O local com aprovação preliminar para a perfuração da Shell. A área em rosa é o Refúgio Nacional da Vida Selvagem, no Árctico (ANWR). Imagem constituída com Google Earth.
Menos de um ano e meio após o vazamento de petróleo no Golfo do México, a administração Obama ignorou alertas de ambientalistas e deu aprovação preliminar para a gigante do petróleo, Royal Dutch Shell, explorar a costa do Ártico. Perfurações exploratórias serão realizadas ao norte da borda ocidental do Refúgio Nacional da Vida Selvagem do Ártico no Mar de Beaufort, que abriga as baleias Beluga, focas, leões marinhos, ursos polares e uma variedade ampla de aves migratórias.
“Isto é um desastre iminente”, comentou a advogada do grupo ambientalista Earthjustice Holly Harris.
Ambientalistas e indígenas que vivem na área têm combatido há tempos a exploração no Ártico alegando que as condições extremas tornam a perfuração especialmente precária e um vazamento de petróleo seria quase impossível de limpar adequadamente. Porém, a autorização foi concedida pelo ‘Bureau of Ocean Energy Management, Regulation and Enforcement’ (BOEMRE), dependendo da finalização do plano de resposta a vazamentos de petróleo da Shell.
O Almirante Robert Papp, oficial da Guarda Costeira norte-americana, admitiu no mês passado que se o vazamento ocorrer nesta área, a Guarda Costeira não tem infraestrutura e equipamento necessários para lidar com a situação.
“Se isto acontecesse na região, não teríamos nada”, enfatizou Papp em uma reportagem da agência Platts. “Hoje estamos a começar dum novo marco zero.”
Entretanto, a Shell declarou que tem o melhor ‘plano de resposta a vazamentos que qualquer outro local no mundo’, e que está pronta para qualquer problema. A empresa já investiu mais de US$ 3,5 bilhões para perfurar o oceano Ártico. O sítio no Mar de Beaufort é localizado a cerca de 32 kms da costa em uma profundidade de 49 metros, na qual a Shell alega que seria possível o acesso de mergulhadores ao poço, se necessário. Em meio a vitória no Ártico, a empresa deve pagar US$ 1 bilhões para limpar décadas de poluição na Nigéria, onde um novo relatório das Nações Unidas revelou que a Shell não cumpriu seus próprios padrões, nem os do governo nigeriano. A empresa admitiu na semana passada que 11 milhões de galões de petróleo vazaram no país em 2008.
O diretor da BOEMRE, Michael Bromwich, disse que a decisão de aprovar a perfuração no Ártico foi baseada “nas melhores informações cientificas disponíveis”, mas Harris criticou o gabinete, dizendo que o órgão colocou “os lucros e o poder da empresa petrolífera” acima da “integridade científica”.
“A decisão de BOEMRE’s a ignorar a ciencia e a pôr em risco um região que é crucial para as baleias-corcundas, focas, ursos polares e otra fauna marinha e em que comunidades nativas depende tão largamente é imperdoável,” ela conta, acrescentando que, “a decisão hoje se trate apenas de uma decisão da administração a rolar os dados com Ártico.”
A exploração de petróleo no Ártico também está sendo motivo de preocupação na Rússia com a proposta da Gazprom de fazer a primeira perfuração off-shore do país.
Mikhail Babenko, chefe do programa de petróleo e gás no Ártico da WWF, disse ao Moscow Times que a Gazprom não está preparada para a perfuração na região.
Babenko chamou de ridículo o seguro de US$ 250 mil da Gazprom contra danos ambientais, levando em consideração que a limpeza do vazamento da BP no Golfo do México custou US$ 40 bilhões. Além disso, ele ressaltou que o posto de serviço de limpeza mais próximo do local fica a 1 mil Kms de distância.
O derretimento da cobertura de gelo durante o verão devido às mudanças no clima está abrindo áreas que há muito estavam fechadas no Ártico, deixando a região exposta para a exploração de petróleo e gás. Entretanto, muitos ambientalistas alertam que o degelo deve ser visto como um aviso da dependência global de combustíveis fósseis e não uma oportunidade para queimar mais, o que pioraria as mudanças no clima que estão mexendo com os frágeis ecossistemas árticos.