o lançamento de um sistema de monitorização em tempo real, baseado em imagens de satélite, que facilitou a repressão da corrupção na agência ambiental IBAMA entre outras.



Os autores argumentam que estes factores ajudaram a mitigar a limpeza de floresta para o cultivo de soja, quando os preços das comodidades recuperaram, como consequência da pior crise financeira global.



“As transições no uso do solo, observadas no período de pós-boom- e especialmente em 2009- sugerem que, quando as condições do mercado favoreceram a expansão, os produtores expandiram as suas terras para zonas que já tinham sido previamente limpas para o gado, em vez de se expandirem para as áreas florestais. Estes padrões são consistentes com os resultados esperados por muitas das recentes intervenções políticas, dando algum suporte à hipótese de que contribuíram para suprimir a desflorestação.”



Os resultados parecem oferecer a esperança de que a combinação de iniciativas entre o sector privado e público tem o potencial de separar a produção agrícola da desflorestação. Todavia, os autores fazem avisos contra a complacência. Eles notam que um aumento no investimento em projectos de infraestrutras e em novas tecnologias irá tornar uma grande área da floresta Amazónica acessível à produção intensiva, ao passo que a proposta de reforma do Código Florestal, que limita quanta terra é passível de ser desmatada por um único fazendeiro, pode minar alguns dos ganhos da conservação florestal.




(A e B, ampliação da área na caixa vermelha) Os usos da terra após a desflorestação num subconjunto da região de estudo entre 2001 e 2005 (A) e 2006 a 2010 (B). Áreas desflorestadas > 25 ha foram obtidas com o grupo de dados PRODES (11) e o uso de terra proveio da análise das séries temporais do MODIS EVIT. O bioma florestal da Amazónia brasileira está sombreado a verde (canto inferior direito). Imagem cortesia de: Macedo et al 2012.




Macedo e os seus colegas sugerem que as políticas que encorajam um uso mais eficiente de terra florestal degradada podem ajudar a atingir as metas futuras de procura de alimento, ao mesmo tempo que a destruição florestal continua.



“Os nossos resultados sugerem que a prevenção da desflorestação, a longo prazo, irá necessitar de esforços conjuntos para modernizar o sector do gado e criar novos e fortes incentivos políticos que promovam o uso eficiente das terras degradadas”, escrevem. “Os esforços recentes para modelar as alternativas de desenvolvimento de um Brasil com uma pegada de carbono reduzida indicam que, a implementação das tecnologias existentes para restaurar as terras degradadas e aumentar a productividade das pastagens, poderá libertar terra adicional para acomodar um crescimento projectado até 2030, embora alcançar este objectivo possa ser um desafio e requira um investimento substancial, quer público, quer privado.”



CITAÇÃO: Marcia N. Macedo, Ruth S. DeFries, Douglas C. Morton, Claudia M. Stickler, Gillian L. Galford, and Yosio E. Shimabukuro. Decoupling of deforestation and soy production in the southern Amazon during the late 2000s. PNAS for the week of January 10, 2012. www.pnas.org/cgi/doi/10.1073/pnas.1111374109








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