Peru falha ao investigar o assassinato do líder ambiental na Amazonia
Peru falha ao investigar o assassinato do líder ambiental na Amazônia
Rhett A. Butler, mongabay.com
Traduzido por Marcela V.M. Mendes
14 de Maio, 2008
As autoridades peruanas falharam ao responder aos pedidos por proteção de Julio Garcia Agapito, o líder ambiental que foi baleado no sudeste do Peru no fim de Fevereiro, de acordo com uma nova petição que pede uma investigação sobre o assassinato. A morte de Julio Garcia nas mãos de um madeireiro ilegal causou um clamor internacional e destacou crescentes tensões sobre a pavimentação de uma rodovia na Floresta Amazônica.
Tenente regulador abriu fogo contra o tráfico da madeira
Como Tenente Regulador da cidade de Alerta no departamento de Madre de Dio no sudeste do Peru, Julio Garcia serviu na condiçaõ de oficial ambiental de reforço da lei, apoiando os esforços do Instituto Nacional de Recursos Naturais (INRENA), agencia gerenciadora de recursos do Peru, para monitorar e confiscar madeira ilegal. Seu papel não oficial, que frequentemente incluia seguir as expedições de madeira ilícita, o colocou em desacordo com o madeireiros que ilegalmente extraiam madeira mahogany e outras madeira valiosas da floresta ao redor.
Don Julio Garcia Agapito |
Em 26 de Fevereiro de 2008 o conflito entre Julio Garcia e interesses do desevolvimento alcançou um ponto crítico. Julio Garcia foi atingido oito vezes por Amancio Jacinto Maqque, um traficante de madeira, no escritório do INRENA em Alerta. De acordo com a Andina (Agencia Peruana de Noticias), Julio Garcia alertou a polícia nacional peruana e o INRENA sobre um caminhão que estava transportando 700 pés quadrados de mahogany ilegal. Enquanto a madeira estava sendo descarregada pelas autoridades, um homem com uma cópia da chave do caminhão, pulou nele e o levou embora. Os oficiais da Polícia National perseguiram o caminhão enquanto Julio Garcia permaneceu no escritório do INRENA. Dentro de alguns minutos, ele foi assassinado por Maqque.
Enquanto a extração de madeira ilegal não é nenhuma novidade no sudeste do Peru, a natureza brilhante da luz do dia de um assassinato à apenas alguns metros do escritória da polícia, pareceu confirmar os temores de que o reforço da lei está falhando numa época em que a governância é mais necessária. As pressões de desenvolvimento estão montando na região devido à melhoria da Carretera Transoceanica ou da Rodovia Transoceânica, que liga o coração da Amazônia ao Pacífico. A pavimentação da rodovia, que irá em breve servir como uma artéria de transporte de soja e outros produtos agrícolas para os portos do Pacífico, tem sido acompanhada pelo influxo de mineradores, madeireiros e especuladores. Uma atmosfera de ilegalidade prevalece.
Pedido por proteção não realizado
Dada essa situação, Julio Garcia aparentemente entendu que sua vida estava em risco. Em 18 de outubro de 2007, Julio Garcia enviou um pedido formal para o Ministério do Interior requisitando proteção. Seu pedido nunca foi concedido, de acordo com uma nova carta assinada por 161 pessoas representando 14 organizações.
“A reação da polícia [em relação ao assassinato de Julio Garcia]… tem sido estranhamente apática,” afirmou a carta enviada a Luis Alva Castro, Ministro de Interior do Peru, e Jorge Del Castillo Gálvez, Presidente do Conselho dos Ministros, em 14 de Maio.
“Esse ato vil representa, em nossa compreensão, um salto qualitativo na violência dos que estão envolvidos na extração de madeira ilegal e outras atividades ilícitas são capazer de cometer,” a carta continua. “Infelizmente tais atividades prevalecem nessa área fronteiriça em face à fraqueza ou ausência das autoridades que são chamadas para proteger os cidadãos e nosso patrimônio natural.”
“Esse assassinato segue um ataque perpetrado poucos meses atrás contra um oficial do INRENA em Puerto Maldonado e ocorre no meio de um insuportável aumento da delinquência, violência contra mulheres e tráfico sexual de menores tanto em centros urbanos como em acampamentos de mineiradores e madeireiros em Madre de Dios.”
A carta continua para demandar uma investigação oficial sonre o assassinato de Julio Garcia, um relatório sobre a segurança oferecida aos oficiais de polícia e cidadãos que trabalham para reforçar a lei ambiental, e uma atualização de um projeto INRENA para controlar a extração de madeira ilegal na área.
“Nenhum cidadão que respeita a lei, e ainda mais uma autoridade local, deveria ser abandonada a seu destino no Peru, muito menos em área fronteiriça,” a carta continua. “Mais de um mês após sua morte, e depois das noticias terem sido publicadas em jornais amplamente lidos no mundo inteiro, o silêncio do Poder Executivo em face do assassinato de um membro do partido do governo é desconcertante. Nós estamos preocupados com os repetidos avisos da presença de crime organizado no setor da floresta e a aparente falta de ações para identificar isso.”
Ambientalista da Amazônia baleado no Peru