Private Equity tenta lucro da conservação da vida selvagem de florestas tropicais
Private Equity tenta lucro da conservação da vida selvagem de florestas tropicais
Rhett A. Butler, mongabay.com
Traduzido por Rafael Perecin Foltram
22 de Agosto, 2008
O investimento geraria lucro enquanto recupera florestas tropicais e protege a vida selvagem.
Uma firma de investimento lançou o primeiro “esquema” de créditos da biodiversidade tropical.
New Forests, uma companhia de Sydney, Austrália, estabeleceu o “Malua Wildlife Habitat Conservation Bank” (Banco de Conservação dos Habitats da Vida Selvagem de Malua) na Malásia como uma tentativa de capitalizar a conservação de florestas tropicais.
O “Malua BioBank” usará investimentos de uma private equity para recompor e proteger 34.000 hectares (80.000 acres) de florestas anteriormente cortadas que servirão como uma ponte entre as biologicamente ricas reservas florestais e um mar de plantações de dendezeiros.
O esforço para a conservação irá gerar os “Biodiversity Conservation Certificates” (Certificados de Conservação da Biodiversidade), que com o dinheiro de suas vendas irá ser feito um fundo perpétuo de conservação e retornar os investimentos para o Governo de Sabah (estado da Malásia) e para a private equity.
A New Forests acredita que os certificados – cada um representa 100 metros quadrados de restauração e proteção de florestas tropicais – serão comprados por companhias que estão querendo reafirmar sua condição “verde” no mercado. Os clientes esperados são os produtores de óleo do dendezeiro (biocombustível) e empresas florestais.
“Empresas do ramo energético, alimentício e cosmético que se baseiam em produtos agrícolas, particularmente no óleo do dendezeiro, estão cada vez mais percebendo seus impactos nas florestas tropicais,” disse a New Forests em declaração. “Comprando os certificados, os clientes podem garantir transparência e credibilidade na conservação de florestas de alto valor.”
“Nada assim jamais foi feito para a biodiversidade em florestas tropicais,” adicionou David Brand, Diretor da New Forests Pty Limited, companhia da New Forests Inc. “O Malua BioBank transforma a proteção de florestas tropicais em um produto vendável para que a conservação da biodiversidade possa competir com outros usos comerciais da terra.”
“Nós estamos vendo companhias se tornando cada vez mais interessados em contribuir para a conservação das florestas tropicais de uma maneira monetariamente sustentável,” disse Gerrity Lansing, presidente da Equator Environmental. “O Malua BioBank proporciona a elas um modo transparente e de ótimo custo benefício de fazer isso.”
New Forests espera que a venda de créditos de biodiversidade vá aumentar a conservação aonde os esforços governamentais e filantrópicos não conseguiram.
“Até hoje, fontes de recursos governamentais e filantrópicas para a conservação não conseguiram se manter no mesmo ritmo da perda da biodiversidade,” afirma a New Forests. “Atrelar valor, em dinheiro, para a conservação vai ajudar o setor privado a financiar essa atividade”
Restaurando a biodiversidade
Para gerar créditos restaurando a biodiversidade em Malua, New Forests diz que vai focar-se em iniciativas para ajudar as florestas tropicais a recuperar sua cobertura de antes dos lenhadores e introduzir medidas para reduzir os riscos de incêndios catastróficos.
“O processo de restauração vai incluir o plantio de mudas para restabelecer as espécies chave das florestas tropicais e melhorar a oferta de alimentos para a vida selvagem até que a área se regenere em uma saudável floresta tropical,” explicou o New Forests. “O monitoramento regular da regeneração da floresta, qualidade da água e vida selvagem são apenas uma parte de uma completa estratégia de conservação. O Malua BioBank vai também trabalhar com comunidades locais e donos de terra para reafirmar a proibição contra caçadas dentro da reserva e para prevenir atividades madeireiras ilegais.”
“O principal ponto do Malua BioBank é mudar o uso da terra para a restauração e proteção das florestas tropicais, catalisando uma nova economia da conservação no processo,” New Forests continua. “Uma vez que a base de uma atividade econômica está estabilizada em uma área para apoiar o uso sustentável de longo prazo, o dinheiro pode ser movido para outras áreas críticas para reiniciar o processo. Dessa maneira, o modelo do Malua BioBank pode atuar como um ponto de partida na preservação a longo prazo de áreas de alta biodiversidade em uma região ou país.”
Outros “serviços aos ecossistemas”
Essa “compra” da vida selvagem vem logo após New Forests revelar um investimento para “evitar desmatamentos” na área de florestas tropicais da ilha de Nova Guiné. A iniciativa de conservação geraria créditos de carbono que logo serão vendidos em mercados voluntários para firmas e indivíduos tentando compensar suas emissões de CO2.
Uma firma de investimentos de Al Gore baseada em Londres, a Generation Investment Management, comprou uma fatia minoritária de um investimento da New Forests.
Como o Malua BioBank funciona?
O Governo Estadual de Sabah licenciou os direitos de conservação por um período de 50 ao Malua BioBank e um investidor privado se comprometeu a doar até US$ 10 milhões para a reabilitação da Reserva Florestal de Malua pelos próximos 6 anos. O Malua BioBank venderá os Certificados de Conservação da Biodiversidade (Biodiversity Conservation Certificates), que representam 100 metros quadrados de restauração e proteção de florestas tropicais cada. A receita gerada pelas vendas dos Certificados de Conservação da Biodiversidade será usada para reaver os custos da atividade e para ajudar o Fundo Fiduciário (“Malua Trust”), feito para gerenciar o plano de conservação do Malua BioBank pelos restantes 44 anos que restam na licença. Qualquer lucro será dividido entre o portador da licença (Yayasan Sabah, uma fundação estabelecida pelo Governo de Sabah para melhorar a situação de vida dos cidadãos locais) e o investidor do Malua BioBank.
Progressos em direção aos objetivos de manejo e a priorização de ações guiadas pelo “Conservation Management Plan” serão revistos anualmente por um Comitê Fixo (composto por membros do Governo de Sabah e pelo Malua BioBank) e por um Grupo de Conselheiros (composto por ONGs locais e internacionais e cientistas). Além disso, o gerenciamento de Malua como parte do Ulu Segama-Malua, Reserva Florestal pretende ser “regularizado” com a certificação do FSC (Forest Stewardship Concil) com o foco em conseguir e manter essa certificação. O FSC é uma organização não governamental, independente e sem fins lucrativos firmada para promover um manejo responsável de florestas. A certificação do FSC cobre a parte ambiental, social e econômica.
O Governo de Sabah se comprometeu a parar o desmatamento na Reserva Florestal de Malua por pelo menos os próximos 50 anos. O acordo contratual compromissa o Governo de Malua de implementar o “Conservation Management Plan” sob o monitoramento do Malua Trust, que será fundado com uma porção do dinheiro das vendas dos “Biodiversity Conservation Certificate”. Qualquer quebra do acordo com o Malua BioBank causará perdas financeiras significantes, incluindo o reembolso de todos os fundos investidos no manejo assim como todas os Biodiversity Conservation Certificates vendidos.