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Mudar os condutores do desflorestamento provê novas oportunidades para a conservação



O desflorestamento tropical chegou a aproximadamente 13 milhoes de hectares de floresta por ano durante a primeira metade desta década, cerca da mesma quantidade de perda florestal dos anos 90. Mas enquanto os numros totais permaneceram relativamente constantes, eles mascaram uma transição de grande significância: uma mudança de condutores do desflorestamento dos pobres para os condutores industriais e a consolidação geográfica de onde o desflorestamento ocorre. Essas mudanças têm importantes implicações para os esforços de proteção das florestas tropicais remanescentes do mundo dos grupos ambientais que agora tem marcos identificáveis que podem ser mais eficientes para pressionar as preocupações ambientais do que dezenas de milhões de pobres agricultores rurais. Em outras palavras, os ativistas têm mais uma alavanca do que nunca para causar impacto no comportamento das empresas no que se refere ao desflorestamento.



De acordo com a pesquisa de Tom Rudel da Rutgers University, dos anos 60 até os anos 80, uma grande proporção de desflorestamento foi o resultado de políticas governamentais que promoviam o desenvolvimento rural, incluindo empréstimos agrícolas e construção de rodovias. Essas iniciativas, principalmente no Brasil e na Indonésia, levou a um desflorestamento em larga escala por pequenos proprietários de terra. Hoje, a estabilidade econômica, um mercado financeiro global cada vez maior e uma expansão dos commodities ao redor do mundo estão conspirando para criar um ambiente maduro para o desenvolvimento do setor privado. Enquanto antes, os projetos de desenvolvimento planejados e os programas de alívio da pobreza eram a premissa das construções de rodovias e dos esquemas de colonização, o ímpeto político de hoje para os grandes projetos de infra-estrutura vêm dos interesses da indústria á procura de acesso facilitado para os mercados internacionais. A crescente demanda por grãos, conduzida pela sede por biodiesel e o crescente padrão de vida dos países em desenvolvimento estão alimentando essa tendência.



Desde os anos 90 o desflorestamento se tornou muito concentrado. Uma pesquisa recentemente publicada por Matt Hansen da Universidade do Estado de Dakota do Sul sugere mudanças ainda mais dramáticas nos últimos anos. O trabalho dele, que é baseado em imagens de satélites de alta resolução, mostra que o Brasil e a Indonésia foram responsáveis por 61 por cento do desflorestamento tropical entre 2000 e 2005, ao invés dos 43 por cento relatados pela FAO – Organização da Agricultura e Alimentos das Nações Unidas.




Embora muitos se sintam consternados com o que vêem como grande capacidade destruidora de florestas, a recente mudança de condutor de desflorestamento dos pobres para a indústria pode oferecer novas oportunidades para a conservação florestal já que é mais fácil pressionar grupos a ter como alvo corporações e empresas do que dezenas de milhares de pobres agricultores que estão simplesmente tentando colocar comida na mesa para suas famílias.



Um bom exemplo pode ser visto no relatório do Greenpeace Slaughtering the Amazon divulgado em Junho passado. Esse relatório ligou algumas das mais proeminentes marcas — Nike, Toyota, Prada, e outras — á destruição da Floresta Amazônica. A reação causada pelo relatório foi imediata. Alguns dos maiores compradores de carne e lã suspenderam contratos com fornecedores ligados com o desmatamento da Floresta Amazônica. O governo Brasileiro anunciou uma medida enérgica e multas, a invasão de escritórios de poderosas companhias de gado e pediu uma revisão dos programas de empréstimos. Os ministros do governo se juntaram ao setor privado na demanda por novos controles da cadeia de custódia para os fornecedores para assegurarem que os produtos advindos do gado não estão contribuindo para o desflorestamento. Os grandes produtores de gado e comerciantes logo responderam com uma moratória sobre o desflorestamento na Amazônia e uma promessa de implementar melhores mecanismos de rastreamento da cadeia de fornecimento. A indústria brasileira de gado pode agora estar no limite de transição de ser a maior do mundo e única condutora do desflorestamento para um critico componente na ajuda da diminuição das mudanças climáticas.


Para serem eficientes, as ONGs verdes deveriam ter cuidado ao evitar “trapaças” ou ao usar as mesmas táticas que as corporações usam para descaradamente deturpar as realidades ambientais. Mentir para o público mina a credibilidade dos grupos ativistas e mina também o apoio á proteção do meio ambiente, causando danos a longo prazo para a defesa da causa.

Mas enquanto as mudanças no Brasil e em algumas outras partes do mundo parecem anunciar uma mudança em relação á preocupação sobre o desempenho ambiental entre os maiores condutores do desflorestamento, as dificuldades ainda existem. Alguns mercados — notavelmente da India e da China mas também dos EUA e da Europa em alguns casos — tem uma menor preferência por consumo de bens amigos do meio ambiente. Além disso, a deturpação das qualidades ambientais de um produto também apresenta desafios para os esforços de reduzir significantemente o impacto da indústria sobre o planeta. Finalmente, as atividades industriais podem freqüentemente oferecer um ímpeto econômico mais forte para o desenvolvimento da infra-estrutura que mais tarde promoverá o desmatamento florestal.



No entanto, uma emergente ênfase sobre os valores que o ecossistema banca para a humanidade pode aliviar um pouco da pressão sobre as florestas criando oportunidades para corporações lucrarem através da proteção — ao invés da destruição — de terras selvagens. Por exemplo, o mecanismo REDD, uma proposta de Redução das Emissões advindas do Desflorestamento e Degradação poderia fornecer incentivos para os tradicionais destruidores da floresta para enxergar as florestas como bens de valor. A rede de resultados poderia ser uma preservação conduzida pelas empresas sobre as terras selvagens. Claro, a chave para o sucesso desse esforço é assegurar que as populações rurais e os moradores da floresta compartilhem desse processo. Sem a parceria deles, o desflorestamento não irá desaparecer.



Para uma discussão mais aprofundadad desse conceito, dê uma olhada em Novas estratégias para a conservação das florestas tropicais, um trabalho que eu escrevi com o Dr. William Laurance no ano passado.

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