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O aquecimento global pode causar a extinção da biodiversidade

O impacto do aquecimento global sobre a extinção da biodiversidade

O aquecimento global pode causar a extinção da biodiversidade
By Rhett A. Butler, mongabay.com
Traduzido por Marcela V.M. Mendes
19 de Setembro, 2008

A extinção é um tópico fortemente debatido mas pouco entendido na ciência. O mesmo acontece com a mudança climática. Quando os cientistas tentam prever o impacto da mudança climática global sobre os niveis futuros de biodiversidade, os resultados são controversos, no mínimo.



Enquanto alguns discutem que as espécies deram um jeito de sobreviver á pior mudança climática no passado as ameaças atuais á biodiversidade são exageradas, muitos biólogos dizem que os impactos da mudança climatica e os resultantes deslocamentos das chuvas, temperatura, niveis do mar, composição do ecossistema e disponibilidade de alimentos terão efeitos significantes na riqueza das espécies globais.



Lições das extinções históricas



Há pouca duvida de que o clima teve um papel crítico nas flutuações dos niveis de biodiversidade. Entre os cinco reconhecidos eventos de extinção em massa — o Ordoviciano, o Devoniano, o Permiano, o Triassico e o Cretacio — pelo menos qutro tiveram algo correlacionado á mudança climática.



Peter Ward, um paleontólogo na Universidade de Washington em Seattle, diz que há evidência que a maioria das extinções em massa foram causadas pela mudança gradual do clima. Especificamente ele cita as extinções Triassica e Permiana de 200 milhões e 251 milhões de anos atrás, respectivamente.



Historic mass extinctions

“O evento do Triassico não foi algo que aconteceu da noite para o dia,” disse Ward, observando que os niveis de dióxido de carbono na atmosfera eram mais de 100 vezes o que são hoje.



No caso do Permiano, as crescentes temperaturas podem ter causado a maior extinção em massa já registrada, de acordo com um estudo publicado em Setembro de 2005 sobre Geologia. O aquecimento global, que pode ter produzido temperaturas 10 a 30 graus Celsius (18-54 graus F) mais altas que hoje, acredita-se ter varrido 95% das formas de vida dos oceanos e quase 75% das espécies terrestres.



Enquanto a mudança climática causou a extinção das espécies, ela também levou ao nascimento de novas espécies, incluindo a humanidade.



Durante o Máximo Termal Paleoceno-Eoceno (PETM), um período de 55 milhões de anos atrás marcado por um rapido aumento nos gases de efeito estufa que aqueceram a Terra em aproximadamente 9° F (5° C) em menos de 10.000 anos, o aquecimento global causado espalhou mudanças, incluindo a extinção em massa dos oceanos do mundo por causa da acidificação e deslocamento de comunidades de plantas devido á mudanças ans chuvas. A era ajudou a estabelecer um estágio para a “Idade dos Mamíferos,” que incluiu a primeira aparição dos primatas modernos.


Períodos posteriores de mudança climatica na Africa pode ter criado condições que levaram á evolução humana. Dr Mark Maslin, Palestrante Senior em Geografia na Universidade College London, argumentam que a variação do clima sobre os últimos 2.7 milhões de anos tiveram um papel crucial no desenvolvimento humano. Seu trabalho sugere que os humanos evoluiram durante curtos períodos de grande mudança ambiental — quando periodos secos foram pontuados pelo grande e rápido aparecimento e desaparecimento de lagoas. Foram essas rapidas mudanças nas fontes de águas que forçaram as primeiras comunidades humanas a rapidamente mudar e se adaptar.



“Esses períodos úmidos temporários teriam imposto grandes impactos sobre os primeiros humanos,” ele afirmou na Conferencia Anual de 2005 da Royal Geographical Society em Londres. “Nossa pesquisa provê grande suporte para teorias nas quais as primeiras espécies humanas evoluiram e se espalharam em resposta a um ambiente de rápidas mudanças.”



A extinção induzida pela mudança climática gera biodiversidade, mas com um atraso



Apesar das extinções passadas, em uma escala de tempo geológico a Terra atualmente tem mais espécies do que em qualquer tempo antes. No entanto, é importante notar que enquanto a mudança climática tem aumentado o numero de novas espécies após a estinção em massa, o tempo de recuperação é medido em milhões de anos, enquanto os humanos tem estado aqui cerca de menos de 200.000 anos. As extinções passadas ensinam que a biodiversidade leva um longo tempo para se recuperar e a perda de espécies nao será reposta em nenhuma escala de tempo significativa.



Foto por Brodie Ferguson.

A maioria dos biologos concordam que estamos atualmente no meio do sexto grande evento de extinção, no qual a perda de espécies está ultrapassando o surgimento de novas. Em um trabalho publicado ano passado na Revisão Anual de Ecologia, Evolução e Sistemáticas, Camille Parmesan, uma bióloga da Universidade do Texas em Austin, argumentou que o atual aquecimento global já causou extinções nos habitats mais sensiveis do planeta e continuará levando mais espécies á extinção nos próximos 50 a 100 anos. O trabalho de Parmesan mostra que enquanto algumas espécies—especialmente aquelas com tempos curtos de geração como os insetos—estão evoluindo em resposta á mudança climática, eles não estão evoluindo de maneiras a prevenir a extinção. Sobretudo, a evolução das espécies não está compensando o desaparecimento das espécies.



Atual extinção



Até agora a previsão mais compreensiva para o impacto da mudança climática sobre a biodiversidade global foi feita em dois trabalhos em 2004 publicados em Nature por Chris Thomas e colegas. Analisando a distribuição de 1103 especies de animais e plantas de varias partes do mundo, os autores mostraram que 15-37 por cento são prováveis serem extintos baseados nas melhores projeções de futura mudança climática.



“Nós combinamos a atual distribuição geográfica de cada uma dessas 1103 especies com as condições climaticas dessas áreas, e então perguntamos “quão grande uma área desse tipo de clima existiráe em 2050, e onde ela estaria?” Dr. Thomas, um biólogo da Universidade de York, explicou a mongabay.com por email. “Em alguns casos, o clima atualmente ocupado por uma espécie seria esperado desaparecer inteiramente; em outros casos não havia envoltorio geográfico entre onde as espécies atualmente ocorrem e onde as condições climáticas permanecerão apropriadas – as espécies teriam de se mudar ou potencialmente encarar a extinção.”



Dr. Thomas diz que a associação incerta com as projeções climáticas tornam as estimativas para a biodiversidade duvidosa, mas que suas projeções sugerem que a mudança climática poderia provar que a perda de habitat causada pelos homens é o condutor principal da extinção das espécies.



“Usando uma variedade de cenários, suposições e métodos de análises, estimamos que algo entre 5% e 50% das espécies que analisamos estão em risco de extinção, com a escala central de estimativas caindo entre 15% e 37%. Isso está na base de aquecimento projetado até 2050, então no ano de 2100 os riscos de extinção advindos da mudança climática são prováveis ficar acima da metade dessa escala,” ele explicou. “Nossas estimaticas de extinção potencial foram preliminarmente valores para definir a ordem da magnitude do problema. Descobrimos que os riscos de extinção advindos da mudança climática são provavelmente similares áqueles da perda de habitat, e concebivelmente até maior em algumas regiões.”



Dr. Thomas adverte que nem todas as espécies “em riscos de extinção” irão desaparecer até 2050 devido ao tempo inerente de extinção.



“Quando o clima começa a se tornar inapropriado para a sobrevivencia a longo tempo das espécies, não significa que ela irá desaparecer imediatamente. Para espécies com individuos de vida longa, em particular, pode levar muitas décadas ou até mesmo séculos antes que o ultimo individuo da especie morra. Então, esses são os números de especies que podem estar declinando rumo a extinção de 2050, e não o numero que terá desaparecido até lá.”



Como a mudança climática afeta a biodiversidade?


A mudança climática pode afetar espécies de varias formas incluindo a expansão, contração, e “migração” de habitat; incidência aumentada de doenças e espécies invasivas; mudanças na temperatura, precipitação e outras condições ambientais; mudanças na disponibilidade de alimentos; e falha nos relacionamentos ecológicos com outras especies — por exemplo a perda de polinizadores importantes ou fixadores de nutrientes mutualisticos. No passado algumas espécies podem ter escapado da extinção “migrando” para norte ou para o sul em resposta á mudança climática. Hoje os homens tornaram isso muito mais dificil pela fragmentação, conversão e destruição de habitats e potenciais corredores de migração.



Foto por Rhett A. Butler.

Peter Raven, diretor do Jardim Botânico de Missouri e um especialista renomado em biodiversidade diz que a mudança climática também tornará os esforços de conservação mais difíceis.



“Comforme o clima muda, áreas protegidas não serão capazes de se deslocar devido ás áreas urbanas ao redor e ás zonas agrícolas,” ele contou a mongabay.com via telefone. “Isso os torna ainda mais suscetíveis ao impacto da mudança climatica, seja pelo aumento do nivel dos mares, mudanças na precipitação, ou temperaturas mais quentes.”



“A perda de habitat irá interagir com a mudança climatica também,” acrescentou Dr. Thomas. “Já é difícil conservar terra suficiente para proteger a biodiversidade do mundo – quão mais difícil será conforme as espécies deslocam sua distribuição para novas áreas onde o clima é mais apropriado para elas. Precisa-se proteger onde as espécies se encontram agora, onde elas se econtrarão no futuro, e terras pelas quais elas possam passar. Portanto, a primeira resposta para manter a biodiversidade dentro do contexto de mudança climatica é renovar os esforços para proteger grandes areas de habitats naturais e semi-naturais particularmente em escalas montanhosas e outras regiões ambientalmente diversas – onde as especies podem ser capazes de sobreviver se movendo em distancias relativamente curtas de baixas a altas elevações, de solos secos á solos umidos (e vice versa), e por ai vai.”



Se tantas espécies são previstas morrerem, então onde estão todas as extinções?



A biodiversidade da Terra ainda é pouco conhecida. Dr. Raven estima que menos de um sexto das espécies foram nomeadas, deixadas sozinhas para testar seu risco á mudança climática. Como tal, a maior parte da extinção irá ocorrer entre espécies que são menores e menos conhecidas. Além disso, a extinção das especies é prevista para acelerar significantemente cerca de meio século se as previsões estiverem precisas, diz Dr. Thomas.



“Esperamos ver a maior parte da extinção ocorrendo por volta de 2050, não agora,” ele disse. “Mas há cada vez mais evidências de que as especies estão declinando nas baixas altitudes e baixas latitudes de suas escalas geográficas. E ano passado, Alan Pounds e colegas publicaram um trabalho indicando que mais de 1% de todas as espécies de anfibios do mundo (as rãs harlequin) sucumbiram aos picos de temperatura que causaram uma patogenia de fungos na pele. Isso aconteceu muito mais cedo do que eu esperava, e foi ainda pior do que eu temia.”



Dr. Thomas está se referindo ao estudo que descobriu que quase dois-terços das 110 conhecidas espécies de rãs harlequin Atelopus da América Central e do Sul foram extintas nos anos 80 e 90. O que levou a extinção foi um tipo de fungo chytrid (Batrachochytrium dendrobatidis), uma doença de pele infecciosa. Os pesquisadores descobriram fortes correlações entre as mudanças no clima e as últimas aparições das rãs. De acordo com os cientistas, o aumento de temperatura da Terra alcança a cobertura de nuvens nas montanhas tropicais, levando a dias mais frios e noites mais quentes, o que favorece o fungo chytrid que cresce e se reproduz melhor em temperaturas entre 63 a 77 graus Fahrenheit (17 a 25 graus Celsius).



“A extinção da rã harlequin representa um aviso importante. Nenhuma das ameaças que afetam a biodiversidade do mundo agem sozinhas. A mudança climatica ajudou a impulsionar epidemias de uma doença emergente, e foi a força combinada dessas duas ameaças que foi tão prejudicial para as rãs harlequin.”



Essas coloridas rãs pode ser como o proverbio “canário na mina de carvão”: um grande numero de estudos sugerem que a mudança climatica poderia colocar uma grande variedade de plantas e animais em risco de extinção.



Além das rãs: lemurs, pássaros, e recifes de corais



Patricia Wright, especialista em lemurs, descobriu que mesmo pequenos deslocamento nos padroes de chuvas pode drasticamente afetar populações de lemurs. “Uma pequena mudança no clima, mesmo na floresta úmida onde presumimos haver muita água disponível, pode ter um enorme impacto na sobrevivencia dos lemurs bebês,” disse ela seguindo a publicação de um trabalho da PNAS em 2005 que mostrou como mesmo mudanças súbtas no clima, resultam diretamente em menor sucesso reprodutivo em lemurs. “Eu fiquei chocada ao ver o efeito da diminuição das chuvas de pequeníssima magnitude sobre a sobrevivencias de bebês sifakas. As implicações são enormes em um mundo cheio de espécies ameaçadas.” Ela diz que o desflorestamento e a fragmentação do habitat apenas irão piorar a ameaça.



Similarmente, sobre o modelo de clima das florestas tropicais do norte da América do Sul, Dr. Paul A. T. Higgins espera um declínio regional na biodiversidade devido á menores niveis de chuvas. Ele diz que a destruição de habitat tornará mais difícil para as espécies persistirem em florestas de deslocamento.



Enquanto isso, pesquisas com pássaros indicaram que até 72 por cento das espécies de pássaros no norte da Austrália e mais de um terço na Europa poderiam ser extintas devido ao aquecimento global. O relatório WWF, que revisou mais de 200 artigos científicos sobre pássaros descobriu que as espécies que estão mais em risco incluiam espécies migratórias, de montanha, ilhas, áreas úmidas, do Ártico, Antártida e pássaros marinhos. Ano passado, a Agencia de proteção ambiental Britânica (DEFRA) advertiu que a mudança climática iria interferir na reprodução, migrações, e aumentar a transmissão de doenças em aves migratórias e animais.



Finalmente, uma série de estudos publicados nos ultimos anos expressaram grande preocupação com os recifes de corais. Entre os mais alarmantes estava um pela WWF e governo de Queensland que disse que a Grande Barreira de Recifes da Australia poderia perder 95 por cento de seus corais vivos até 2050 se as temperaturas oceânicas aumentarem 1.5 grau Celsius projetado pelos cientistas do clima. A acidificação oceânica, resultante de maiores concentrações de dióxido de carbono dissolvido, é uma ameaça a mais para os corais e plancton que formam a base da cadeia alimentar marinha.



Reduzindo incertezas e previnindo cenários catastófricos



Apesar desses estudos serem extremos, eles ainda estão longe da certeza. Dr. Thomas diz que enquanto mais pesquisas são necessárias para compreender melhor os riscos impostos pela mudança climatica, nós precisamos identificar as raizes causadoras do problema.



“A maioria das pesquisas subsequentes sobre ameaças de extinção advindas da mudança climatica tem colocado também os riscos de extinção no mesmo nivel. Para honrar essas estimativas muito esta sendo exigido para um trabalho detalhado sobre cada espécie – o trabalho até agora é suficiente para dizer que a mudança climatica é bem provável ser a grande causadora da extinção, mas nao podemos ainda especificar exatamente quais espécies sobreviverão ou perecerão.”



“Dado que aproximadamento o dobro do nivel de extinção é previsto para cenários de maiores emissões de aqueciemnto, comparado a cenários de menores emissões, minimizando a quantidade de aquecimento que na verdade ocorre no nivel mais alto de prioridade.”



Dr. Ward concorda. Se referindo a enventos de extinção pre- históricas por vulcanismos, disse ele, “Estamos descendo pela mesma estrada, mas trocamos os vulcões pelos agentes de destruição para os SUVs.”



Dr. Raven diz que agora é o momento de agir.



“As pessoas estão ficando mais conscientes da mudança climatica como um importante fator. O aquecimento do clima não apenas afeta diretamente a preservação da biodiversidade, mas torna as pessoas mais alertas sobre os problemas da perda da biodiversidade global,” disse ele. “Agora é a melhor oportunidade que temos para agir. Quanto mais esperarmos, menos escolhas teremos e mais perderemos.”


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