Notícias ambientais

Desmatamento pode contribuir para mortes relacionadas à AIDS na África

Desmatamento pode contribuir para mortes relacionadas à AIDS na África

Desmatamento pode contribuir para mortes relacionadas à AIDS na África
mongabay.com
Traduzido por Junia Faria
23 de Junho, 2008




Interações entre seres humanos e vida selvagem são um importante vetor para doenças emergentes, principalmente nos trópicos




Atividades madeireiras na África tropical podem trazer riscos inesperados para a saúde de humanos e da vida selvagem, declara veterinário pato-biologista em uma conferência cientifica em Paramaribo, Suriname.



Thomas R. Gillespie, pesquisador da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, disse que primatas vivendo em áreas degradadas e áreas onde há extração madeireira nas florestas de Uganda e da República do Congo têm maior incidência de patogênicos potenciais que os primatas vivendo em áreas onde não há distúrbio ambiental. Os resultados da pesquisa têm implicações para a saúde humana já que alguns desses agentes patológicos aumentam consideravelmente a mortalidade de pessoas portadoras do vírus HIV/AIDS. O estudo se localizou em áreas onde a incidência do vírus é muito elevada o que indica que a abundância dos mencionados agentes patológicos pode causar sérios impactos na saúde da população.



Analisando a abundância, variedade e densidade de parasitas potencialmente prejudiciais em gorilas, chimpanzés e macacos que vivem em Kibale e Bwindi em Uganda, e diferentes localidades na República do Congo, Gillespie e colegas encontraram maior prevalência de infecção entre os primatas vivendo em áreas perturbadas. Em áreas desmatadas na República do Congo os pesquisadores relatam a presença de Strongyloides stercoralis, um parasita que acarreta sérias infecções em pacientes portadores de HIV e que causa taxa de mortalidade de 98 por cento. Gillespie alega que o parasita — que não é naturalmente encontrado na África Central e que provavelmente foi introduzido na região por seres humanos através de fezes contaminadas — foi encontrado em 12 por cento da área onde ocorre extração madeireira mas não foi encontrado em nenhuma das áreas onde existem parques florestais. E possível, no entanto, que indivíduos contaminados entrem em áreas onde o parasita ainda não existe e contaminem mais primatas, espalhando o agente patogênico para populações até então não contaminadas.




Jovem gorila no Gabão (Foto: Rhett Butler).
A pesquisa de Gillespie descobriu alta resistência contra antibióticos nos gorilas em contato com turistas no Parque Nacional de Bwindi em Uganda. Em gorilas que não tiveram contato com turistas, a resistência contra antibióticos e de quase zero.

Gillespie diz que interações entre humanos e primatas também podem contribuir para a disseminação de doenças. Durante a realização de um questionário com pequenos agricultores em Kibale, Uganda, Gillespie e demais pesquisadores descobriram uma das práticas locais para evitar que primatas ataquem as plantações é cobrir as plantas com fezes de gado. Essa medida preventiva acaba por criar mais uma porta de transmissão de agentes patogênicos, entre gado, humanos e primatas.



“Certamente isso é ruim para as pessoas e para os primatas,” disse, durante apresentação no encontro anual da Associação para Biologia Tropical e Conservação. “O contato – entre humanos e primatas – está crescendo porque as áreas de florestas estão diminuindo e o número de pessoas aumentando.”



Gillespie disse que os pesquisadores já detectaram a presença de cryptosporidium — um protozoário normalmente encontrado apenas em gado — em macacos selvagens e em pessoas, nas proximidades de Kibale. Em uma região com um dos maiores índices de infecção por HIV/AIDS do planeta, o impacto potencial do protozoário — que é responsável por 25 por cento das mortes de pacientes de AIDS no mundo — é considerável.



Gillespie nota que a crescente interação entre seres humanos e vida selvagem aumenta o risco de novas doenças e cita um estudo recente publicado na revista Nature segundo o qual 60 por cento das doenças infecciosas surgidas entre 1940 e 2004 vieram de animais. Dessas, 72 por cento, incluindo SARS, ebola, HIV-AIDS e novas variedades de gripe, vieram de animais selvagens.



Gillespie diz que essas doenças são também um problema para espécies ameaçadas de extinção, especialmente porque seus habitats continuam encolhendo por causa do desflorestamento e da conversão em terras para agricultura.



“é extremamente claro que doenças infecciosas são uma grande ameaça a sobrevivência de varias espécies de primatas,” disse.



O ebola dizimou mais de um quarto da população mundial de gorilas desde 1994, e os chimpanzés estão sofrendo de uma epidemia causada por um vírus respiratório.



Gillespie alega que um melhor monitoramento da saúde da vida selvagem pode ajudar os especialistas na área de saúde humana a lidar com as doenças emergentes e que campanhas de educação local podem reduzir o risco de transmissão entre humanos, gado e vida selvagem. E visto que os animais em áreas de floresta onde não há desmatamento ou outra forma de interferência humana são mais saudáveis, a proteção das áreas remanescentes de floresta pode também mitigar o risco de aparecimento de novas doenças.






Exit mobile version