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Os mercados podem salvar as florestas úmidas

Os mercados podem salvar as florestas úmidas

Os mercados podem salvar as florestas úmidas

Rhett A. Butler, mongabay.com
Traduzido por Marcela V.M. Mendes
29 de Agosto, 2008





Os mercados podem em breve valorizar as florestas úmidas como entidades vivas ao invés de valorizar apenas as materias primas produzidas quando elas são desflorestadas, disse um pesquisador de florestas tropicais falando em Junho em uma conferência de conservação biológica no país sul-americano Suriname.



Andrew Mitchell, fundador e diretor do Programa Copa Global baseado em Londres (GCP), disse que é encorajado por sinais de os investidores estão começando a olhar para o valor dos serviços providos pelas florestas saudáveis.



Crise de valores



Falando para uma audiência de mais de 500 cientistas no encontro anual da Associação para a Biologia Tropical e Conservação, Mitchell disse que o mundo atualmente enfrenta uma crise de valores, que traduz em ameaças para a segurança alimentar, segurança energética e segurança ambiental.



“Isso está combinando para criar um tipo de tempestade perfeita que temos agora,” ele disse. “Você a enxerga no aumento dos preços dos allimentos, no aumento dos preços de energia e uma grande porção de terra para produzir biocombustiveis. O caminho mais facil para fazer crescer essas colheitas é pegar terras para plantar nos trópicos… das florestas úmidas.”



“Enquanto isso o mundo subdesenvolvido vê a mudança climática como um grande trem se chocando contra seus países, mas algo que não é culpa deles,” continuou Mitchell.



Mas a esperança está no horizonte.



Andrew Mitchell em uma torre de observação no norte de Manaus, Brasil

Mitchell acredita que a valorização das florestas pelos serviços que elas fornecem poderia ter um papel crítico em identificar a mudança climática, a pobreza rural, e a crise de alimentos, bem como salvaguardar a biodiversidade.



“As florestas são derrubadas porque elas valem mais mortas do que vivas. Esse é um exemplo clássico de um fracasso de mercado,” Mitchell contou a mongabay.com em uma entrevista. “Mas os serviços do ecossistema poderiam mudar isso.”



De acordo com Mitchell, o conceito realmente ganhou um momento em 2005 após Michael Somare, o primeiro ministro de Papua Nova Guiné, contou aos páises desenvolvidos em um encontro internacional sobre mudança climática que se eles quisessem que as nações tropicais parem de desflorestar suas florestas, eles teriam de pagá-las. Desde então a idéia ganhou maior suporte de interesses desde ambientalistas até empresários e políticos. Até mesmo grupos de direitos indígenas vêem o conceito como uma potencial oferta para proteger as florestas e melhorar as condições de vida da população rural, levando em consideração seus direitos históricos sobre a terra.



Quatro caminhos para reduzir as emissões do desflorestamento



Sir Michael Somare, Primeiro Ministro de Papua Nova Guine, sedia um encontro sobre a Declaração das Florestas em Nova York

Mitchell disse que o mundo está atualmente olhando para quatro caminhos para lidar com as emissões do desflorestamento: Primeiro, plantação silvícola que tem sido diminuida para conseguir aprovações sob mecanismo cdm do Protocolo de kyoto protocol; segundo, redd ou redução das emissões do desflorestamento e degradação, um mecanismo proposto para compensar os países que reduzem suas taxas de desflorestamento; terceiro, conservar estoques de carbono que pagariam os países pelo carbono contido em suas florestas; e quarto, serviços do ecossistema, um esquema de ampla compensação baseado no valor de multitude de serviços providos pelas florestas saudáveis. Desses, Mitchell tem maior esperança nos pagamentos pelos serviços do ecossistema.



Mitchell disse que as plantações silvicolas sofrem com preocupações sobre o uso de espécies estrangeiras, falta de biodiversidade, e se as comunidades locais enxergam beneficios nas plantações em escala industrial desde que os custos tornam dificies para os pequenos projetos conseguirem aprovação.



O REDD, um conceito que ganhou aprovação tácita nas conversações climáticas no último Dezembro em Bali e tem sido louvado por muitos por sua capacidade de reduzir as emissões e proteger a biodiversidade, também tem limitações no que apenas países que podem qualificar são aqueles com altats taxas de desflorestamento. Países com baixa taxa de desflorestamento verão poucos fundos sob o sistema proposto já que os créditos de carbono são apenas para as reduções das emissões, não pelo carbono estocado.



Um esquema mais amplo, conhecido como créditos de carbono preventivos ou conservados, é visto como um caminho para incluir países que tem efetivamente preservado suas florestas, mas ainda enfrenta alguns defeitos. Enquanto o mecanismo poderia incorporar outros ecossistemas ricos em carbono, notavelmente por turfas, negociadores das Nações Unidas estavam preocupados que o completo volume de carbono estocado nos ecossistemas globais poderiam levar a um fornecimento em excesso de créditos, gerando um colapso nos preços do carbono e portanto minando o mercado e o incentivo para reduzir as emissões. Mas Mitchell disse que se o sistema de compensação da floresta fosse expandido para incluir outros serviços de ecossistema, pode oferecer melhores incentivos para conservar as florestas.



Mitchell comparou as florestas ás gigantes utilidades que oferecem serviços no local, regional, e escalas globais. Localmente as florestas oferecem proteção decisiva, solos estabilizados, e sistema contra enchentes. Nos niveis regionais e globais, as florestas geram chuvas, moderam clima, e suportam a biodiversidade.



Andrew Mitchell na delegação PNG na Malásia em 2005

Ele citou a floresta úmida na Amazônia Brasileira como exemplo. A floresta contém alguns 60-70 bilhões de toneladas de carbono, descargas de 55 por cento de água fresca do mundo e gera 20 bilhões de toneladas de chuva por dia, fornecendo água em torno de $1 trilhão industria agrícola no Rio La Plata na Argentina.



Mitchell acredita que os mercados financeiros eventualmente pagam por essa enorme utilidade. Ele disse que modelos emergentes — incluindo o FUNDECOR na Costa Rica e a Iniciativa Amazonas no Brasil — oferecem algumas pistas de quem pagará e em qual preço. No final, Mitchell argumentou que os mercados futuros serão mais que apenas carbono e pagamentos pelos serviços do ecossistema, poderia conduzir bilhões de dolares por ano para as nações detentoras da floresta.



“A filantropia e impostos dos governos não serão suficientes para financiar esforços de conservação no tipo de escala que será necessária para ter um impacto real,” Mitchell disse a mongabay.com. “Mas para um mercado de $10-15 bilhões é até gerenciável. É só o que bebemos em vinho e champagne todo ano na Inglaterra. Com uma fração da percentagem de três trilhões de dólares por ano em seguro de negócios nós poderiamos salvar florestas.”



De acordo com Mitchell a chave para manter os mercados de serviços dos ecossistemas uma realidade é a vontade política que irá criar uma estrutura regulatória que pode servir como base para investimento. A idéia já está ganhando momento político com a Forests New Declaration em Setembro de 2007, o Lake Victoria Commonwealth Climate Change Action Plan em Novembro de 2007, a decisão sobre REDD nas conversações das Nações Unidas sobre o clima em Bali em Dezembro de 2007, e um uma agitação nos recentes acordos assinados entre governos de provincias e de estado no Brasil, Indonesia, e outros países. Mitchell observou que o Príncipe Charles se tornou um grande advogado dos mercados de serviços do ecossistema e que Bharrat Jagdeo, presidente da Guiana, ofereceu tornar toda a floresta de seu país para tal esquema.



Os serviços e os compradores



Sobre o Suriname — a nação com a mais alta percentagem de cobertura florestal tropical do que qualquer outro país do mundo — Mitchell falou extensivamente os serviços de ecossistema fornecidos pela Amazônia.



Mitchell afirmou que os pesquisadores brasileiros lideram o mundo em compreensão da completa extensão das interações da biosfera-atmosfera das florestas tropicais. Dr Antonio Nobre do INPA revelou que a Amazônia é responsável por 16 por cento do fornecimento global de água fresca e gera 20 bilhões de toneladas de chuvas por dia. Ele disse que enquanto os cientistas ainda nao sabem o que aconteceria com as chuvas se a Amazonia fosse devastada, substituindo a capacidade hidrica do Brasil — que é responsável por 70-80 por cento de sua eletricidade — isso custaria $100 bilhões. Esse cenário implica um valor de $260 por hectare por água para as florestas remanescentes do Brasil. Mitchell acrescentou que o agrobusiness do Brasil — soja, carne e cana de açucar — todos dependem da chuva e que 40 por cento dos carros do Brasil podem ser conduzidos pelo etanol. ‘Em outras palavras, qualquer declínio das chuvas teria um tremendo impacto sobre a economia brasileira.



Copa da floresta Peruana. Foto por Rhett A. Butler

Em um escala mais ampla, Mitchell disse qua a Amazonia parece ter um papel na moderação do clima também, comparando-a com ar condicionado regional. A seca da Amazonia em 2005 coincidiu com o recorde de furacões do Caribe que causaram mais de $80 bilhões de perdas em seguros só nos EUA. A Amazonia sozinha ajuda a estabilizar o clima sequestrando bilhoes de toneladas de carbono em sua vegetação e solos — esse serviço também acrescentará valor. Ele especulou que o mercado pode eventualmente distinguir entre “carbono morto” — principalmente emissões de energia que podem ser capturada e armazenada (CCS) ao custo de $40 por tonelada de CO2 — e “carbono vivo” que é armazenado em florestas e ecossistemas em uma fração de custo de CCS e pode prover um estilo de vida sustentável para 1.4 bilhões de pessoas ao redor mundo.



“A questão central nesse debate todo é como colocamos um valor verdadeiro sobre a floresta viva para a comunidade mundial,” disse ele.



Mitchell disse que uma vez que o mercado estiver estabilizado, os compradores poderiam incluir utilidades, agribusiness, fundos de conversão, bancos e até governos.



Amazonensses e Iwokrama



Mitchell citou dois exemplos de projetos para mostrar como os pagamentos dos serviços dos ecossistemas estão trabalhando hoje.



A iniciativa Amazonia lançada pelo estado brasileiro do Amazonas ano passado inclui provisiões para proteger grandes porções de floresta enquanto simultaneamente melhora o padrão de vida das remotas áreas rurais. A iniciativa inclui o programa Bolsa Floresta que paga as familias que vivem perto da Reserva Uatuma cerca de $25 por mês para não desmatar terras de floresta primária em troca de não ‘fazer queimadas’. Os residentes também receberão tratamento de saúde, água limpa e grande acesso á educação.



Mitchell também esclareceu que o recente acordo assinado entre o governo da Guiana, e a Canopy Capital, uma firma de equidade privada recomendada e estabelecida pelo programa Global Canopy Program. O acordo, assinado em Março, assegura os direitos da Canopy Captal de medir e adquirir um valor para os serviços do ecossistema de uma reserva de um milhão de acres (371.000 hectares) da floresta na Guiana. Esse é o primeiro negócio desse tipo a ser firmado, e tem atraido investidores interessado de toda parte do mundo. Apesar das taxas de desflorestamento na Guiana estarem atualmente baixas, o acordo procura capitalizar o papel das florestas da Guiana sobre a manutenção das chuvas na América do Sul. A Canopy Capital planeja desenvolver instrumentos de investimentos como laços de serviços de ecossistemas que serão vendidos em mercados financeiros. Os procedimentos serão dividos com 80 por cento indo para reserva e para as comunidades de Iwokrama. Mitchell acredita que por causa desses serviços atualmente nao terem valor no mercado, o preço só pode ser apreciado.



As Cataratas de Keiteur Falls na Reserva de Iwokrama, na Guiana

Mitchell observou que o envolvimento das pessoas locais é a chave para o sucesso do projeto. Ele explicou que cientistas e especialistas em desenvolvimento irão trabalhar com povos locais para projetar negócios sustentáveis bem como programas de monitoração. Um projeto similar está sendo testado no país africano de Camarões. Os moradores das vilas são treinados para mapear informações de campo com unidades de GPS. Todas as informações é catalogada e colocada numa database que pode ser vista no Google Earth. As comunidades trocam as informações e poder ver coisas como quando madeireiros ilegais ou mineradores estão entrando dentro da floresta.



“As comunidades indígenas provavelmente tem o melhor rastreamento do que qualquer outro grupo ao cuidar de suas florestas e prevenir o desflorestamento,” ele disse a mongabay.com. “O problema que enfrentamos é que sob o mecanismo do REDD sendo desenvolvido pelas Nações Unidas, há um perigo de que esses grupos não serão compensados porque eles tem uma baixa taxa de desflorestamento e não estão portanto emitindo. ”



“Precisamos pensar sobre como essas comunidades que tem sido bem sucedidas em proteger suas florestas deveriam ser pagas. Eu entendo que um método para isso seja os serviços do ecossistema que eles estão fornecendo ao mundo.”



Mitchell concluiu observando que as emissões de carbono continuará tendo aumento de custos financeiros, ambientais e sociais, tornando as ações de conservação cada vez mais valiosas.



“É hora de parar de conversar em começar a agir,” disse ele. “O mundo está acordando para isso e conduzirá capital para a copa.”



Mongabay: O que precisamos para fazer decolar esse projeto dos pagamentos pelos serviços dos ecossistemas em uma escala global?



Mitchell: Para criar esses tipos de novos mercados existem basicamente quatro coisas a se fazer. Começa com a ciência. Os cientistas tem que nos contar o que são os serviços e o que as florestas tropicais fazem por nós. Os cientistas as vêem como um gigante sistema global que pode ser quebrado em quatro grande utilidades: a Amazonia, a Guiana, a Bacia do Congo, e a florsesta do Sudeste da Ásia (primariamente entre Borneo e Nova Guiné). Essas utilidades operam em escalas globais e locais em termos de serviços do ecossistema.



O próximo passo é trazer os economistas ambientais para trabalhar com os cientistas para colocar um valor nesses serviços. A Amazônia está produzindo 20 bilhões de toneladas de umidade por dia. O que isso vale? Como colocar preço nisso?



O que se deve fazer em seguida é colocar essas informação dentro da arena política e criar uma estrutura capaz de encorajar o pagamento pelos serviços do ecossistema.



E a quarta coisa que você precisa fazer é ir para o mercado e persuadir as pessoas a pagarem por esses serviços.



Todos os quatro estágios são o que estamos tentando influenciar no momento atual.



Mongabay: Como você vai conseguir que as pessoas paguem por esses serviços que, para eles, não tem valor porque são atualmente grátuitos?



Mitchell: Não tenho idéia. Meu palpite seria de que eles não desejariam pagar porque estão tendo de graça. E portanto há duas coisas que você pode fazer para encorajar a vontade de pagar.



Andrew Mitchell abaixo da torre de observação cientifica do Experimento Biosfera-Atmosfera em Larga-Escala na Amazonia (LBA).

No fim das contas é do interesse deles também que as chuvas continuem caindo, mas eles não reconhecem isso no momento. Mas se você disser a um cultivador em Mato Grosso que nos próximos 50 anos ou mais que as chuvas que estão caindo em sua terra diminuirá e ele não será produtivo e então pergunte a ele se ele pagaria para evitar isso, eu acho que voce teria um argumento irresistível. Você tem que quantificar. Se você reduzir as chuvas em 10% por década, isso terá um efeito mensurável na produtividade de suas terras. Isso precisa ser demonstrado. Eventualmente ele dirá, “Eu preciso manter a terra produtiva.” Ou ele irá irrigar &#8212 o que tem um custo — ou ele poderá dizer que “Eu começarei a pagar pela chuva.” Como é um bem comum, o problema é se o plantador A disser “Eu vou pagar” e o plantador B disser, “Eu não vou” e então o lavrador B estará recebendo a chuva gratuitamente. O ideal é desenvolver mercados para isso e ainda há os impostos. No futuro os governos podem escolher implementar um imposto para ajudar a proteger a Amazônia que é de interesse comum. Os produtores das materias primas que extraem terra da Amazônia podem ter de pagar um imposto pela chuva para proteger o resto, até futuros esquemas de certificação que poderiam ser requeridos por compradores de outros continentes. Com 9 bilhões de pessoas para alimentar no futuro nós temos de pensar diferente.



Mongabay: Você mencionou que em um encontro com Blairo Maggi, o maior produtor de soja da Amazônia e governador do estado de Mato Grosso, ele riu quando você mencionou o pagamento pelas chuvas. Como você responde a esse tipo de reações?



Mitchell: Aconteceu de eu estar em um encontro onde o Blairo Maggi estava e eu perguntei a ele uma questão em fórum aberto, “Quanto dinheiiro você estaria preparado a pagar ao Governador Braga do Amazonas para manter as chuvas?” e isso o fez rir. Mas ele não riu quando escutou sobre o trabalho científico feito por Yadvinder Mahli da Universidade de Oxford que demonstrou que seu estado era o que está mais em risco de redução de chuvas causadas por mudança climática prevista a longo termo. Isso o fez pensar novamente e ele disse, “Bem, dê-me o papel.” Isso faz as pessoas perceberem que a probabilidade de fazer esse tipo de sistema funcionar é improvável sem regulamentos.



Agora como você aplicaria uma estrutura regulatória para proteger a Amazônia na base de sua produção de chuvas? Um cenário poderia ser aquele em que os governos diriam, “Um condutor primário do desflorestamento é o agrobusiness na Amazonia.” Então um imposto poderia arrecadado sobre o agrobusiness que então seria usado para proteger a Amazônia. Se voce quer desmatá-la para o plantio, então voce tem que pagar para manter o resto. É um custo benefício.



Mongabay: Você poderia determinar algo como cada agrobusiness deve ter um seguro que seria então usado para financiar a proteção da floresta?



Mitchell: Bem esse é um mecanismo do mercado. Um mecanismo regulatório é um imposto fixado pelo governo. Há um precedente para isso no Brasil porque a industria de comunicação tem um imposto arrecadado por ele para colocar a comunicação na Amazonia. O principal é que enquanto todos nós temos boa comunicação no sudeste do Brasil, a Amazonia é bem dispersada e precisa de boa comunicação, então eles arrecadaram um imposto, criaram um fundo que será usado para melhorar a Internet por exemplo, pela Amazonia.



Secretário do Estado do Amazonas Secretary para Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Virgilio Viana assina a Forests Now Declaration, enquanto o Diretor da GCP Andrew Mitchell observa

Isso é o que o governo pode fazer, e por que não fazer o mesmo pela agricultura? É claramente de interesse da nacionalidade do Brasil manter sua grande capacidade de produção. O Brasil tem uma tremenda oportunidade de alimentar o mundo. O desafio é como fazer isso sem acabar com a floresta. E o Brasil pode fazê-lo. Tem muita terra disponivel, provavelmente 40 milhões de hectares de terras inativas que tem sido desflorestadas e não estão sendo usadas. O problema é que é mais barato desmatar mais floresta para conseguir mais terras do que restaurar essas terras — isso é algo que precisa ser mudado. Você precisa criar incentivos positivos para a restauração da terra reduzindo impostos, criando incentivos positivos para restaurar córregos, melhorando a terra e por ai vai. E você precisa criar penalidades para quem desmatar a floresta. No momento é simples: é bem mais barato desmatar e cortar as árvores e vender a madeira para colocar ali suas colheitas.



Deixe-me tocar na questão do mecanismo baseado no mercado. Em um mecanismo baseado no mercado você poderia criar um produto de segurança para os agricultores se assegurarem contra a perda da produtividade agrícola. Isso também poderia ser possivelmente ser aplicado em uma escala — regional ou internacional — bem mais ampla porque os serviços da floresta como a Amazonia ou a Bacia do Congo se dispersam enormes áreas e portanto afetam um grande número de pessoas. Por exemplo olhe para a Bacia do Prata na Argentina. 70 por cento do GDP, ou um trilhão de dólares, é baseado no agrobusiness. Isso depende das chuvas conduzidas pelos rios da Amazonia para a Argentina.



Então isso levanta outras questões. A Argentina vai culpar o Brasil por desligar suas chuvas? O Brasil culpa os Estados Unidos por causar a mudança climática e secar a Amazonia? Essas são fascinantes questões legais para o futuro mas temos que agir no agora. E pode haver insegurança baseado na idéia de que proteger a Amazonia é uma bom seguro contra eventos climáticos extremos e outros custos que sofreremos se a floresta for destruida.



Mongabay: E as estratégias para avaliar as florestas como entidades vivas via mercado dos serviços do ecossistema?



Mitchell: Sim, uma outra aproximação é aumentar o valor da floresta úmida e dos serviços do ecossistema. Na GCP, em colaboração com nossos colegas na Asia e Brasil, estamos plantando a idéia de que grandes áreas de floresta tropical deveriam ser vistas como ‘utilidade’ pública, provendo serviços que todos nós usamos mas ainda não pagamos por eles. Todos entendemos que se voce nao paga sua conta de energia, eles desligam a energia. Será o mesmo com essas florestas. Do ponto de vista de investimento, se voce mostrar que isso é uma utilidade que hoje um valor de zero nos mercados, mas no futuro poderia ter um valor maior por duas razões: (1) o recurso está declinando, cada vez ha menos e menos recursos, como uma boa vinícola — quanto mais você bebe de maior valor se torna o vinho remanescente; e (2) os serviços do ecossistema das florestas produzem podem cada vez mais ser reconhecidos. Se você for ás Nações Unidas, o UNFCCC, nos corredores há muita falação sobre os serviços do ecossistema que as florestas fornecem. Há três anos atrás ninguém estava falando dessa forma, mas agora há muita conversa sobre implementar um mecanismo regulatório que poderia ajudar a pôr um valor sobre os serviços do ecossistema.



Separadamente disso, o setor privado está começando a agir agora porque eles percebem que pode haver uma oportunidade onde voce pode comprar algo barato hoje que poderá ter um valor aumentado amanhã. Um exemplo disso é o acordo Canopy Capital em Iwokrama, na Guiana. Eles compraram os direitos sobre os serviços do ecossistema de 371.000 hectares. Aqueles serviços tem hoje um valor de zero. Na verdade não. Eles tem agora um valor porque colocamos um preço neles. A Canopy Capital pagou por aqueles serviços.


Investir para salvar as florestas:
Uma entrevista com Hylton Murray-Philipson da Canopy Capital

Semana passada a Canopy Capital, sediada em Londres, uma firma de equidade privada, anunciou um acordi histórico para preservar a floresta úmida de Iwokrama, uma reserva de 371.000-hectares no país sul-americano, Guiana. Em troca de financiar um parte “significante” da pesquisa e programa de conservação de Iwokrama estimado em $1.2 million, a Canopy Capital assegurou o direito de desenvolver valor pelos serviços ambientais providos pela reserva. Hylton Murray-Philipson, diretor da Canopy Capital, diz que o acordo — que retorna 80 por cento dos procedimentos para o povo da Guiana — poderia estabelecer o estágio para uma era onde a conservação da floresta é dirigida pela busca pelo lucro ao invés de preocupações altruistas.

Os investidores foram para a Canopy Capital porque eles querem ajudar a mudar a maneira que avaliamos o meio ambiente. Eu e Hylton Murray Philipson, um especalista em fiananças de coorporação ambiental com quem eu tive o prazer de trabalhar por um bocado de anos, e os investidores que se juntaram a nós para fazer acontecer o acordo Canopy Capital em Iwokrama, todos acreditamos também que a solução a longo prazo aqui está não com a filantropia mas com o investimento. Então está criando um sistema que fará dinheiro, não apenas uma doação. A razão para isso é que não há doadores suficientes para concertar esse problema. A idéia é se você pode criar laços com a floresta ou certificados de comércio dos serviços do ecossistema, esse tipo de coisas irão adquirir valor com o tempo. Mas poderia levar décadas. E a coisa mais importante de todas aqui é que no final se melhore a qualidade de vida das comunidades que dependem dessas florestas. No acordo Canopy Capital, o jeito que é estruturado é que uma vez que os investimentos forem recuperados, 80% dos lucros irão para Iwokrama e será distribuido entre a comunidade. Iwokrama já tem um excelente sistema para fazer isso.



Há pessoas falando, “Por que este investimento aconteceu, o primeiro no mundo, em Iwokrama?” A resposta é que é como uma floresta em escala AAA. O governo é transparente. Eles tem excelentes comunicações com as comunidades. O título da terra é conhecido e até agora não está em grande disputa. Há uma forte liderança política do presidente do país. Esses são os critérios que trarão capital para a canopy. E esse investimento será desembolsado entre as comunidades e manter Iwokrama.



O acordo é também único porque é um modelo para a comunidade mundial. Em outra palavras, o que acontece em Iwokrama será visto por muitos outros países, que é o que esperamos que se torne um sucesso. E crucialmente é a pedra da criação de um modelo integrado á Guiana inteira. Então frequentemente o que voce precisa é uma abordagem em escala nacional para prevenir vazamento — se voce conseguir impedir o desflorestamento em uma área voce não vai querer que ele surja em outro lugar. Esperamos trabalhar, e estamos trabalhando, junto ao governo da Guiana para ajudar a criar uma solução nacional — um novo modelo de desenvolvimento — para atender as necessidades do povo e proteger todas as florestas.



É realmente importante entender o lado da comunidade. Alguns dizem, “Ok, então você vai pagar as pessoas pelos serviços do ecossistema agora. É apenas pagar as pessoas para fazer nada. Então voce vai pagá-los para não cortar suas próprias florestas. O que eles vão fazer? Dormir em redes e beber cerveja?” A resposta é porque as comunidades sabem como cuidar dessas florestas. As comunidades indígenas provavelmente tem o melhor recorde do que qualquer outro grupo em cuidar de suas florestas e prevenir o desflorestamento.



O problema que enfrentamos é que sob o mecanismo do REDD sendo desenvolvido pelas Nações Unidas, há um perigo de que esses grupos não vejam compensação porque eles tem uma baixa taxa de desflorestamento e portanto não estão emitindo. O REDD é sobre reduzir as emissões. Se voce não está produzindo qualquer emissão você não é pago. Temos que pensar sobre como essas comunidades que bem sucederam em proteger suas florestas deveriam ser pagas. Eu vejo que um método para isso são os serviços do ecossistema que eles estão provendo o mundo. Isso inclui o armazenamento de carbono e a produção de chuvas e umidade, a proteção da biodiversidade, a moderação do tempo. Todos esses tipos de coisas são serviços extraordinariamente valiosos que apenas não reconhecemos ou pagamos. Mas isso nos dá uma base para o pagamento.



E em troca pelo pagamento duas coisas podem acontecer. A primeira é porque as comunidades são as partes interessadas no que é efetivamente um negócio, eles deveriam beneficiar conforme os negócios crescem. O segundo é que o sistema deveria oferecer empregos para as comunidades serem monitores da floresta.



Nobel Peace Laureate e Embaixador da Boa vontade para as Florestas da Bacia do Congo, e Ministro do Meio Ambientee, Conservação da Natureza, Water and Forests para a República Democrática do Congo, Pembe Didace Bokiaga, se junta a Andrew Mitchell para assinar a Declaration.

Uma coisa que estamos planejando em Iwokrama e outras áreas é trabalhar com a comunidade e discutir com elas como podemos estabelecer uma comunidade baseada num programa de Monitoração do Serviços Sociais e do Ecossistema. Isso seria baseado no uso de computadores onde poderiam coletar informações sobre a floresta. Não apenas o exercício de mapeamento os ajuda a saber exatamente onde suas terras estão mas ajuda a melhorar seus titulos da terra. Ajuda também a saber quando madeireiros ilegais ou mineradores estão se aproximando, ou se estão ocorrendo queimadas. Essa informação pode ser carregada em uma database do Google o qual todas as comunidades podem ver. Se houver um problema, seremos capazes de ligar na monitoração de satélite StarVision e olhar a situação de uma distancia de um metro. Então se houver uma mina de ouro sendo explorada lá, nos sabemos. Você pode olhar no dia seguinte através do satélite. E se houver um real problema, então chama-se as autoridades e lidamos com eles. As comunidades terão um papel crucial nesse processo e se beneficiarão.



Mongabay: No exemplo de example, 80% irá para as comunidades, 4-6% para a canopy research, e então o restante vai para os investidores. É retorno suficiente para os investidores satisfazerem seus desejos de retorno?



Mitchell: A resposta é que eu ainda não sei. Não é bem estruturado assim. Basicamente, estágio um é efetivamente para assegurar que recursos e ter um compromisso com Iwokrama que nos permite construir o veículo de investimento a longo prazo. Mas um tipo de veículo de investimento seria um laço de longo prazo com a floresta que atrairia dinheiro dos bancos, companhias de seguro e outros negócios. Esse capital paciente seria empregado e investido no mercado. O interesse que ele criaria seria então usado para beneficiar o sistema Iwokrama e a comunidade. Alguns desses interesses podem ser retornados para os investidores. Depende de quanto eles querem isso. Se eles forem investidores pacientes eles dirão, “Não precisamos muito. Estamos felizes por nosso capital ser empregado e nos trará um pequeno retorno.” Então o equilibrio desse interesse irá para apoiar as atividades que mantém os sistemas dos ecossistemas en Iwokrama. Estamos procurando por um microfinanciamento que poderia ajudar a estimular idustrias baseadas em mais biodiversidade e negócios que as comunidades estão começando com pequenas quantidades de dinheiro. Poderia ser piscicultura, cultivo de borboleta, ecotourismo de observação de pássaros, ou outros tipos de coias que eles queiram fazer usando suas práticas tradicionais. Pequenas quantias de dinheiro poderiam fazer uma grande diferença e alguns desses negócios poderiam crescer. Tudo isso é uma parte considerável dos laços com a floresta.



Mongabay: Então Iwokrama é um tipo de caso especial. Quais são alguns dos desafios para extender esse modelo para outros lugares? Eu estou pensando em títulos de terras.



Primatologista eminente e a Mensageira da Paz das Nações Unidas, Dr. Jane Goodall assina a Declaração no encontro Clinton Global Initiative em Nova York

Mitchell: Deixe-me dizer que no momento eu me sinto muito otimista porque temos uma fantástica oportunidade nos próximos dois a quatro anos para criar um acordo global para as florestas. E nunca tivemos uma oportunidade como essa no passado excetp talvez quando o Protocolo de Kyoto foi originalmente organizado. Aquela oportunidade foi desperdiçada e por uma variedade de razões as florestas de crescimento antigo foram deixadas fora do Protocolo de Kyoto. Parte da razão para isso é que as pessoas não queriam que as nações industrializadas se safasses apenas compensando através das florestas. Queriamos máxima atenção na redução das emissões industriais, porque os países ricos causaram a mudnça climática, os mais pobres não. Mas como resultado dessa decisão, não houve incentivos para manter a floresta através de um mecanismo de mercado e o resultado tem sido o rampante desflorestamento. A razão pela qual as florestas são destruidas é bem simples; elas não tem valor nos mercados globais. Os Conservacionistas criaram um papel de parede ao redor desses parques que entram em colapsos internos quando comfrontados com a carne, a soja, e palmeira de óleo. Os custos de oportunidade para evitar o desflorestamento são massivos indo desde tão pouco quanto um ou dois dólares em um país pobre como o Sri Lanka onde não há muitas alternativas quanto $3,000 para a palmeira de óleo na Asia. Aqueles preços estão aumentando hoje conforme a demanda por alimentos aumenta e os biocombustiveis colocam demanda extra em cima. O mecanismo REDD fornece uma oportunidade significante para países que estão desflorestando reduzirem suas taxas de emissões.



O REDD existe para a redução das emissões do desflorestamento e da degradação. Não é E para ecossistemas, é E para Emissões. Então o REDD não é primariamente designado para salvar os ecossistemas das florestas e sim para cortar as emissões. Isso significa que os países com baixa taxa de desflorestamento não são alvos primários, porque eles não estão emitindo. E isso está criando uma divisão nas negociações. O desafio é que apenas temos três grandes encontros restantes no processo das Nações Unidas para concordarmos com os mecanismos do REDD. Isso terá que ser feito até Dezembro de 2009 em Copenhagen.



Então eu me sinto cautelosamente otimista porque há muita pressão agora sobre as florestas e está nas mãos da comunidade de ONGs e da comunidade científica para se levantarem e serem levados em conta e colocar pressão nos delegados para encontrarem uma solução. O grande problema é quando o melhor entra no caminho do bom. Todo mundo deseja algo que é tecnicamente tão perfeito mas se torna financeiramente inviável porque os custos de transação são muito altos.



Isso foi o que aconteceu com o mecanismo CDM e plantações. A idéia era plantar novas árvores para tirar o carbono da atmosfera e seria aprovado sob o mecanismo CDM. Bem, advinhe quantas foram aprovadas: uma. Quantas foram aprovadas sob energia: mais de 900. Como você explica isso? O padrão para florestas é maior e mais complicado.



Isto está criando um péssimo incentivo para os países pobres porque eles estão perdendo. Então foi acordado nas conversações das Nações Unidas em Bali, que os países com altas taxas de desflorestamento deveriam entrar no mercado.



Andrew Mitchell na copa na Malásia 2005

Eu acho que os serviços do ecossistema pode oferecer aos países com baixas taxas de desforestamento uma real oportunidade de serem pagos por cuidar de suas florestas. Eu acho que o mecanismo REDD resulta, inicialmente, em um mecanismo de crédito para a redução das emissões do desflorestamento. Então o Brasil e a Indonesia, e países como esses, que tem altas taxas de desflorestamento e os reduzem e isso se torna mensurável. E sim, a metodologia é desanimadora. Não quero entrar em todos os detalhes da metodologia. Mas não devemos perder a visão da madeira das florestas na questão da metodologia e perder a direção da viagem. Honestamente, temos que conseguir um acordo para as florestas que reduz suas emissoes mas ao mesmo tempo precisamos de um acordo para as florestas vivas; países com grande cobertura florestal e baixas taxas de desflorestamento. Países como a Guiana, Suriname; países como Gabon e até a República Democrática do Congo (DRC) têm taxas bem baixas de desflorestamento no momento. Eles não vão conseguir muito dinheiro com o REDD a não ser que se acomodem esses países de florestas vivas. Então uma tática é submeter as florestas vivas sob o REDD tanto quanto as emissões. Então novamente tem a China e a Índia que tem cortado suas florestas e plantado mais. E eles ainda dizem que querem essas florestas inclusas também. Então temos três classes de florestas sendo discutidas sob o mecanismo REDD no momento que foi originalmente projetado para cortar as emissões: florestas que estão emitindo; florestas vivas que não estão mas estão estocando muito carbono; e novas florestas, que sequestram carbono. Mas o mandato da convenção UNFCCC — é reduzir emissões. Eu não sei como tudo isso vai funcionar.



Então estamos nos preparando para duas coisas. Uma é incluir emissões e possivelmente submeter florestas vivas sob o mecanismo REDD. Se isso não funcionar, então o que precisamos é uma maneira separada e paralela de pagar por essas florestas. Daqui há dez anos pode haver um mecanismo regulatório completamente separado para isso. E sabe o que mais? Poderia não ser baseado em carbono, porque há muito mais nas florestas do que carbono. É o carbono vivo. Os acordos da UNFCC em carbono morto. O que sai do escapamento do seu carro ou da sua fábrica é carbono morto. Projetos de captura de carbono que são projetados para tirar o CO2 da atmosfera a partir de uma grande e poderosa planta, o liquefaz e o estoca sob quarenta dólares por tonelada. Isso é carbono morto; que não fornece nenhum beneficio. Voce estoca uma tonelada de carbono em uma floresta úmida e consegue co-beneficios massivos e ainda ajuda a aliviar a miséria entre os pobres. O mercado pode diferenciar entre o carbono vivo e o carbono morto no futuro. Mas acho que também poderia se tornar um mercado para os serviços do ecossistema porque as florestas vivas fornecem muito ao mundo. Então no futuro eu vejo mercados se desenvolvendo naquela área e isso é o que estamos tentando com o acordo Canopy Capital em Iwokrama.



Mongabay: Como isso funcionará em lugares onde as condições não são tão ideais como em Iwokrama, como Camarões ou Indonesia. Você está olhando para um “índex de florestas” como uma solução?



Mitchell: Bem, quais são as condições que conduzirão o capital para a canopy paras as florestas vivas? Os mercados basicamente se move com medo e avidez. O fator medo é crescente. Ao fazer nada, meus custos podem aumentar. Poderiamos ter mais furacoes em erupção na Flórida se não tentarmos consertar esse problema. É um grande incentivo para a industria de seguros para levar em consideração a mudança ambientale. Essa é a motivação do medo. Para a avidez, talvez eu faça um pé de meia, se eu investir nessas coisas. Essas duas coisas estão crescendo. Voce precisa de mecanismos regulatorios para conduzir o dinheiro. O REDD é um exemplo disso. Um dia podemos tem um mecanismo regulatório para os serviços dos ecossistemas que conduziria o capital. O GCP estará divulgando um trabalho em breve entitulado ‘Pense PINC’, que defende o Investimento Proativo em Capital Natural, para catalisar algumas ideias sobre isso



Charlotte Streck do Climate Focus – conferencista dos 2 dias de Mesa Redonda Internacional do REDD em Bruxelas – e Jeff Horowitz da Avoided Deforestation Partners se juntam ao Diretor da GCP Andrew Mitchell para assinar a Forests Now Declaration.

Outra grande barreira que precisa ser superada é: “Quem é dono dos recursos? Quem é dono das florestas?” Neste momento a maioria das florestas são publicamente pertencentes ao governo. Apesar disso poder ser desafiado pelas comunidades, é a situação atual. Então os governos que têm boa administração irão atrair negócios mas os direitos sobre a terra é um grande problema e algo que realmente necessita ser resolvido. É do próprio interesse da comunidade fazer isso. Deve haver algum mecanismo para descobrir quem é dono do que, porque a maioria não tem nada escrito. Portanto, os programas de mapeamento das comunidades e coisas parecidas são uma boa maneira de se fazer isso. O conceito de propriedade compartilhada é outra maneira de uni-los nesse processo. A comunidade pode compartilhar em um negócio que cresça e em que haja beneficios comuns.



Outra coisa é que adminstradores de fundos precisam saber onde colocar seu dinheiro e na GCP nós estamos procurando criar um índex da floresta como caminho para endereçar essas necessidadesto. Esse index da floresta funcionaria de forma parecida com o FTSE4Good, que temos em Londres, que é uma maneira para os administradores darem oportunidade para os negocios que estão fazendo a coisa certa ao inves da coisa errada. O que estamos procurando é similar ao critério de investimento ético aplicado ás florestas.



Poderiamos ir em dois caminhos. Um seria olhar para os países — eles vão de AAA á sub-prime. Esse índex teria uma série de critérios. Para a escala AAA, o país teria de ter boa governância, claros títulos de terra, e baixo desflorestamento. Os que tiverem governancia pobre, conflitos sociais e forem locais dificeis para se realizar negócios cairão para a catergoria sub-prime. Agora as pessoas dirão, “Bem, isso significa que todo o dinheiro irá para o país AAA.” Bem na verdade não é assim que o mercado funciona porque AAA será caro onde su-prime será barato. Muito dinheiro irá para o local barato do mercado e ajudar aqueles países. Pode ser mais arriscado mas eles podem subir no index conforme as coisas melhorarem. O que ele fará é indicar para os governantes o que eles precisam fazer para atrair investimentos. É assim que o mecanismo baseado no mercado pode funcionar. O mercado tem muito, muito mais dinheiro que o governo. As pessoas dizem, “O mercado não é perfeito. haverá sempre as pessoas boas e as más.” Bem, os sitemas de governo não são tão melhores tamém. Nada disso é perfeito. A diferença é que o mercado pode se mexer mais rapidamente e trazer quantidades de dinheito para o sistema. Mas precisa funcionar sob controle para encurralar as más pessoas e encorajar as boas.



Por exemplo, Nick Stern sugeriu que precisamos de algo entre dez a quinze bilhões por ano para cortar o desflorestamento pela metade. Não há filantropia suficiente capaz de trazer essa quantia de dinheiro exceto talvez nos fundos soberanos do Oriente Médio, China e outras áreas. Mas para um mercado, é quase o que bebemos em vinho e champagne a cada ano na Inglaterra. Com uma fração da porcentagem de três trilhões de dólares por ano dos negócios de seguro poderiamos salvar as florestas. Uma fração de um porcento. E poderia ser uma das melhores apólices de seguros que poderiamos prover, mas voce teria que convencer as companhias de seguros a fazer isso. Então para os mercados, é exequível. Temos apenas que criar a estrutura correta e colocar as ferramentas em lugares que o mercado possa reconhecer.



A outra coisa que temos que fazer é lidar com os condutores do desflorestamento. Esta é outra coisa realmente importante a fazer porque não importa quanto voce faça essas florestas terem valor se as familias que estão vivendo lá serão pagas cinco dólares para derrubar uma árvore — a menos que voce possa pagá-los seis, eles continuarão derrubando. É um uso racional do meio ambiente para eles. Claro, muito desse valor não é apenas economico; há valores culturais, espirituais e sociais para as florestas. Mas essa é a realidade do mundo economico. Concorrer com os condutores do desflorestamento seria muito dificil e eu penso que o REDD é projetado para funcionar na linha de frente onde será mais caro e precisará mais regulação. E acho que o REDD irá alcançar isso.



Mas fora das linhas de frente, há essas áreas gigantes da floresta que precisam de suporte também. E possivelmente para algom em torno de $10-20 dolares por hectare, voce pode provavelmente proteger aquelas florestas. E para a Guiana isso fica em torno de cerca de 2.5 bilhões por ano para proteger aquelas florestas da Guiana, Suriname, e Guiana Francesa. É um preço barato para pagar pelo que esta obtendo e o mercado pode fornecer isso.



O REDD não vai necessariamente lidar com o desflorestamento porque o que causa o desflorestamento é a demanda do consumidor, e a necessidade de energia. O que está causando o desflorestamento hoje tem mudado. Se industrializou. Demandas massivas de negócios. Nós, os países ricos, estmaos comendo as florestas porque demandamos palmeira de óleo, carne, soja, e madeira. Isso está levando as florestas a serem destruidas. Então para lidar com aqueles condutores voce precisa, novamente, usar aquele metódo. E precisamos limpar a cadeia de fornecimento com mecanismos de certificação.



Por exemplo, não há nada errado com as palmeiras de óleo. Ela é na verdade uma planta milagrosa — uma pequena familia pode cultivar poucas árvores de palmeiras de óleo e fazer dinheiro a cada ano e tem tirado a Malásia da pobreza, mas a um alto custo. Não é errado cultivar palmeira de óleo, apenas não cultivem na floresta úmida. Há muitas outras terras para cultivar isso, mas ainda é mais barato cortar as florestas. Isso é que tem que mudar. Temos que criar incentivos para terras degradas e mover a produção de alimentos para essas terras e utilizar o investimento. Temos que parar a produção dessas colheitas e biocombustiveis nas florestas úmidas. Agora no momento os biocombustiveis não crescem geralmente em florestas úmidas e as palmeiras de óleo não são usadas como um biocombustivel. A indústria de biocombustível do Brasil não está destruindo a floresta. Mas isso poderia mudar no futuro. O governo deveria encorajar metodos de certificação que distinguam entre colheitas cultivadas nas terras florestais e colheitas cultivadas em áreas degradadas e terras agrícolas abandonadas. Se a palmeira de óleo é for cultivada de uma plantação na floresta úmida, precisamos identificar isso e banir essa plantação do mercado. Está acontecendo. A Unilever, a maior companhia consumidora de bens do mundo, acabou de anunciar, após a presão do Greenpeace, que irá limpar sua cadeia de fornecedores para a palmeira de óleo até 2015.



O mercado irá reagir se houver uma demanda para que eles o façam. Então temos que dar ao mercado um empurrãozinho. O consumidor deve dizer, “Eu não compro mais palmeira de óleo de má procedência. Apenas comprarei boas palmeiras de óleo.” As pressões de ONGs como o Greenpeace podem ajudar.



Não há palmeira de óleo sustentável no mundo exceto na Colombia. Que louco isso né? Mas isso vai mudar. Agora temos os padrões da Mesa Redonda sobre Palmeira de Óleo Sustentável (RSPO).



Os governos podem ajudar colocando regulamentos como o FLEGT, uma regulaçãod da União Européia que será implementada a partir de 2009 onde madeira ilegal será excluida do mercados abertos. Voce tem que provar a cadeia de custódia sobre a madeira nas fronteiras da União Européia. Se voce não puder provar, a madeira não será permitida dentro do mercado. Agora, esses são acordos voluntários de fornecimento entre a UE e países fornecedores.



O problema com o FLEGT é que se voce está na Indonesia e enviou sua madeira para a China onde ela é transformada em móveis, então voce pode estar dentro do sistema. Então um segundo pedaço de legislação — comumente chamado de Lacey Act — está sendo considerado. Esta é a legislação que está sendo pionneira nos Estados Unidos que põe o onus sobre o importador, e não no fornecedor. Então se voce é um importador de madeira nos EUA, voce tem de provar que ela não foi trazida ilegalmente sob as leis do país fornecedor onde ela foi cortada. Agora como saber isso? Isso é difícil. Isso é um problema deles e se eles infringirem podem ir para a cadeia. Isso está assustando muita gente. A mesma lei foi introduzida no parlamento Inglês uns meses atrás. Os governos parecem estar se mexendo para acabar com bens de fontes não sustentáveis da cadeia de fornecimento. Isso deveria também acontecer com proodutos agrícolas com o tempo. Mas isso leva muito tempo e claro eles podem ir vender seus bens em outro lugar qualquer porque em locais como India e China a demanda é crescente e lá há menor preocupação com a sustentabilidade ou eles não têm as leis ainda. Então precisamos encorajar aqueles países a levar isso em consideração. Mas não vai acontecer rapido.



Mongabay: E também é mais fácil colocar esssa bandeia nas madeira do que na soja e na palmeira de óleo.



Mitchell: É. Há madeira boa sendo rastreada por ai. Com o código de barras voce pode rastrear a madeira desde a retirada até a loja.



Mas com a soja ou a palmeira de óleo é extremamente difícil. Então com os produtos agrícolas, uma coisa que está sendo considerada é a certificação do cultivo que está sendo produzido. Quando voce certifica o cultivo, o plantador concorda o que for plantado tem de ser feito de acordo com esses padrões — que não muda desde que o agricultor mantenha esses padrões. As pessoas estão vendo tudo isso como nano marcadore, pequeninos marcadores que pode colocar nos gêneros alimentícios para segui-los através do sistema. Claro que isso precisa de mais pesquisa mas tome como exemplo a farinha orgânica. A farinha organica é muito difusa, mas voce pode rastrea-la de onde ela é produzida na Ucrãnia ou Canadá de forma extremamente precisa. Eu conheçoa gricultores que na verdade voam do Canadá para Liverpool para ver sua farinha sendo descarregadas nas docas, para saber que suas farinhas organicas foram entregues de acordo com os corretos padrões. Os importadores não podem dizer, ‘Sua farinha está contaminada, então estou abaixando o preço’. O agricultor pode dizer: ‘Não, eu a rastreei, Eu a produzi, não me diga que voce pode abaixar o preço’. Assim que o mercado funciona. Então se voce puder rastrear farinha organica, que é muito difusa, eu acho que voce rastrear soja também. O preço é um incentivo de mercado poderoso.



Mongabay: Alguns dos procedimentos desses mecanismos de mercado vão voltar para os esforços de pesquisa do Programa Global Canopy para entender as interações entre o clima e as florestas?


Salvando as espécies de gatos selvagens mais recentemente descobertas do mundo em Borneo

Ano passado duas equipes de cientistas anunciaram a descoberta de uma nova espécie de leopardo das nuvens em Borneo. A novidade veio assim que os conservacionistas lançaram uma grande iniciativa para conservar uma grande área da floresta em uma ilha onde a extração de madeira e a plantação de palmeira de óleo consumiu vastas expansões de floresta tropical altamente biodiversa nos últimos trinta anos. Agora dois pesquisadores estão correndo contra o tempo para melhor entender o comportamento desses raros gatos para ver quão bem eles se adaptam a essas mudanças dentro e em volta de Danum Valley em Sabah na Malásia. Andrew Hearn e Joanna Ross dirigem o Projeto Bornean Wild Cat e Clouded Leopard Project, um esforço que tenta entender e proteger os gatos selvagens ameaçados de Bornéo, que inclui o gato de cabeça chata (Prionailurus planiceps), gato marmoreado (Pardofelis marmorata) gato leopardo (Prionailurus bengalensis) o gato endêmico da baía (Catopuma badia) e o leopardo das nuvens (Neofelis nebulosa).

Mitchell: O programa Global Canopy é uma organização baseada na ciência. Parte de nosso papel é olhar para o que a ciencia diz sobre os caminhos pelos quais as florestas interagem com a atmosfera. Tudo começa com a ciência. Então, como nossa idéia das florestas operando como ‘utilidade’ pública está dando certo, precisamos saber o que essa ‘utilidade’ está fazendo. Nesse caso eu veria mais dinheiro indo para pesquisas que estudam questões qual é o valor economico do ciclo hidrológico da Amazonia e da Guiana: Quanto de chuva é produzida, qual é o papel das florestas, quem são os beneficiários, e qual é a disposição deles para pagar pelos serviços? Esta é uma combinação de pesquisa biológica e economica.



Mongabay: É como pesquisa e desenvolvimento (R&D) para uma companhia.



Mitchell: Sim, como R&D para uma companhia. Estamos já dirigindo um projeto piloto na Amazonia sobre isso e estamos colocando em um pedido para o governo Inglês financiar essa pesquisa. Estamos também trabalhando em um grande projeto com o Ministro Brasileiro de Ciencia e o Ministro do Meio Ambiente para estabelecer observatórios da floresta na Amazônia e na floresta Atlantica do Brasil para ver como a biodiversidade do chão florestal até a copa cria esses serviços de ecossistema. No momento estamos planejando seguir os estudos brasileiros da produção de componentes organicos voláteis que a floresta produz para ajudar a gerar chuvas.



tentamos por 30 anos colocar preço na biodiversidade, e ninguém nos dará muito dinheiro pela biodiversidade. Mas na verdade o valor não é muito na biodiversidade, mas nos serviços que ela produz. São os serviços que tem valor. Precisamos entender quanto a biodiversidade está criando esse serviço, e isso poderia gerar, eu acredito completo novo valor para a biodiversidade e as florestas no futuro.








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