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Consumidores devem ajudar a pagar a conta por um óleo de palmeira mais verde

O óleo de palmeira é uma das commodities mais comercializadas e versáteis do mundo. Ele pode ser usado como óleo vegetal comestível, lubrificante industrial, matéria prima para cosméticos e produtos de cuidado da pele e também para produção de biocombustível. A crescente demanda global por óleo de palmeira e a subsequente expansão da área de plantação tem sido responsabilizada por uma ampla variedade de danos ambientais, incluindo desflorestamento tropical, degradação de florestas alagadas, diminuição da biodiversidade e emissões de CO2. Em resposta à essas preocupações, um grupo de interessados – incluindo ativistas, investidores, produtores e revendedores – formou a Mesa Redonda sobre Óleo de Palmeira Sustentável (RSPO; www.rspo.org) para desenvolver um projeto de certificação para produção do óleo através de maneiras ambientalmente – e socialmente – responsáveis. É muito esperado que a criação de um mercado premium para o óleo de palmeira certificado como sustentável incentive os produtores a melhorarem suas práticas de manejo.


Drenagem e limpeza de floresta alagada na Central Kalimantan. Foto: Rhett A. Butler.

No entanto, a mesa redonda enfrenta vários desafios, incluindo o alto custo do processo de certificação que atualmente é inteiramente bancado por produtores e uma fraca demanda por óleo de palmeira certificado (CSPO). Acompanhando o primeiro carregamento de CSPO para a Europa em novembro de 2008, menos de 3% do volume total produzido (~1,05 milhão de toneladas) tinha sido vendido. Mesmo depois de 1 ano, em outubro de 2009, apenas ~200,000 toneladas de CSPO (~19%) tinha sido adquirido por fabricantes de produtos do óleo de palmeira. O motivo para a lenta demanda por CSPO não é clara, mas deve-se supostamente à crise mundial que levou compradores e fabricantes a não fazerem a troca pelo óleo premium. A crise econômica também pode ter afetado esforços para promoção do consumo sustentável em países como a China e a Índia, que são os maiores importadores de óleo de palmeira do mundo. Um motivo adicional poderia ser a falta de confiança dos consumidores em relação a credibilidade do óleo certificado, alimentada por acusações de ativistas que julgam a certificação como uma tentativa da indústria de maquiar o processo e enganar os consumidores. Por outro lado, outros grupos ambientalistas advertem que se o CSPO falhar na sua tentativa, a indústria de óleo de palmeira irá certamente retornar às suas práticas anteriores que continuarão a prejudicar o ambiente.


A nota de 50 Ringgits, moeda da Malásia, mostra uma palmeira de óleo.

Aqui, nós argumentamos que o fardo financeiro e o risco de se produzir óleo de palmeira sustentável não deveria ser de inteira responsabilidade dos produtores; e sim que esses custos deveriam ser divididos entre atores chave da cadeia de fornecedores de óleo de palmeira que inclui tanto comerciantes como compradores. Alem disso, argumentamos que a nível nacional alguns países podem ser mais capazes financeiramente do que outros para criar uma demanda mais forte de óleo de palmeira premium.





Área desmatada e floresta saudável em Bornéu.

Nós assim propomos um índice de “habilidade-financeira” que identifica os países importadores de óleo de palmeira mais ricos e maiores como aqueles mais obrigados moralmente a contribuir com o desenvolvimento de um mercado de CSPO bem sucedido que aumente a performance ambientalista da indústria de óleo de palmeira. Em sua forma mais simples, esse índice de habilidade-financeira poderia ser uma função múltipla de duas medidas – o volume per capita de importação de óleo de palmeira de um país e seu Produto Interno Bruto per capita (PIB). Importação é uma medida mais apropriada que Consumo porque países que se beneficiam com a importação e reexportação do óleo de palmeira (e. Comerciantes) também são obrigados a reduzir os impactos ambientais de suas atividades lucrativas.

Com base nos valores de 2007 dessas duas medidas, nós calculamos o índice de habilidade-financeira de 156 países (tabela 1; anexo S1). Os países Top 10 na lista são: Holanda, Alemanha, Estados Unidos, Reino Unido, Japão, Itália, Bélgica, China, França e Espanha. A Holanda está no topo da lista justificavelmente, sendo tanto o maior importador (1,24 milhões de toneladas) e o maior exportador (1,25 milhões de toneladas) de óleo de palmeira; e é também um dos países mais industrializados do mundo (PIB per capita: US$46,750). De fato, seis nações do G8 aparecem na lista (Alemanha, Estados Unidos, Reino Unido, Japão, Itália e França). Em contraste, embora a China seja a maior importadora de óleo de palmeira do mundo (5,4 milhões de toneladas), em virtude de ser significantemente menos rica (PIB per capita: US$2,575) que outros grandes importadores de óleo, está em oitavo lugar na nossa lista. A China também é o único país em desenvolvimento neste grupo.




Todos os valores correspondem ao ano de 2007.Valores da China incluem Hong Kong. O índice de habilidade-financeira é calculado como produto da importação de óleo de palmeira per capita e do PIB per capita. Para alguns países, o volume de exportação pode ser maior que a soma da produção e do volume de importação devido a acumulação de estoque de óleo de palmeira produzido ou importado no ano anterior. Dados estatísticos sobre óleo de palmeira foram obtidos da Organização de Alimentos e Agricultura das Nações Unidas (2009) e dados do PIB e população foram obtidos do Banco Mundial (2009). Veja Anexo S1 para lista completa dos 156 países.

Quais são as implicações financeiras da mudança de óleo sem certificação para óleo certificado em um país e para o consumidor individual? Nós baseamos nossas estimativas de custo da adoção em larga escala do CSPO no preço de US$781/ton (média de 2006-08; USDA-FAS 2009) e uma diferença de preço estimada em 15% entre o óleo certificado e o não certificado (RSPO 2009). Nós descobrimos que a Indonédia – o maior produtor de óleo de palmeira do mundo – consome 4,9 milhões de toneladas de óleo anualmente, e isso implicaria na adição de US$571 milhões no custo da troca por óleo certificado; no entanto para os EUA, que consome 960,000 toneladas anualmente (e tem visto essa demanda aumentar), a adição de custo seria de US$112 milhões. Para o consumidor individual na Indonésia, este teria que gastar US$2.50 a mais, o que representa 0,13% de sua renda anual (PIB per capita); já para os consumidores Americanos teriam que que gastar apenas um adicional de US$0.40, equivalente a 0.0008% de sua renda anual. Consequentemente, um indivíduo em um país em desenvolvimento como a Indonésia além de arcar com o custo da produção sustentável de óleo de palmeira, estaria também sobrecarregado ao consumir o óleo sustentável, comparado a um consumidor de nações mais ricas como os Estados Unidos.

Dado o esperado crescimento da demanda global para óleos vegetais comestíveis e biocombustíveis, um esquema de certificação poderia se provar um incentivo financeiro atraente – um ponto de pressão chave na indústria – para fazendeiros melhorarem suas performances ambientalistas. No entanto, para que qualquer esquema de certificação seja crível e possível, seu fardo financeiro deveria ser apropriadamente dividido entre diferentes interessados. Particularmente, como sugerido pela nossa análise, os compradores e comerciantes de óleo de palmeira mais ricos têm uma obrigação moral de garantir o sucesso da certificação.

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