“Carbono de tartaruga” pode ajudar a proteger florestas tropicais e salvar tartarugas marinhas ameaçadas
“Carbono de tartaruga” pode ajudar a proteger florestas tropicais e salvar tartarugas marinhas ameaçadas
Rhett A. Butler, mongabay.com
Traduzido por Rafael Perecin Foltram
3/9/2008
O uso de créditos de carbono para promover a conservação das florestas tropicais pode ajudar a proteger tartarugas marinhas ameaçadas em algumas partes do mundo, diz especialista em finanças de carbono.
Gabriel Thoumi, diretor florestal da MGM International, afirma que o “carbono de tartaruga” pode servir como um modelo para financiamentos da conservação da vida selvagem atrávez dos promissores “pagamentos por serviços ao meio ambiente.”
A premissa de Thoumi é baseada em uma recente pesquisa que mostrou que tartarugas marinhas podem ser afetadas de maneira prejudicial pelo desflorestamento. O estudo, publicado no começo do ano no periódico Oryx por cientistas do Smithsonian Tropical Research Institute e da Wildlife Conservation Society revelou que toras de árvores estão aparecendo em importes “praias berçário” das tartarugas, impedindo que tenham sucesso reprodutivo e até mesmo matando adultos. As toras causaram vários problemas para as tartarugas marinhas, incluindo prendendo e desorientando os animais, levando eles à morte; bloqueando fisicamente o acesso para áreas de construção dos buracos que servem como um ninho, forçando as tartarugas a abandonar a postura dos ovos ou a estabelecer os ninhos perigosamente perto do nível da água (inundação por água do mar mata os ovos de tartaruga); alterando a estrutura da praia de uma maneira que as tartarugas são impedidas de “subir os degraus” esculpidos pela erosão da areia; e impedindo a formação de uma “trilha” em direção ao oceano feita pelos próprios filhotes o que aumenta sua vulnerabilidade aos predadores.
Hatchling Olive ridley sea turtle headed out to sea. Photo by Rhett A. Butler. |
Thoumi acredita que a redução do desmatamento em áreas críticas pode ajudar a diminuir o número de toras que aparecem nas praias e assim ajudando às tartarugas.
Thoumi elha especificamente para War-Mon e Jamursba-Medi, na ilha de Nova Guiné. De acordo com o “Bellagio Blueprint for Action”, uma proposta para proteger as tartarugas marinhas, War-Mon e Jamursba-Medi são duas das dez mais importantes praias berçário para as tartarugas de leatherback na Indonésia.
Thoumi propõe o uso de créditos de carbono gerados pela proteção de florestas através da Compensação pelo Desmatamento e Degradação Evitados (REDD, da sigla em inglês Reducing Emissions from Deforestation and Degradation), de um modo a financiar a defesa das tartarugas enquanto reduz a incidência de toras aparecendo nas praias mais sensíveis. Ele diz que os recursos gerados pelo chamado plano de “desmatamento evitado” podem ir para o desenvolvimento, pela própria comunidade, de iniciativas que protejam as tartarugas.
“Protegendo os berçários das Tartarugas de Leatherback do Pacífico do desmatamento, comunidades locais podem aumentar sua renda enquanto preservam suas tradicionais habilidades de conseguir água limpa, comida saudável e abrigo,” Thoumi disse a mongabay.com. “Dessa maneira, comunidades locais podem ser envolvidas diretamente nas atividades locais de mitigação do aquecimento global ao mesmo tempo em que elas aumentam seu potencial de ganhar dinheiro desenvolvendo a sustentabilidade.”
Para levar a idéia além do estágio conceitual, Thoumi diz que o desenvolvedor do projeto precisaria entender melhor as ameaças específicas às tartarugas marinhas de leatherback trabalhando com cientistas.
“O desenvolvedor precisa entender a predação de ovos por roedores, cachorros e porcos e como a temperatura da areia pode afetar o sexo das tartarugas,” diz ele.
Map of Jamursbi-Medi and War-Mon Beaches, Papua, Indonesia, adapted from Conservation International. Accessed 30 June, 2008. |
O desenvolvedor precisaria então discutir como trabalhar com a comunidade local para criar “empregos sustentáveis” incluindo proteção de tartarugas e assistência aos animais recém chocados.
“O desenvolvedor deveria promover um fundo para os habitantes locais serem contratados para proteger suas praias de toras trazidas pelo mar e outras ameaças da fauna para os ninhos das tartarugas de leatherback,” Thoumi explica. “Esse fundo permitiria aos moradores locais desenvolver e diversificar seus negócios. Os recursos desse fundo seriam provenientes das vendas de créditos de carbono por desmatamento evitado, acabando com a fonte das toras que aparecem nas praias.”
“Em outras palavras, assegurando a concessão de onde as toras são originárias e usando essa concessão como um projeto de desmatamento evitado, o desenvolvedor pode financiar a proteção das tartarugas marinhas de leatherback.”
O desenvolvedor precisaria então trabalhar com o governo local para assegurar os direitos de proteção contra o desflorestamento perto das praias.
Uma vez o projeto estabelecido, o desenvolvedor poderia vender esses “créditos de tartaruga” no mercado de carbono voluntário, talvez comandando uma recompensa de empresas interessadas em neutralizar suas emissões com créditos “amigos da vida selvagem.”
William F. Laurance, autor principal do estudo do Oryx, diz que os créditos podem ser uma grande maneira de atrair interesse para os créditos de desmatamento evitado.
“É uma idéias intrigante,” Laurance disse a mongabay.com. “Eu acho que a ligação com um animal tão carismático quanto à tartaruga de leatherback pode ajudar a atrair investidores em créditos de carbono… apesar de ser importante demonstrar que o desmatamento local é a origem das toras que bloqueiam as praias berçário das tartarugas”