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Será possível alimentar nove bilhões de pessoas de forma sustentável?



Cerca de 2050 pesquisadores estimam que a população global se nivelará em nove bilhões de pessoas, acrescentando mais 2 bilhões de pessoas ao planeta. Já que um bilhão da população do planeta (mais de um em sete) estão passando fome—o maior numero de toda a história—os cientistas estão lutando para nao apenas saber como alimentar aqueles que estão famintos hoje, mas também os dois bilhões adicionais que logo estarão em nosso planeta. Em um novo trabalho, publicado na Science, os pesquisadores fazem recomendações sobre como o mundo pode um dia alimentar nove bilhões de pessoas—sustentavelmente.



Obstáculos



As dificuldades são muitas e grandes, de acordo com o artigo: “a crescente competição por terras, água e energia, e a super-exploração da pescas, irá afetar nossa habilidade de produzir alimento, bem como a necessidade urgente de reduzir o impacto do sistema de alimentos sobre o meio ambiente.”



A finitude da terra arável e água doce serão muito mais tensas do que os autores chamam de “maior poder aquisitivo”, o que aumenta a demanda nos países em desenvolvimento por “alimentos processados, carne, laticínios e peixes, tudo que pressiona o sistema de suprimento alimentar.”



Soja e floresta na Amazônia. Foto por: Rhett A. Butler.

Para complicar mais ainda o problema da escassez—e recursos sobrecarregados—haverá a necessidade de se adaptar á uma mudança climática.



“As projeções das necessidades alimentares para os próximos 40 anos tem gerado grande preocupação sobre como a produção agrícola pode aumentar suficientemente em face das ameaças de mudança climáticas,” explica o co-autor Dr. Camilla Toulmin do Instituto Internacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento. “Não apenas o aumento das temperaturas e mudança nos regimes de chuvas tornam a produção agrícola incerta em muitas áreas, mas também o setor agrícola precisará se tornar um melhor dissipador de carbono, através do seqüestro ao reduzir as emissões de gases de efeito estufa tais como óxido nitroso, produzido a partir do uso de fertilizantes químicos.”



Ela ainda fala que a disponibilidade de terras aráveis é igualmente limitada pela “necessidade de manter e melhorar o estocagem de carbono pela floresta, que também contribui para o equilíbrio da água do mundo, diversidade biológica e cultural, portanto a expansão agrícola dentro da floresta e nas terras para pastagens não é uma opção sensata”



Dadas todas essas questões, os autores concluem que “um triplo desafio agora encara o mundo: atender á demanda por comida que esta rapidamente em mudança de uma população maior e mais afluente por suprimento; e fazer isso de maneira ambientalmente e socialmente sustentável; e assegurar que os povos mais pobres do mundo não passem mais fome.”



Simplesmente impossível?



O problema parece intransponível, mas os autores dizem que com mudanças ‘radicais’ ao redor do mundo todo é possível alimentar nove bilhões de pessoas sem destruir o meio ambiente que torna a agricultura possível.



Trabalhadores do Chá na Uganda. Foto de: Rhett A. Butler.

Primeiro os autores dizem que a ‘produtividade’ deve ser fechada, em outras palavras produzindo maior quantidade de comida possível a partir da terra que já se encontra em cultivo. Aumentar a produção depende da “capacidade dos agricultores de acessar e usar, outras coisas, sementes, água, nutrientes, manejo de pragas, solo, biodiversidade e conhecimento,” escrevem os autores.



Notando que os agricultores ao redor do mundo são limitados pela falta “acesso á conhecimento técnico e habilidades requeridas para aumentar a produção, limitados ao dinheiro que é preciso para investir em maior produção […] ou ao cultivo e variedade do gado que maximizam a produção,” os autores argumentam que os governos e instituições devem trabalhar para dar maior e mais fácil acesso dos agricultores—especialmente nos países em desenvolvimento—ás ferramentas necessárias para aumentar a produção. O investimento é especialmente necessário nos países mais pobres do mundo para ajudar pequenos agricultores, inclusive alcançando especificamente as mulheres agricultoras, para aumentar sua produção e sua renda.



Os autores também recomendam tentar forçar os limites de produção. Para isso a agricultura precisa imitar a revolução verde desenvolvendo novas variedades de cultivo que são mais resistentes á doenças, requerem menos água, e produzem mais alimentos. Além disso, eles dizem que as corporações devem tornar os cultivos geneticamente modificados (GM) amplamente disponíveis, enquanto ainda mantém a competitividade. Claro que o uso dos GM permanence bem controverso.



“Nossa visão é que os GM são uma tecnologia potencialmente valiosa cujas vantagens e desvantagens precisam ser consideradas rigorosamente sob uma base de evidencias, inclusivas, caso a caso: que não deveria ser nem privilegiado e nem automaticamente dispensado,” escrevem os autores.



Campos de arroz na província de Luang Prabang em Laos. Foto de: Rhett A. Butler.

Reduzir o desperdício seria um caminho para alimentar o mundo. De acordo com o artigo, 30-40 por cento dos alimentos do mundo são perdidos com o desperdício. Por exemplo, um estudo recente descobriu que os Americanos jogavam fora todos os dias, comida suficiente para alimentar 200 milhões de pessoas.



Os autores mostram que o problema do desperdício de alimentos no mundo industrializado é bem complexo.



“A comida atualmente é relativamente barata, pelo menos para esses consumidores, o que reduz os incentivos para evitar o desperdício. Os consumidores se tornaram acostumados a adquirir alimentos dos mais altos padrões e, portanto os compradores e varejistas descartam muitas plantações só porque estão ligeiramente manchadas ou esteticamente feias.” Além disse: “a indústria de serviços alimentícios freqüentemente usa porções ‘super-grandes’ como nível competitivo, enquanto as ofertas de ‘compre um e ganhe mais um’ tem a mesma função para os varejistas. Litígio e falta de educação sobre segurança alimentar tem levado a uma dependência do ‘uso por datas’ cujas margens de segurança freqüentemente significam que a comida que ainda serve para consumo é jogada fora.”



O desperdício geralmente ocorre nos mundo subdesenvolvido, mas por diferentes razões: aqui “as perdas são devido principalmente á falta de infra-estrutura da cadeia alimentar, e á falta de conhecimento ou investimento em tecnologias de estocagem agrícola,” de acordo com o artigo.



Os autores sugeriram que no mundo subdesenvolvido os investimentos são necessários para melhor transporte e estocagem relacionados á comida. No mundo industrializado, educação, legislação, mudanças, e mudanças culturais são necessárias para conter as enormes quantidades de comida desperdiçada.



Além de aumentar os rendimentos e reduzir o desperdício, os autores sugerem que a sociedade reduza o consumo global de carne, garantindo que o gado seja criado de forma eficiente. No que diz respeito aos alimentos marinhos, os autores sugerem aumentar a aqüicultura, ao mesmo tempo trabalhando para abrandar os impactos que ela causa no meio ambiente. Por exemplo, eles sugerem que a aqüicultura deveria focar em criar menos espécies marinhas na cadeia alimentar.



Parte final: sustentabilidade



Vila e porções de arroz no Platô Central de Madagascar. Foto de: Rhett A. Butler.

Claro que nenhuma dessas mudanças vão adiantar se a agricultura nao puder ser ambientalmente sustentável a longo prazo. Os autores escreveram que as ameaças á sustentabilidade advindas da agricultura incluem “a liberação de gases de efeito estufa (especialmente metano e óxido nitroso […]); poluição ambiental devido ao escoamento de nutrientes; escassez de água devido á extração excessiva; degradação do solo e perda da biodiversidade através da conversão de terra ou manejo inapropriado; e perturbação do ecossistema devido á pesca predatória de peixes e outros alimentos aquáticos.”



Para assegurar a sustentabilidade, os autores dizem que melhores ‘métricas de sustentabilidade’ são primeiramente necessárias para avaliar a eficácia das estratégias. De acordo com o artigo, a necessidade da sustentabilidade não precisa ameaçar a seguridade de alimentos: estudos têm mostrado que a agricultura sustentável não significa rendimentos reduzidos, na verdade muitos estudos de casos empregando práticas sustentáveis de fato aumentaram os rendimentos.



“Não ha solução simples para alimentar sustentavelmente nove bilhões de pessoas, especialmente quando muitos se tornam ricos e convergir os padrões de consumo dos países ricos não é tarefa fácil. Uma ampla gama de opções, inclusive as que discutimos aqui, precisam ser perseguidas simultaneamente,” concluem os autores. “Estamos esperançosos sobre a inovação cientifica e tecnológica sobre os sistemas alimentar, mas nao como uma desculpa para adiar as dificeis decisões de hoje.”






Citation: H. Charles J. Godfray, John R. Beddington, Ian R. Crute, Lawrence Haddad, David Lawrence, James
F. Muir, Jules Pretty, Sherman Robinson, Sandy M. Thomas, Camilla Toulmin. Food Security: The Challenge of Feeding 9 Billion People. Science. 28 January 2010. 10.1126/science.1185383.










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