Entrevista com o perito em felinos, Howard Quigley
Puma na Califórnia. Fotografia de Travis Bartnick
Este animal possui o recorde do Guinness Mundial por ter mais nomes do que qualquer animal no planeta; só em língua inglesa existem 40 nomes. É também o animal terrestre nativo das Américas que ocupa mais superfície apesar de estar a reduzir-se muita área ocupada. Mongabay fala com o perito em grandes felinos Dr. Howard Quigley sobre a situação e implicações para a investigação do esquivo, enigmático e único puma.
Pensa-se que o antepassado do puma migrou da Ásia para a América do Norte pelo Estreito de Bering há cerca de 8 milhões de anos, onde evoluiu para as diferentes estirpes de felinos actualmente presentes. Subsequentemente, os pumas invadiram a América do Sul há três milhões de anos quando o istmo do Panamá se formou para ligar os dois continentes. Estudos genéticos mostraram que as populações norte americanas de hoje são todas muito semelhantes, sugerindo um estrangulamento da população contemporânea com a extinção da mega-fauna que ocorreu há cerca de 10.000 anos durante a extinção de grandes mamíferos da América do Norte tais como Smilodon. Pesquisadores acreditam que, durante esta época, os pumas foram eliminados em grande medida ou completamente de todo o continente, com a população actual que se encontra na América do Sul.
Embora possa pesar até 100 kgs, o que o torna o segundo maior felino das Américas (depois do jaguar), o puma estárealmente mais relacionado com espécies menores de felinos como o ocelote e o lince do que com leões e tigres. Originalmente, foi mesmo agrupado na mesma espécie do gato doméstico (Felis), mas em 1993 recebeu a sua própria ordem, Puma, que partilha com o seu parente mais próximo, o jaguarundi.
É interessante que, mesmo apesar de estarem em subfamílias separadas, pumas e leopardos são capazes de hibridização. Nos anos 1890 e princípio dos anos 1900, um parque animal na Alemanha cruzou um puma fêmea com um macho leopardo, ao passo que um jardim zoológico de Berlim cruzou um puma macho com um leopardo fêmea. Os resultantes “pumapardos” tinham o corpo longo de um puma com as manchas de um leopardo sobre uma pele acastanhada ou cinzenta. A maior parte morreu jovem e os que atingiram a fase adulta desenvolveram-se apenas até metade do tamanho dos seus pais devido a nanismo genético.
Um puma adulto – fotografia de Larry Westbrook |
Com o habitat que se estende desde o Yukon aos Andes, o puma é o animal terrestre que vive numa área mais extensa nas Américas devido à sua capacidade de viver virtualmente em qualquer ambiente. No entanto, mesmo com a sua vasta ocupação, estima-se que existam apenas 50.000 pumas selvagens no mundo.
Na América Central e do Sul, leis aprovadas em 1996 proibiram a caça de pumas na Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guiana Francesa, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Suriname, Venezuela e Uruguai. Os pumas não são protegidos no Equador, El Salvador e Guiana.
Na América do Norte, os pumas foram erradicados da maior parte do Leste dos EUA e do Canadá depois da colonização europeia. A única população de leste residente é a pantera da Florida criticamente em risco de extinção que ocupa apenas cinco por cento da sua extensão histórica e com números de apenas 50-100 indivíduos. Muitos Estados e províncias nas partes ocidentais dos EUA e Canadá possuem populações residentes de pumas e todos, excepto a Califórnia e o Yukon, permitem a caça. No entanto, a maior parte aprovou algumas medidas de protecção. A única excepção é o Texas, onde a caça aos felinos não possui regulamentação. O Estado agrupa os felinos com carraças e pombos como “vida selvagem incómoda” e permite que todos possam matar ou armadilhar um puma, independentemente do sexo, dimensão ou idade.
Os pumas são ameaçados por perda de habitat e por perseguição directa do homem. Esta última é primariamente causada pela ameaça de pumas ao gado, embora o risco de ataques a seres humanos seja por vezes usado para justificar o abate de um puma perto de áreas urbanas.
Na verdade, os pumas têm um efeito diminuto nos efectivos de gado, No Texas em 1990, por exemplo, os pumas mataram 445 carneiros (0,02 por cento do total do Estado de 2,0 milhões de carneiros e ovelhas) e 86 vitelas (0,0006 por cento do total de Estado de 13,4 milhões de cabeças de gado e vitelas).
Mapa da área de puma. Imagem cedida por Panthera |
Ataques de pessoas são incrivelmente raros, mas estão a aumentar devido à expansão de populações humanas no habitat do puma. Nos cem anos que vão de 1890 a 1990, houve apenas 53 ataques confirmados por pumas a seres humanos, resultando em 10 mortes. De 1990 a 2004, o número de ataques subiu para 88 com um total de 20 mortes. Apesar da frequência dos ataques a seres humanos ser relativamente pequena, os que ocorrem são muito badalados nos meios de comunicação, penalizando os pumas perante a opinião pública e retirando da atenção as funções críticas que estes animais desempenham em muitos ecossistemas.
No entanto, a principal razão da redução de pumas nos EUA é a perda do habitat pela degradação e fragmentação. Pesquisas mostram que os pumas precisam pelo menos de 220.000 hectares de habitat ininterrupto a fim de persistirem com um risco pequeno de extinção. Com o aumento das áreas urbanas, muitos cientistas propõem a expansão de corredores protegidos de habitat, de forma que populações de pumas possam existir e mover-se sem precisar de atravessar zonas de civilização.
Um dos mais importantes actores na conservação do puma é Panthera, uma organização cuja missão consiste em garantir o futuro de felinos selvagens através de liderança científica e acção global de conservação. Panthera é a maior organização mundial dedicada à conservação de felinos selvagens e, além dos pumas, inclui tigres, leões, chitas, leopardos, leopardos de neve e jaguares como suas principais espécies. Panthera tem patrocinado muitas medidas inovadoras de conservação tais como o Corredor Jaguar, um programa que está em funcionamento para ligar habitats do jaguar desde o topo do seu alcance na fronteira do México com os EUA em todo o percurso para baixo, até ao fim do seu alcance no Norte da Argentina e a Iniciativa do Leopardo da Neve que foi lançada em Beijing em 2008.
Panthera está actualmente a implementar dois projectos com foco na conservação do puma: o Projecto Puma Califórnia e o Projecto Puma Teton. O Projecto Puma Teton, uma iniciativa conjunta Panthera-Craighead Beringia do Sul no seu nono ano, está a trabalhar para reunir dados sobre a população de pumas de Jackson Hole, Wyoming e o Ecossistema Grande de Yellowstone do sul com o objectivo de aumentar o conhecimento da dinâmica da população de pumas e interacções com carnívoros e seres humanos que com eles competem.
Puma. Fotografia de Travis Bartnick |
O Projecto Puma Califórnia pretende reverter a tendência de fragmentação do habitat e aumentar a elasticidade do habitat avaliando a existência e potencial de corredores para ligar populações de pumas dentro dos 40 milhões de hectares de habitat óptimo do puma. O projecto também inclui um componente de alcance para comunicar os benefícios da conservação do puma enquanto educa comunidades sobre a forma de viver com sucesso com os grandes felinos.
Os Projectos Puma Teton e Puma Califórnia são dirigidos pelo perito em pumas e pelo Director Executivo do Programa Jaguar de Panthera, Dr. Howard Quigley. O Dr. Quigley dirigiu estudos de campo de pandas gigantes na China, tigres siberianos no Extremo Leste da Rússia, pumas no Idaho central e jaguares no Pantanal Brasileiro, antes de aderir ao programa Panthera em 2009. Ele é membro do Grupo de Especialistas em Felinos IUCN e é chamado para aconselhamento técnico sobre muitas questões incluindo recuperação do jaguar nos EUA, interacções entre pumas e seres humanos e conflitos entre jaguares e proprietários na América Latina. O Dr. Quigley também escreveu mais de trinta publicações científicas e artigos populares.
Em Janeiro de 2011, o Dr. Quigley discutiu a situação da conservação do puma nos EUA com mogabay.com.
O que motivou o seu interesse pessoal pelos grandes felinos?
Dr. Quigley com uma cria de puma – fotografia de Greg Winston |
Howard Quigley: Quando eu era mais jovem, pratiquei muito acampamento e pescarias. Eu gostava e devo dizer que comecei a enfrentar alguns desafios. Isto é, eu estava a caminho da faculdade e observava os maiores desafios no mundo e, apesar de estar interessado na vida selvagem, nunca considerei isso como uma carreira. Na verdade, o que escolhi foi Psicologia e Sociologia, percebendo que estes eram os maiores desafios; tal como entender a mente humana e resolver os problemas da raça humana, desses tipos de coisas.
À medida que progredi, percebi que com Psicologia e Sociologia ajudava um pouco algumas pessoas na vida e, em certa altura, tornei-me interessado em procurar uma carreira ao ar livre. E observei bastante a vida selvagem e os seus comportamentos, (tais como) a forma como os animais reagiam a pessoas e vi que talvez um dos maiores desafios fosse tentar entender a ecologia; a forma como organismos se ajustam e que poderia ser apenas tão instigante e tão complicado como a mente humana. Talvez ainda mais. E, por fim, senti necessidade. Percebi que a vida selvagem era pura e complicada, mas era desafiada pelos homens. Por isso, pensei que ser talvez capaz de contribuir para a sua sobrevivência poderia constituir uma carreira compensadora.
Como os pumas contribuem para o seu ambiente?
Howard Quigley: Como qualquer espécie, eles agem como uma peça do puzzle, uma peça da organização ecológica, um dente nas rodas que movimentam a ecologia. Cada espécie é importante, mas os pumas, como outros predadores, têm talvez funções adicionais na organização de comunidades naturais. Através da actividade predadora, eles influenciam o comportamento, influenciam mesmo a fisiologia de diferentes animais devido à função que os predadores desempenham nestes sistemas. Portanto, provavelmente veados e alces sejam mais vigilantes, mais astutos. Porque é que os veados ouvem tão bem? Porque é que os alces têm uma acuidade visual tão grande? Porque são os seus sentidos tão aguçados? Bem, a actividade predatória e os predadores contribuem em grande parte para isso. Portanto, os pumas também desempenham uma função na direcção da evolução. Quer dizer, os animais que escapam à actividade predatória estão mais ajustados, como dizemos em ecologia.
Os pumas desempenham uma função no melhoramento do stock de presas que existe sobre a terra. Eles ainda influenciam a distribuição de animais dentro de um sistema. Portanto, eles desempenham uma função muito importante e a sua perda derruba uma espécie de castelo de cartas num colapso ecológico conforme tem acontecido no passado. Manter pumas não é tarefa fácil, mas a função que eles desempenham na dinâmica do ecossistema não pode ser subestimada.
Como você pensa que os pumas ganharam uma reputação tão má? O que pode ser feito para mudar esta situação?
Dr. Quigley trabalha com um puma adulto capturado – fotografia por Steve Winter/Panthera |
Howard Quigley: Essa é uma grande pergunta e seria preciso um dia inteiro para a discutir. Mas, resumindo, são as pessoas e os meios de comunicação. Para a maior parte dos carnívoros eu encorajo as pessoas a aprenderem mais; isso ajuda sempre. Com carnívoros, você ouve “coisas más” geralmente, como “eles matam coisas” e adjectivos como “vicioso” estão sempre associados a carnívoros. Você não conhece toda a história. É por isso que eu encorajo as pessoas a cavarem mais fundo, descobrirem mais do que apenas o artigo e o jornal. E, com pumas, isto é acentuado porque você não os vê. A sua natureza reservada funciona contra eles; as pessoas sentem suspeita de coisas que sabem que estão ali, mas que não podem ver. Você pode ver o veado; você pode ver águias, mas você não pode sentar-se e observar um puma no mato. Depois você ouve notícias sobre alguém que viu um puma ou ouviu dizer que um puma matou um cão ou que um puma vagueou pela cidade e teve que ser abatido. Tudo isto cria uma imagem, uma imagem que funciona contra abordagens medidas e progressivas de conservação.
O que pode ser feito? A nível individual, as pessoas precisam de cavar a superfície e ser mais curiosas sobre pumas. Do ponto de vista profissional, temos que ser agressivos quanto â mensagem a dirigir ao público em geral.
Porque a Califórnia e Florida são os únicos Estados que proibiram a caça aos pumas?
Howard Quigley: A resposta é composta por duas diferentes respostas para dois diferentes lugares. A pantera da Florida é da mesma espécie dos pumas da Califórnia ou leões da montanha; é apenas uma subespécie. A caça de panteras da Florida é proibida basicamente porque existem muito poucas. É um dos elementos originais da lista de Espécies em Risco de Extinção dos anos 1970 e a sua protecção foi crítica. A caça a essa população não seria biologicamente justificável, menos ainda socialmente justificável.
Na Califórnia, é realmente uma questão cultural. A proibição da caça na Califórnia tem uma longa história por trás. Fundamentalmente, as pessoas da Califórnia votaram uma proibição da caça de pumas há muitos anos. As pessoas da Califórnia decidiram que não queriam caçar pumas e também queriam que fosse protegido o habitat dos pumas e disseram isso por escrutínio de votação.
Você pensa que outros Estados se vão seguir?
Howard Quigley: Não, não acho isso. Não vejo uma situação política ou social noutro Estado semelhante à da Califórnia quando foi aprovada a proibição. Posso estar errado; existem Estados que poderiam enfrentar a questão da proibição de caça aos pumas. Mas não vejo qualquer Estado agora que pudesse fazer isso. Se assim fosse, a expansão de pumas no Meio Oeste poderia aumentar o número de Estados que têm pumas e que caçam pumas, mesmo que isso dependa da forma como essas populações se desenvolvem. Socialmente, esses Estados são Estados fortes em caça, por isso suspeito que a caça aos pumas nesses Estados seria apoiada.
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Tem havido notícias recentes de pumas no leste dos Estados Unidos. Você pensa que é possível que os pumas se restabeleçam nessa parte do país?
Sim, é possível que os pumas repovoem a parte leste dos Estados Unidos; na verdade, isso está a acontecer em alguma medida. Os pumas têm uma extraordinária capacidade de se dispersar e de colonizar. Mas trata-se de “preparar o caminho” para isso. A melhor coisa seria que nós mantivéssemos as áreas naturais e as populações de veados. Poderia não ser no próximo ano, mas apenas daqui a 50 anos, suspeito que haverá bolsas de populações de pumas. Mas “preparar o caminho” não é apenas manter as áreas naturais, é preparar as pessoas e divulgar conhecimentos sobre pumas e sobre as suas funções ecológicas benéficas que eles e outros carnívoros desempenham. Isto terá o seu lado fraco – agências de vida selvagem terão que tratar de alguns pumas que estejam com problemas, por exemplo – mas de modo geral, precisamos de nos preparar para o dia em que os pumas de novo dêem à luz pequenos pumas nos Adirondacks ou Smokies.
Que daí ser necessário pelos seres humanos coexistam com os pumas em mesmo mundo?
Howard Quigley: A resposta simples é conhecimento e compreensão. Falta de conhecimento, conforme se tem dito repetidas vezes, fomenta o desprezo, especialmente quando muita informação divulgada é negativa. Quanto mais você conhece sobre grandes felinos, mais você conhece sobre leões da montanha, mais você aprecia a sua existência e a nossa necessidade continuada da sua existência.
O que motivou o interesse da Panthea na conservação do puma?
Howard Quigley: A conservação do puma é uma parte pequena mas crescente da agenda da Panthera na conservação de felinos. Com as questões prementes da conservação de tigres, leões africanos e leopardos da neve, é difícil que a Panthera se concentre apenas nos pumas. É difícil para a Panthera trabalhar nas outras 34 espécies ou justificar o trabalho nas outras 34 espécies de felinos selvagens no mundo. Mas nós fazemos. Quando vemos motivação particular de forma científica ou ética nós saltamos sobre essas oportunidades. Na verdade, nós financiamos um Fundo de Pesquisa de Pequenos Felinos através da IUCN.
Mas a motivação para o trabalho da Panthera com pumas na América do Norte é provavelmente bivalente. Uma é provavelmente a existência de mais ciência e cientistas a trabalharem directamente com pumas do que com qualquer outro grande felino no mundo. Portanto, se pudermos juntar o que estamos a fazer com pumas, podemos aplicar a isso a outros grandes felinos e outros grandes carnívoros em todo o mundo. É uma grande oportunidade aprofundar a ciência de conservação e gestão do puma na América do Norte e ser capaz de aumentar o alcance e com isso ajudar outras grandes felinos. Em segundo lugar, o nosso fundador, Tom Kaplan, iniciou discussões dentro da Panthera com a pergunta: como podemos trabalhar com felinos em todo o mundo e não estar envolvidos na conservação do puma na América do Norte? E, levantada a pergunta: onde podemos concentrar-nos? Esta é uma espécie que ocorre em todo o oeste dos EUA e no centro do Canadá. O que podemos fazer possivelmente para podermos contribuir para a conservação do puma?
Qual foi o impulso por detrás do Projecto Puma Califórnia e Projecto Puma Teton?
Puma. Fotografia by Brad Boner |
Howard Quigley: O Projecto Puma Teton é um projecto de longo prazo que tem apenas mais alguns anos a percorrer. O impulso por detrás foi o facto de termos a Lei de Espécies em Risco de Extinção que providencia um ambiente experimental para entendimento de sistemas norte-americanos. Isto é muito! Lobos foram reintroduzidos e ursos pardos foram alimentados até ficarem bem de saúde. Durante este tempo, pumas aproveitaram-se de algumas interessantes oportunidades ecológicas. Agora, todos os grandes predadores regressaram. Escolhemos pumas porque eles eram os mais misteriosos e os mais desconhecidos e estamos a encontrar uma forma de entender o sistema conforme era há 100 ou 200 anos quando chegaram os primeiros exploradores a Rockies, bem como mesmo antes disso, quando os índios ocuparam estes sistemas juntamente com estes grandes carnívoros.
O Projecto Puma Califórnia, por outro lado, é uma tentativa de entender a forma como um dos mais resistentes grandes carnívoros, o puma, se pode adaptar à presença de pessoas. Se conseguirmos entender isso, a forma como eles sobrevivem, como procriam, como evitam pessoas, podemos começar a entender a forma como podemos viver com todo o sistema de predadores e pessoas sobre o planeta.
Como serão aplicadas as suas iniciativas de conservação à conservação de grandes felinos em todo o mundo?
Howard Quigley: Os programas puma estão a tornar-se um paradigma. O objectivo aqui consiste em ser capaz de trazer a ciência do puma ao resto do mundo. Não se trata de bons cientistas que fazem um grande trabalho sobre os grandes felinos do mundo – tigres, leões africanos, jaguares – mas a questão consiste em trazer a ciência aos felinos. Eu penso que a ciência tende a ser paroquial, tende a ser local, tende a ser regional e nós precisamos de fazê-la mundial e na realidade da ecologia dos felinos. E, não digo isto de forma imperialista, eu digo isto de forma abrangente e inclusiva, duma forma que eu penso que muitos cientistas consideram muito difícil. É ir além, ir além, ir além. Não se trata de “defender o seu território”, trata-se de “ir e expor as suas capacidades ao resto do mundo”. E embora seja difícil, penso que o que estamos a fazer com pumas na América do Norte precisa de ir além e atingir o resto do mundo.
A quantidade de ciência que está a ser feita com pumas é tremenda e se pudermos alargar essa ciência e esses indivíduos na conservação de felinos para todo o mundo, poderemos realmente desenvolver o tipo de segurança que os grandes felinos precisam agora. Na verdade, eles precisavam disso ontem e estamos a correr contra o tempo.
O que revelaram os seus projectos até agora? O que você espera conseguir com esses projectos no futuro?
Howard Quigley: O projecto Puma Teton está agora a começar a concluir e estamos a começar a ver todos os destaques e exposição que conseguimos fazer surgir sobre a ecologia do puma. Descobrimos que houve muito mais interacção entre pumas adultos do que antes. São chamados os “carnívoros solitários” mas, na realidade, têm um conjunto completo de diferentes formas de comunicar mutuamente – marcando os seus territórios, visitando-se. Descobrimos também situações em que os machos voltam para visitar fêmeas com os quais tinham acasalado e que as fêmeas têm crias. É quase como uma sociedade expandida de leões africanos onde os machos sabem onde estão as fêmeas, vão visitá-las e defendem o seu território. É na verdade um sistema espantoso.
Em Fevereiro de 2010, o Vice-Presidente de Panthera, Dr. Luke Hunter, e o Director do Programa Jaguar, Dr. Howard Quigley, lideraram uma equipa de cientistas através das montanhas nevadas de Wyoming para recolocar um colar num jovem puma macho que Quigley tem estado a controlar durante os últimos quatro anos. A equipa retirou amostras de pelo do puma para aprender mais sobre a sua dieta e mediu e pesou o puma para avaliar a sua saúde geral. Depois de um exame abrangente, a equipa recolocou o colar do puma e libertou-se de volta para o mato, onde os seus movimentos serão seguidos de perto para ajudar a determinar a sua movimentação, exigências ecológicas e dinâmica populacional até ao seu próximo exame. Forografia de Steve Winter/Panthera. |
Através do Projecto Puma Califórnia construímos o contexto básico para o Projecto com entrevistas e ligações com peritos na Califórnia. A nossa linha de fundo é que são necessárias duas coisas. A primeira é o aumento da divulgação da informação ao público sobre leões da montanha; a segunda é (entender) que os pumas poderiam ser usados de forma muito benéfica no Estado da Califórnia para desenvolver uma abordagem integrada para conservação por meio de corredores e de áreas protegidas. Não existe melhor modelo do que o movimento de pumas através da paisagem a fim de desenvolver estes corredores e este tipo de conservação integrada de longo prazo. Por isso, a nossa próxima abordagem consiste em tentar relacionar muitos dados que estão actualmente a ser recolhidos, bem como recolher dados adicionais para poderem modelar, comprovar e depois serem implementadas medidas de conservação de longo prazo nos corredores.
Você tem algum conselho para pessoas que pretendam ajudar a conservação do puma?
Howard Quigley: Para aqueles que pretendem ajudar na conservação do puma, é um jogo simples: informação, tempo e dinheiro. Isso é usualmente o que os cidadãos podem dar a qualquer causa pela conservação. Procure informação e divulgue informação, informação sólida. É surpreendente a pouca informação que existe sobre pumas. O Estado de CA tem mais pumas do que qualquer outro Estado, mas as peças mais comuns de informação que você obtém ali sobre pumas são artigos de jornais sobre o ‘mau puma’ que foi visto no limite da cidade.
Procure informação e ajude mesmo com alcance de informação tal como perguntando a um colunista do jornal local informações sobre pumas ou escrevendo uma coluna sobre eles. Ou seja voluntário para uma coluna no seu jornal local e informe-se a si mesmo e aos outros. Faça uma apresentação a grupos locais ou ofereça-se como voluntário para um programa de controle de pumas na sua área. Use o seu tempo para se tornar um bom observador de pistas de pumas se você tiver pumas na sua área; procure rastos, depois ensine um amigo. Isso pode ser muito compensador.
E, naturalmente, dinheiro. Encontre uma organização que você pense que esteja a trabalhar bem com pumas e dê. Nunca há dinheiro suficiente para ciência de pumas e conservação e mesmo as agências estatais responsáveis por pumas não têm boas fontes de recursos para elas. Por exemplo, os programas de puma em Panthera estão a funcionar primariamente com financiamento externo que eu procuro.
Se você quiser envolver-se imediatamente, estamos a procurar um Donativo do Refrigerante Pepsi de $25.000 para o nosso projecto puma em Wyoming: “Estudo de pumas no ecossistema de Yellowstone usando armadilhas com máquinas fotográficas”. Você poderia seguir o link e colocar o seu voto para o nosso projecto … nós precisamos de votos.
http://www.refresheverything.com/panthera