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Doenças ameaçam a sobrevivência dos recifes de corais brasileiros

Doenças ameaçam a sobrevivência dos recifes de corais brasileiros

Doenças ameaçam a sobrevivência dos recifes de corais brasileiros
Conservação Internacional
10 de junho de 2008




Estudo realizado no Banco dos Abrolhos prevê a extinção da principal espécie de coral construtora de recifes do Brasil em menos de 100 anos, caso a escalada de doenças não seja amenizada




Salvador, 10 de junho de 2008 – Uma análise da saúde do maior e mais rico recife do Atlântico Sul – o Banco dos Abrolhos, no extremo sul da Bahia, aponta para um declínio massivo na cobertura de corais nos próximos 50 anos. E este quadro pode agravar-se com a recente presença de doenças que afetam as espécies construtoras desse ecossistema. O estudo, baseado no monitoramento da principal espécie brasileira de coral (que só ocorre no país), a Mussismilia braziliensis, prevê sua extinção em menos de um século caso medidas de controle não sejam adotadas. A descoberta foi apresentada no artigo “Diseases leading to accelerated decline of reef corals in the largest South Atlantic reef complex (Abrolhos Bank, eastern Brazil)”, publicado na revista Marine Pollution Bulletin. A pesquisa é pioneira na observação de doenças em corais no Brasil e foi realizada por cientistas das Universidades Federais da Bahia (UFBA) e Rio de Janeiro (UFRJ), Conservação Internacional e Universidade de Boston, liderados pelo biólogo Ronaldo Francini-Filho, da UFBA.



O estudo reúne dados obtidos sobre a dinâmica dos recifes coralíneos de Abrolhos nos últimos 28 anos e utiliza um levantamento mais detalhado da saúde dos corais feito nos últimos três anos, a partir da análise de imagens digitais seqüenciais em colônias saudáveis e doentes. Embora estes recifes venham sendo estudados e monitorados desde 1980, somente em 2005 as primeiras colônias doentes foram detectadas. Desde então, as áreas afetadas aumentaram consideravelmente e já começam a ameaçar a integridade do ecossistema.


Causas – O artigo revela que a rápida proliferação dessas doenças pode estar ligada ao fenômeno do aquecimento global, associado à degradação da zona costeira. Segundo o professor Francini-Filho, uma das principais causas para a proliferação de doenças nos corais é a elevação acelerada da temperatura dos oceanos. “Os recifes de corais, por serem ambientes altamente sensíveis, oferecem uma importante ferramenta de avaliação dos avanços da degradação ambiental no planeta, um termômetro da saúde dos oceanos”, esclarece. Além do aquecimento global, a pesquisa aponta como co-responsáveis pela contaminação desses ambientes a urbanização e a ocupação descontrolada do litoral e das bacias hidrográficas. Para o oceanógrafo e microbiologista Fabiano Lopes Thompson, do Departamento de Genética da UFRJ, o desafio do trabalho, agora, é identificar os agentes causadores das doenças e as circunstâncias que estão favorecendo sua proliferação, tais como a qualidade da água do mar.


Pioneirismo – Apesar da reconhecida importância dos ambientes recifais – considerados ‘as florestas tropicais dos oceanos’ -, o estudo é o primeiro a tratar das doenças que afetam os corais nos recifes brasileiros, dentre os quais há diversas espécies endêmicas, não encontradas em nenhum outro lugar do planeta. “Embora o fenômeno do branqueamento de corais já tenha sido relatado no Brasil, não existiam até então pesquisas que tratassem das doenças que vêm acometendo esses ambientes, geralmente associadas ao branqueamento”, explica Thompson.


Resultados e perspectivas – Foram detectadas pelo menos seis tipos de doenças (síndromes) nos corais de Abrolhos, a maioria delas já identificadas no Caribe e Indo-Pacífico nas duas décadas passadas. A pesquisa prevê a perda de cerca de 60% da cobertura de Mussismilia braziliensis nos próximos 50 anos e de quase 90% até 2100, caso seja observado um crescimento de apenas 1% na ocorrência da “praga-branca”, a enfermidade mais comum. Apesar de alarmante, o problema ainda pode ser mitigado ou mesmo eliminado. Na avaliação de Rodrigo Moura, biólogo da ONG Conservação Internacional (CI-Brasil) e um dos autores do estudo, o fato de a região extremo sul da Bahia ainda não ser densamente povoada significa que a ocupação da costa e das bacias hidrográficas pode ser planejada de forma a não degradar o ambiente marinho. “O manejo adequado das áreas de proteção e suas áreas de entorno, tais como o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, também tem um papel fundamental nesse sentido. É premente, entretanto, a adoção de medidas de monitoramento contínuo, contenção e prevenção de enfermidades”, avalia Moura. Os autores não desconsideram a possibilidade de esses ecossistemas desenvolverem resistência a essas enfermidades.


Banco dos Abrolhos – O Banco dos Abrolhos conserva a maior biodiversidade marinha do Atlântico Sul, tendo importância estratégica para o equilíbrio ambiental do planeta. Três unidades de conservação já foram criadas na região: o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, a Área de Proteção Ambiental Ponta da Baleia/Abrolhos e a Reserva Extrativista Marinha do Corumbau. Todas apresentam deficiências financeiras e de pessoal que prejudicam seu processo de implementação. Uma terceira unidade, a Reserva Extrativista do Cassurubá, está em processo de criação nos manguezais dos municípios de Caravelas e Nova Viçosa.


Ciência para conservação e sustentabilidade – Pela sua relevância biológica, o Banco dos Abrolhos é área focal de iniciativas de ciência e pesquisa que visam produzir informações cruciais para embasar a proposição de políticas públicas voltadas à conservação e uso sustentável dos recursos da região. O estudo-tema do artigo é fruto das atividades do programa ‘Marine Management Areas Science’ (MMAS), da Conservação Internacional, e do projeto ‘Produtividade, Sustentabilidade e Utilização do Ecossistema do Banco dos Abrolhos (PRO-Abrolhos)’, do Instituto do Milênio do CNPq, coordenado pela USP. O Programa MMAS investe em pesquisas científicas sobre o manejo e a efetividade de áreas marinhas protegidas e o PRO-Abrolhos visa estudar o funcionamento e a estrutura dos ecossistemas do Banco dos Abrolhos. Ambas iniciativas contam com o apoio de dezenas de instituições parceiras, entre ONGS, universidades, centros de pesquisas e empresas.


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