Um novo manual mostra a metodologia para o mapeamento cultural, provendo os grupos indígenas com uma poderosa ferramenta para defender suas terras e cultura, enquanto os habilita a se beneficiarem dos avanços do século XXI. O mapeamento cultural pode também facilitar os esforços indígenas a ganharem reconhecimento e compensação sob o esquema proposto de abrandar a mudança climática através da conservação florestal. O esquema—conhecido como REDD para a redução das emissões advindas do desflorestamento e da degradação—será um tópico central de discussão na próxima conversação climática mês que vem em Copenhagen, mas as preocupações permanecem no sentido de que o REDD pode falhar na entrega dos benefícios aos habitantes da floresta.
Muito da floresta Amazônica permanece ocupada por tribos indígenas. Enquanto pouco delas vivem como conjurado na imaginação, o estado das florestas de seus territórios é um testemunho de sua eficiência em administrar a terra. Mas como a Amazônia por si só, esses grupos enfrentam novas pressões externas. Para os indígenas, a sedução da cultura urbana é muito forte—as cidades parecem oferecer a promessa de afluência e as conveniências de uma vida mais fácil. Mas ao deixar suas florestas, eles geralmente se depararam com uma dura realidade: as habilidades que servem a eles tão bem na floresta não se traduzem tão bem no ambiente urbano. As probabilidades estão empilhadas aos montes contra eles; eles chegam perto do fundo da escada social, e com freqüência sem proficiência na língua e nos costumes dos habitantes da cidade. Os mais sortudos podem arranjar trabalho em fábricas ou como trabalhadores freelancers, guardas ou seguranças, mas muitos eventualmente retornam para o interior. Alguns se re-integram as suas tribos, outros retornam com uma capacidade completamente diferente da que tinham quando partiram. Eles podem se juntar ás fileiras de garimpeiros e madeireiros que invadem as terras indígenas, concluindo acordos que colocam membros da mesma tribo, uns contra os outros para explorar recursos que eles detinham. Como as tribos ficam assim fragmentadas, e a floresta derrubada, a cultura indígena—e o profundo conhecimento que eles detém — se perde. Ao mundo resta um lugar mais pobre, culturalmente e biologicamente.
Em Rondonia, Brasil, Surui usa laptops fornecidos pela ACT para monitorar suas reservas usando a tecnologia do Google Earth. Foto &copia; Fernando Bizerra Jr. |
MAs há nova esperança, incorporada pelos esforços de capacitor as tribos a se tornarem mais autoconfiantes atraves do uso da tecnologia do estado da arte que constrói e impulsiona seus conhecimentos. Essas ferramentas podem ajudá-los a melhor defender suas terras e oferece o potencial para a próxima geração dos Surui, Trio, ou Ikpeng a terem um futuro para sua determinação ao invés de uma imposta a eles por uma sociedade que valoriza os recursos trancafiados em seu território em detrimento de seus conhecimentos sobre a floresta e sua rica história cultural. Através de tal tecnologia, as tribos podem ser capazes de evitar um destino no qual eles se tornam destruidores, ao invés de protetores da base de sua cultura—sua floresta natal.
No comando desse esforço está a Amazon Conservation Team (ACT), um grupo sediado em Virginia com escritórios em campo no Brasil, Suriname, e Colômbia. A Amazon Conservation Team tem sido pioneira no treinamento do sistema de informação geográfica (GIS) para os grupos indígenas na Amazônia para capacitá-los a mapear suas terras, não apenas como meio de demarcá-las e ganhar títulos, mas para catalogar seus links culturais á terra. Na construção desses “mapas culturais,” as tribos constroem mapas de seus territórios que vão além da topografia do terreno, capturando a riqueza escondida por gerações de experiência humana, incluindo sua interação com a terra e com outras tribos, e a distribuição de plantas e animais de significância nutricional, medicinal e espiritual. Em outras palavras, por mais que a cultura indígena seja produto da terra, os mapas capturam a essência dessas tribos.
Mas criar um mapa cultural não é uma tarefa nada fácil. Pode levar anos de trabalho pela tribo, delineando o que conterá o mapa, determinando quais comunidades participarão, e coordenando quem na comunidade irá fazer o verdadeiro e árduo trabalho. Outras considerações surgem também, incluindo a colheita de ciclos e estações— o mapeamento não pode interferir nas atividades que sustentam a tribo—e o tratamento da pobreza intelectual contida nos mapas, já que eles podem ser usados para propósitos nefastos se em mãos erradas, incluindo a exploração da madeira e plantas medicinais.
Um mapa modelo criado pelos Índios Brasileiros. Imagem cortesia da ACT. |
O treinamento por si só pode ser bem complexo. Os mapeadores indígenas devem aprender os meandros das unidades portáteis de GPS, os sistemas GIS, computadores e ferramentas da internet como o Google Earth antes de construirem mapas e monitorarem seus territórios contra ameaças e invasões. Mas a compensação pode valer a pena o esforço: 20 grupos na Amazônia Brasileira criaram o uso de mapas culturais e de terras em seus territórios. Os mapas incluem 7.500 nomes indígenas, 120 vilas, e milhares de areas de significancia cultural e histórica. No Suriname, os mapas estao sendo usados para ajudar os grupos indígenas a ganhar reconhecimento do governo —e eventualmente o título—de suas terras. Alguns dos mapeadores indígenas se especializaram e se tornaram certificados como guardas do parquet, capacitando-os a ganhar uma renda enquanto trabalham protegendo suas terras.
O novo manual, “Metodologia do Mapeamento Cultural Colaborativo,” leva os leitores a perceber o processo de estabelecimento das reunioes das comunidades entre as partes interessadas, compondo a equipe de mapeamento, estabelecendo os workshops de treinamentos, conduzindo ao campo de trabalho, desenvolvendo o mapa, e finalmente entregando o mapa. O guia, que está disponível tanto em Ingles quanto em Português do Brasil, aparece como tempo de oportunidades: o interesse na conservação das florestas tropicaisl nunca foi tão grande. A razão? As florestas tropicais sao vistas como críticas no combate á mudança climática, tanto em termos de seu valor no sequestro de carbono e como compromisso politico que serviria de contribuição dos paises em desenvolvimento para a redução das emissoes de gases de efeito estufa. Como administradores de longa data das florestas tropicais, os povos indígenas sao efetivamente guardiões do cabono florestal. Mas a questao que permanence é se eles serão um dia reconhecidos como tal. Mapear suas terras pode ajudá-los a demonstrar seu papel crítico nos esforços de conservação da floresta, ganhando reconhecimento, compensação e uma forte voz na determinação de como seus recursos sao administrados.
Um exemplo pode ser encontrado no projeto de carbono da tribo Surui em Rondônia, Brasil, que clama proteger 250.000 hectares de floresta. Priorizando estabelecer o projeto de carbono , os Surui trabalharam juntamente com a Amazon Conservation Team para desenvolver um mapa cultural de suas terras.
Parques inígenas sob patrulha perto de Kwamalasamutu, Suriname. |
O mapa etnográfico (cultural) se tornou um instrumento fundamental na integração de seus conhecimentos tradicionais da floresta com as últimas tecnologias em medição e monitoramento do carbono “, Vasco van Roosmalen, diretor da Amazon Conservation Team-Brasil, contou a mongabay.com . “É um dos principais instrumentos para traduzir as necessidades de um projeto de carbono para a comunidade e é também a garantia de que suas perspectivas estejam verdadeiramente integradas na concepção do projeto.”
Mark Plotkin, presidente da Amazon Conservation Team, acrescenta que assim que eles completaram o mapa, os Surui estarão em uma posição com muito mais vantagem no projeto de crédito de carbono.
“Após o processo de mapeamento ser concluído, alguns dos indígenas são treinados intencionalmente como guardas do parque-significando que os protetores da floresta estão a postos, o que é um verdadeiro obstáculo para outros projetos de carbono, onde ninguém vive dentro e protege as florestas”, disse ele mongabay.com.
“Mapeamento Etnográfico representa o casamento perfeito da sabedoria xamânica antiga e tecnologia do século 21”, Plotkin continuou. “Quando bem feito, resulta em uma melhor proteção da floresta e reforça a capacidade dos índios para enfrentar as oportunidades e desafios colocados pelo mundo exterior.”
Metodologia de Mapeamento Cultural Colaborativo