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Nenhum sacrifício é feito para acabar com o desflorestamento na Amazônia, apenas ganhos

Nenhum sacríficio é feito para acabar com o desflorestamento na Amazônia, apenas ganhos

Nenhum sacrifício é feito para acabar com o desflorestamento na Amazônia, apenas ganhos
Uma entrevista com o jornalista brasileiro Sergio Abranches sobre o desflorestamento e clima
Jeremy Hance, mongabay.com
Traduzido por Marcela V.M. Mendes
15 de Maio, 2008





Colunista e co-criador do website de notícias ambientais do Brasil, O Eco, Sergio Abranches tem grande credibilidade no despertar ecológico do Brasil. Um professor de ciência de política, Abranches usa seus talentos únicos para alcançar uma audiência mais ampla no Brasil para as notícias ambientais, de energia e mudança climática e outras discussões. Ele fala com especialidade sobre diversos tópicos: do desflorestamento da Amazônia, a atual crise de alimentos até as transformações economicas e políticas para um mundo em aquecimento.



Chamando a si mesmo de “ativista das ideias”, Sergio Abranches falou a Mongabay sobre muitos assuntos, incluindo o atual estado do Amazonas. Ele chama um programa de desflorestamento zero em cinco anos embora ele tenha dúvidas de que a atual administração do Brasil abordará o assunto eficientemente. A respeito da Floresta Atlântica onde Abranches trabalhou por anos, ele afirma que as Ongs bem intencionadas devem trabalhar juntas em direção a um objetivo mais compreensivo. Identificar a REDD (Emissão Reduzida através do Desflorestamento e Degradação) em relação a essas florestas brasileiras, ele acredita que o programa deve incluir incluir benefícios tangíveis para a população local, incluindo a educação e tecnologia, para ser eficiente.




Sergio Abranches. Foto cortesia de O Eco

Cada um desses assuntos de conservação levam à mudança climática, a qual Abranches vê como um desafio da sociedade global. Abranches diz que o mundo deve aproximar a mudança climática de acordo com os piores cenários: “Nós devemos prestar atenção não às críticas dos contrários aos relatórios do IPCC. Nós deveriamos estar mais preocupados com os cientistas que estão dizendo que o IPCC subestimou alguns dos riscos, porque se eles estiverem certos nós podemos enfrentar um desafio ainda maior pela frente. Se os contrarians estiverem certos, nós não teriamos nada a lamentar sobre nenhuma medida de abrandamento que pudessemos ter tomado, porque há benefícios em termos de menos poluição, mais sustentabilidade e menos risco futuro que compensariam seus custos.” Na seguinte entrevista, Abranches discute o atual estado da política de mudança climática global e nos maiores produtores de CO2 do Brasil, os EUA, Europa, India, e China. For Abranches, no nation is doing enough: “There are some good ideas but what we need is effective concerted action. O maior dilema da política de mudança climática é que e um fenômeno global que requer ação efetiva local, e para ser eficiente teria de ser globalmente sincronizada e submetida a um mecaniosmo de governancia global”.



Tendo acabado de retornar de uma viagem à Amazônia, viajando para Paragominas, Abranches se engajou em uma operação da “Arca de Fogo”. “Arca de Fogo”, uma estratégia do governo brasileiro para levar mais a sério o desflorestamento ilegal, é um avanço da ação policial contra o desflorestamento na Amazônia. Abranches testemunhou os efeitos do novo programa em primeira mão, e responde perguntas a respeito de sua experiência abaixo.



RELATÓRIO DA AÇÃO POLICIAL CONTRA O DESFLORESTAMENTO NO BRASIL



Mongabay.com: Você esteve recentemente na Amazônia, seguindo as operações da polícia em sua nova iniciativa ‘Arca de Fogo’ para combater o desflorestamento. Você pode nos contar sobre sua experiencia?







Destruição de fornalhas de carvão vegetal durante a operação ‘Arca de Fogo’. Foto por Sergio Abranches.

Sergio Abranches: Foi extremamente interessante, porque eu fui sortudo de estar no lugar certo na hora certa, e foi uma coincidência. Eu estava planejando ir para a cidade de Paragominas, às margens da rodovia Belem-Brasilia (Belém é a capital do estado do Pará), para examinar pessoalmente um movimento local, liderado pelo prefeito, para acabar com o desflorestamento. A operação “Arca de Fogo” chegou dois dias antes de mim. No mesmo dia que eu cheguei lá, um grupo da Câmara Federal e membros do Senado também chegaram em Paragominas, para ver a operação. A operação é uma ação conjunta da Federal Environmental Agendy (IBAMA), da Secretaria do Meio Ambiente do estado do Pará, da Polícia Federal e da Força Nacional, uma unidade especial recentemente criada das forças armadas para apoiar a ação da polícia em áreas muito violentas. Essa convergencia foi esclarecedora. Eu falei com pessoas da industria madeireira e eles me disseram que essa era a operação mais resistente que ja tinham visto. E por que? Porque pela primeira vez, eles estavam confiscando toda madeira ilegal encontrada, além de multar as serrações. Geralmente eles colocariam um embargo sob a madeira, mas deixariam -nas nos pátios das serrações. Agora isso estava afetando-nas economicamente. Os políticos voltaram para a capital federal, Brasilia, para pedir o fim da operação. Eles estavam representando os interesses dos madeireiros ilegais.



Mas eu vi um pátio cheio de madeiras ilegais, serragem e resíduos de madeira. Foi uma operação de serração muito ineficiente que produziu muito mais resíduos que madeira. Uma serração típica da Amazônia. Eu também segui uma invasão da policia a uma fornalha ilegal de carvão vegetal bem primitiva. Eles queimam resíduos de madeira e madeira de derrubadas ilegais para fazer carvão vegetal para as plantas da gusa dos Carajás and Marabá, um minério de ferro e região do aço.



Mongabay.com: Quais são as punições para aqueles que são pegos derrubando ilegalmente a floresta?



Sergio Abranches: Há multas pesadas e eles podem ser processados e presos. A serração invadida pela policia que eu documentei para O Eco recebeu uma multa de US$ 450.000.00. O problema é que a maioria deles nunca pagam suas multas e sem consequencias. Agora os advogados federais estão se assegurando de que essas multas serão pagas. Teremos que esperar para ver.



Mongabay.com: Você acha que a nova ação da polícia está surtindo efeito? Se está, esse é o fim do Oeste Selvagem em Mato Grosso?


Sergio Abranches: Há um aspecto da operação como um todo que me preocupa. Ela foi muito planejada como uma tentativa de esconder o fato de que o Governo Federal negligenciou todos os sinais de que o desflorestamento estava ganhando forças novamente na Amazonia, após três anos de abruptas perdas. Os primeiros sinais vieram de uma monitoração independente via satélite, no inicio de 2007. Eu então escrevi que o governo estava cometendo um um grande equívoco político em negar o fato. O preço da soja e da carne aumentaram depois de uma longa crise de três anos, a pressão sobre a floresta voltou, era hora de agir. As autoridades governamentais do meio ambiente me chamaram para dizer que isso não estava acontecendo. O governo negou isso por meses, e apenas admitiu que o desflorestamento estava em uma tendência ascendente depois da Convenção Climática em Bali. Ela estabeleceu a operação para compensar meses de inércia. Quando a polícia sai, as atividades ilegais recomeçam, a menos que o governo seja mais coerente, ajustando permanenetemente as políticas anti-desflorestamento. Mas a política de governo para a Amazonia é muito contraditória. O Ministro da Agricultura critica as invasões anti-desflorestamento tais como a “Arca de Fogo”. O mais querido programa do presidente Lula, o Programa para Aceleração do Desenvolvimento é uma real ameaça à integridade da Floresta Amazonica, porque planeja construir asfaltos e diversas plantas de energia hidráulica lá. As estradas são uma das causas principais dos novos estabelecimentos e desmatamento da floresta. Qualquer foto de satélite mostra as espinhas do desflorestamento, tendo as estradas como espinha dorsal. A Amazonia precisa de um novo plano de desenvolvimento, um baseado em uma cláusula de desflorestamento zero.



Eu não acho que nós vamos ver o fim do Oeste Selvagem do Mato Grosso tão cedo. Eu tenho visto alguns sinais de que a mentalidade de Fronteira Selvagem está começando a declinar no estado do Pará. Eu ouvi muito sobre um plano para zerar o desflorestamento ilegal. Não é o princípio ideal de desflorestamento zero que teremos que perseguir, mas é um movimento emergente, bem inicial em direção a extração ilegal.



Mongabay.com: Você pode descrever o ‘Pacto para o Desflorestamento Zero’?



Foto por Sergio Abranches.

Sergio Abranches: Um pacto para o desflorestamento zero seria um amplo acordo entre governos, corporações, todas a elite ativa politicamente da região amazônica, para acabar com todas as transações de qualquer tipo de produto que vem de terra ilegalmente ocupada e de áreas desflorestadas. Dois anos atrás produtores de soja, companhias comerciais e grandes importadoras assinaram um acordo pra nao aceitar soja de áreas recentemente desmatadas. Isso tem reduzido significantemente a contribuição de produção de soja para esse novo ciclo de crescente desflorestamento. A maioria das áreas onde o desflorestamento está aumento é ou terra para pastagens ou terras reformadas para acampados. O ultimo é uma outra contradição da policia oficial: a agencia federal de reforma agrária se tornou um grande condutor do desflorestamento.



NA AMAZÔNIA



Mongabay.com: Qual a sua visão das atuais políticas brasileiras com relação à exploração da floresta e sua preservação?



Sergio Abranches: Como eu disse o Governo Federal não tem uma política coerente para a Amazônia. O federalismo brasileiro é muito centralizado; o Governo Federal poder demais. Governos dos estados não são capazes de sozinhos resolverem os problemas de reforço da lei. A desordem de direitos legais, esse é o principal alibi para a atividade ilegal generalizada na Amazônia, depende inteiramente do governo federal. O Governo do Estado do Amazonas e Pará estão tentando implementar políticas de preservação cada um da sua forma. Mas a Amazonia precisa de bem mais. Ela precisa de uma nova agenda de desenvolvimento, baseada na educação, ciencia e tecnologia. Tecnologia deveria ser aplicada para monitorar, preservar e usar a biodiversidade de forma sustentável. Eu costumava dizer que o problema da Amazônia tem três pilares, cada um representado de fato mais desenvolvimento, nenhum como obstáculo ao desenvolvimento: regra da lei e democracia melhorada; boa educação, ciencia e tecnologia; responsabilidade social e ambiental.



Mongabay.com: Do you see change in the air politically and/or socially regarding the deforestation of the Amazon?



A capivara, maior roedor da Terra. Foto por Sergio Abranches.

Sergio Abranches: Eu vejo três emergentes fontes de mudança. A primeira é uma negativa: medo. Eu sinto o medo entre os maiores produtores de soja e carne, e entre produtores certificados de madeira. Medo de um novo ambiente baseado em ondas de protecionismo que baniria produtos da Amazonia dos mercados de alta qualidade. A segunda e terceira são positivas. Há uma crescente consciência pública sobre os riscos da mudança climática e a contribuição do desflorestamento na Amazonia para as emissões de GHG. A pressõa publica é uma condição necessária, embora nem sempre suficiente, para uma ação política eficiente. Finalmente diversos segmentos da sociedade da Amazonia está pedindo por um desenvolvimento que preserve o delicado equilibrio da floresta. É um grupo grande e emergente de cientistas, tecnicamente treinados profissionalmente, homens de negócios, a elite mais elucidada politicamente, mas também cidadãos comuns. Trabalhadores em fornalhas ilegais de carvão bem como mão de obra contratada para extração de madeira ilegal que me contaram que eles pensavam que o desflorestamento era uma coisa muito ruim e que deveria ser banida. Eles são uma minoria mas eu diria que, dada as tendencias globais domesticas e mercadologicas que apontam para o futuro, é um sentimento unânime. Cedo ou tarde se tornará maioria. O problema é tempo. É importante reduzir o passo do desflorestamento para dar tempo de completar esse processo de construção de agenda e consenso para alcançarmos um desflorestamento zero.



Mongabay.com: Como você se sente sobre o REDD, as Reduções de Emissões através do Desflorestamento e Programa de Degradação trazido à frente nas negociações climáticas? Tal programa poderia ser útil na preservação da Amazônia?



Sergio Abranches: Eu acho que ajudaria muito, já que traria benefícios reais para as populações locais. Beneficios reais irão exigir boa gestão e investimento de recursos financeiros a serem obtidos do REDD-como programa. Uma boa governância e responsabilidade serão essenciais para o successo de tais programas.



Mongabay.com: O que um programa como o REDD deve ter para se envolver efetivamente na Amazônia?



Vida dos pássaros no Pantanal, grande área alagada no Brasil. Foto por Sergio Abranches.

Sergio Abranches: Eu recomendaria muito usar um quinhão dos recursos para criar um fundo de investimento para educação, ciencia e tecnologia para desenvolver as bases para um novo padrão de desenvolvimento na Amazônia. Eu temo pelo sucesso de tais programas se eles se tornarem inteiramente dependentes dos governos. A “Governamentalização” e “politização” deveriam ser evitadas a todo custo. Eu preferiria ver esses programas sob novos mecanismos de governância, isso nao exclui governos, mas que sejam essencialmente independentes, e incluam outras forças, especialmente para suas monitorações e avaliações. Ou eles acrescentarão força para as forças emergentes de transformaçãos na região, ou eles irão falhar em ajudar na preservação da floresta. Eu não consigo entender como tal mecanismo iria sucederia como programas governamentais voluntásrios. Devem ter alvos obrigatórios e monitoração independente.



NA FLORESTA ATLÂNTICA



Mongabay.com: Você passou bastante tempo trabalhando em questões a respeito da Floresta Atlântica. Considerando que a floresta já tem menos de 10 por cento de seu tamanho original, como sua conservação se difere da conservação da Amazônia?



Sergio Abranches: Parte do esforço de conservação é o mesmo que se aplica a Amazônia: estabecendo regras da lei, boa governância, lutar contra a corrupção, fazendo unidades de conservação – ambos em niveis federais e estaduais – trabalhar mais eficientemente. Isso requer investimentos, pessoas treinadas, equipamento e tecnologia. Hoje nós temos a tecnologia para monitar todas as unidades de conservação através de satélite, para ajudar ações preventivas contra a extração de madeira, incêndios violentos, e caça. A boa governância reduziria a pressão na fronteira das unidades de conservação pelo avanço urbano desordenado. Mas, como você disse, há apenas 7 por cento remanescentes da Floresta Atlântica. Isso requer um programa de recuperação ambicioso, uma ação concertada para o reflorestamento, especialmente nas bacias do rio, e a criação de corredores ecológicos que são muito importantes para a preservação da vida selvagem.



Mongabay.com: \Existe algum plano em andamento pelo governo brasileiro ou alguma Ong local para reestabelecer grandes porções da Floresta Atlântica?



Sergio Abranches: Existem diversos programas privados e de Ongs que parecem promissores, mas par mim suas principais falhas são que eles são independentes uns dos outros, até mesmo competindo pelos mesmos recursos. Eu preferiria ter a coalização agindo juntas com forças ativas para salvar e alargar a Floresta Atlantica, incluindo todos os agentes financeiros, para implementar um plano de ação concertado. Eu também gostaria de ver essas parcerias publicas-privadas para gerenciar as unidades de conservação. Eu acho que isso iria aumentar significantemente a governancia e eficiencia das unidades de conservação.



Mongabay.com: O que a Floresta Atlântica poderia ganhar de um programa como o REDD?



Sergio Abranches: Conforme o conceito da redução do desflorestamento, eu não acho que teria um papel maior na Floresta Atlantica. Há o desflorestamento mas não em uma escala comparável com o que acontece na Amazonia, as savanas – Cerrado – do centro oeste do Brasil e as áreas alagadas – Pantanal. Mas eu vejo muitas possibilidades para outros mecanismos de mercado de carbono para beneficiar a Floresta Atlantica.



Mongabay.com: Como a população brasileira vê suas florestas? Você tem visto mudanças na visão deles?



Sergio Abranches: Uma pesquisa conduzida por O Eco um ano atrás mostrou que os brasileiros já enxergam o desflorestamento como nosso maior problema ambiental. E o público brasileiro correlaciona o desflorestamento e a mudança climática. Há um senso emergente de que nós precisamos mudar a forma que tratamos nossas florestas. Mas não é, contudo, suficiente para criar a quantidade de pressão pública necessária para mudar a atual ordem das coisas.



SOBRE MUDANÇA CLIMÁTICA



Mongabay.com: Você escreveu sobre a mudança climática no passado. Qual a sua visão sobre a urgencia e seriadade sobre a questão?



Sergio Abranches: Se olharmos a mudança climática de uma perspectiva de risco, não é apenas extremamente serio, mas também a questão mais urgente em mãos para cada país entrar em ação. Quando eu discuto risco climático eu tento mostrar que nunca é inteligente tratar o risco nas bases do melhor cenário. Deve-se olhá-lo através das lentes do pior cenário, o qual deveríamos tentar impedir que aconteça, para sermos capazes de identificar as medidas apropriadas necessárias. Isso significa que devemos prestar atenção não somente aos crítico dos relatórios do IPCC. Deveriamos ser mais preocupados com o que os cientistas estão dizendo que o IPCC subestimou alguns dos riscos, porque se eles estiverem certos nós podemos enfrentar desafios ainda maiores pela frente. Se os contrarians estiverem certos, não teriamos de lamentar nenhuma medida de abrandamento que tivessemos tomado, porque seus beneficios laterais em termos de menos poluição, e maior sustentabilidade e menores riscos futuros compensariam seus custos. Se o consenso do IPCC provar ser verdadeiro, teríamos feito o mais correto. Então, para mim, não há argumento para não tomar as medidas de abrandamento.



Grande Sertão. Foto por Sergio Abranches.

Nós aina não estamos fazendo o que deveríamos fazerm mas eu acho que iremos fazer eventualmente. Eu acho que o cenário político das políticas climáticas globais e será bem diferente em 2015, do que é agora. Nós iremos muito possivelmente mudar nos próximos dois anos. O processo político para formar uma coalizão global vencedora para apoiar novas políticas globais a respeito do clima irá apenas se acelerar de 2010 em diante. Não haverá reais progressos em relação a um acordo entre os países desenvolvidos, enquanto os Estados Unidos ainda estiver sob a atual administração. Entre as nações emergentes, existem três grandes obstáculos: a China, a India e o Brasil.



As autoridades chinesas sabem que seu país está se movendo rapidamente em direção a um colapso ambiental em cada dimensão: qualidade do ar, suprimento de água, segurança de energia e alimento. O interesse deles no Tibet hoje tem muito menos a ver com o sonho de Mao de uma China unificada, do que com o suprimento de água limpa. A China tem sido lenta na diplomacia da mudança climática do que em investir no meio ambiente. Independentemente dos incentivos relacionados com os Jogos olímpicos, os investimentos orientados ambientalmente para reduzir a poluição, desenvolver fontes de energia renováveis e recuperar rios tem crescido muito rápido nos últimos três anos. As autoridade do meio ambiente foram promovidas na hierarquia do poder, um importante sinal do regime autoritário chinês.



A India está muito vulnerável ao risco a curto prazo da mudança climática. Há algumas provas científicas inquietantes de que as monsões do verão poderiam reduzir a intesidade ou até mesmo desaparecer a curto prazo. Se isso acontecer, os dias de verão se tornarão mais quentes, secos e uma significante porção de sua produção de arroz seria perdida. Eu tenho discutido questoes sobre mudanças climáticas na semana passada com um analisata militar e estratégico influente da India, e ele me contou que há uma crescente preocupação em seu país sobre a mudança climática, o derretimento no Himalaia, a maior fonte de água do vale do Ganges e Brahmaputra.



Mongabay.com: Qual é a posição atual do governo brasileiro sobre a mudança climática? Você acha que a maioria dos brasileiros concordam ou não com seu governo nessa questão?



Sergio Abranches: No Brasil, eu acho que será como nos Estados Unidos: não haverá real progresso sob a presente administração e é ainda muito cedo para dizer se as eleições de 2010 trarão mudanças nessa área. O governo se opõe a alvos imperativos de emissões e tenta convencer outros países de que é capaz de implementar um abrandamento voluntário eficaz e política de anti-desflorestamento. Mas ele falha ao convencer ate mesmo os brasileiros.



Igualmente nos Estados Unidos o público está cada vez mais dando apoio às políticas de abrandamento da mudança climática. Nosso primeiro grande passo deveria ser para adaptar a meta de desflorestamento zero para ser alcançada dentro dos próximos 5 anos.



Mongabay.com: Quais são as melhores soluções que você tem visto no combate da mudança climática?



Sergio Abranches: Na verdade eu não acho que já temos boas soluções. A União Européia, por enquanto tem alguns planos muito interessantes, mas as intenções climáticas deles não tem sido eficientes. Há algumas boas idéias mas nós precisamos de ações concertadas eficazes. O grande dilema da política de mudança climática é que ela é um fenomeno global que requer ação local eficaz, e ações locais, para serem eficientes, poderiam ser globalmente sincronizadas, e submetidas a um mecanismo de governancia global: um mecanismo de governância sem governo.



Eu não acho que nós sucederemos no alcançe de um acordo no modelo de assembléia geral adotado pela Convenção de Mudança Climática e o Protocolo de Kyoto. É muito heterogêneo e muito ampla uma assembléia para permitir soluções significativas unânimes. Há muitos vetos com participação desigual em emissões de GHG. Eu creio que nos precisamos primeiro conseguir um acordo entre os grandes e desenvolvidos emissores, o G-8 com a Coréia do Sul e a Austrália, e os grandes emissores com economias emergentes e/ou poder de floresta, China, India, Brasil, México, Africa do Sul, e Indonésia. Uma vez alcançado um acordo, poderia ser apresentado à Convenção Climática como uma forte indução a ser escrita no acordo do Protocolo de Kyoto. Um acordo dessa amplitude exigiria uma agência climática global independente para cuidar de sua implementação e monitoração.



Mongabay.com: Como equilibramos os recursos para o bem estar humano, especialmente das nações mais pobres, e o combate à mudança climática?



Sergio Abranches: Isso varia muito dependendo da energia matriz de cada país. Até mesmo nas economias emergentes o custo da transição para uma baixa economia de carbono irá variar. A China e a India são muito dependentes do carvão, no momento. Se movendo em direção a energia renovável e limpa ao passo que será exigido, e numa escala compatível com suas necessidades energéticas é uma grande jornada. Há pessoas que não enxergam nenhuma alternativa praticável a não ser aumentar a participação da energia nuclear em sua energia matriz. No Brasil, mais de 70 por cento de seu suprimento de eletricidade vem de hidrelétricas. Nossa maior contribuição para as emissões GHG vem do desflorestamento (70 por cento das emissões totais). Não há sacrifícios associados ao fim do desflorestamento na Amazônia, apenas mais ganhos. Mais de 80 por cento do desflorestamento total é ilegal. O desflorestamento ilegal é frequentemente relacionado com formas de trabalho que caem no conceito ILO de trabalho forçado. Acabar com o desflorestamento ilegalo no Brasil corresponde a melhorar a qualidade da democracia, repeito pleno dos direitos humanos e eliminação de fontes ilegais e ilegítimas de ganho economico. Há muita evidência de que qualquer benefício social vindo do desflorestamento é breve. Geralmente, as atvidades economicas deterioram com a exaustão dos solos e deixa para trás um rastro de areia e miséria.







A respeito dos países mais pobres minha maior preocupação é com o fato de que o mundo não está discutindo a adaptação com a enfase necessária e senso de urgência. A adaptação tem estado recebendo menos atenção que o abrandamento. Todos os países terão que se adaptar cedo ou tarde. Alguns países desenvolvidos serão severamente atingidos pela intensidade da mudança climática que é inevitável, por causa das emissões que se acumularam nas ultimas três ou quatro décadas. Nós não seremos capazes de fazer nada para reduzir o efeito estufa devido ao que já está na atmosfera. Mas a maior carga da adaptação cairá pesadamente sobre as nações mais pobres e sobre os setores mais pobres das sociedades mais ricas. Os refúgios climáticos se tornarão um grande problema se não tomarmos medidas de adaptações preventivas ainda mais rápido do que tentamos mitigar as emissões. Deveriamos ja estar tentando reduzir o risco de um cenário terrível de epidemias, fome, guerras por água e comida. Países em desenvolvimento tem a vantagem do desenvolvimento multilateral e as agencias de ajuda deveriam considerar: eles não precisam seguir o mesmo caminho de desenvolvimento de alto carbono que os países desenvolvidos seguiram no século XX. Ajuda, investimento, e transferencia de tecnologia poderiam ser usadas para ajudá-loas a desenvolver uma economia de baixo carbono engajada em melhorar o desenvolvimento humano, ao invés do consumismo do século XX, como está acontecendo no Brasil, China e India.



Eu acho que uma grande parte da paralização completa do clima, fora a força restante dos interesses políticos vestidos sob o status quo, é devido ao fato de que nós ainda estamos olhanda para a política de mudança climática como uma questão de sacrifício. Deveriamos olhar para os riscos revelados pelo pior cenário, mas conforme as soluções são reveladas, elas deveriam ser retratadas de forma não negativa, mas positivamente, em termos de um novo padrão de desenvolvimento, novos padrões de produção e consumo baixos em carbono, que na verdade levam a maior bem estar da humanidade, a eliminação de diversas fontes de doenças, tais como pobre qualidade do ar, água imprópria, e poços abertos de lixo. Ao invés de discutir apenas os limites de desenvolvimento sob o presente modelo, nós deveriamos debater e estudar com toda ênfase possível, as forças e amplos benefícios desse nono modelo de desenvolvimento de baixo carbono e como eles na verdade podem ser mais benéficos para a maioria, que os atuais modelos. Deveriamos não olhar para os modelos do século XX; e sim designar totalmente novos modelos para o século XXI.



PESSOAL



Mongabay.com: Eu ouvi você se descrever como jornalista, cientista político, um sociólogo, um comentarista ambiental, professor, e um ativista. Como você descreve a si mesmo?



Sergio Abranches: Eu não me vejo como um ativista, pelo menos no senso convencional de ser partr de um movimento social ou político, mas eu tento ser um ativista das idéias. Eu gosto de propagar e debater idéias inovadoras e sadias sobre como mudar a sociedade e a economia em direção a mais democracia, justiça social e padrão de produção e consumo de baixo carbono. Eu acho que minha atividade principal hoje deveria ser descrita como um autor de conteúdo para diferentes tipos de público e de mídia. Eu escrevo diariamento sobre casos políticos e ambientais para os sites O Eco e Risco Político e também frequentemente escrevo artigos para serem publicados por jornais e revistas. Eu contribuo para alguns de forma regular, tais como a edição brasileira da Scientific American. Eu também faço um comentário diário na rádio de noticiário brasileira CBN, no “ecopoliticas”. Eu estou tentanso usar meu treinamento acadêmico de forma que posso alcançar maior audiência, para mostrar como a mudança climática afetam as questões economicas, sociais e políticas.



Mongabay.com: Por favor nos conte sobre sua coluna no website O-Eco?



Sergio Abranches: Cinco anos atrás, eu estava conversando com um aigo meu, um excelente profissional, jornalista e fotógrafo, Marcos Sá Corrêa, sobre a criação de um site de jornalismo para os muitos aspectos da realidade brasileira que a imprensa convencional estava negligenciando. E a maior area de neglignecia foi o meio ambiente. Marcos tem uma longa carreira escrevendo sobre o meio ambiente, especialmente sobre as questões de conservação. Ele estava tendo uma conversa similar com Manoel Francisco Brito, outro jornalista de primeira classe. Nós nos reunimos e decidimos criar o O Eco. Nós projetamos o O Eco para igualmente mostrar a jovens jornalistas como encontrar o “ângulo ambiental” em qualquer estória, e nós tornamos isso uma regra para trabalhar com um grupo de trainees, que esperamos, depois de algum tempo, virarem principais jornalistas com essa cisão para enxergar o meio ambiente em qualquer aspecto da vida social. Eu percebi que meu papel principal seria estar trazendo a ciencia e o jornalismo mais perto um do outro, e decidi escrever em uma coluna aberta. Hoje a meioria das minhas colunas identificam a mudança climática e questões de energia. No Brasil, ninguem pode falar sobre abrandamento de emissões GHG e mudança climática sem olhar para a Amazônia e o desflorestamento. A Amazônia entrou na minha agenda e eu estou dedicando uma grande parte de meu tempo para estudar e escrever sobre a Amazonia.



Mongabay.com: Algum plano para ter uma versão do site disponível em inglês?



Sergio Abranches: Sim, estamos trabalhando nisso. Estamos reprojetando e procurando como editar uma versão para o inglês.



Mongabay.com: Você tem um lugar preferido no Brasil para visitar?



Sergio Abranches: Eu gosto muito de três lugares ameaçados no Brasil: a Savana (Cerrado), especialmente a Unidade de Conservação no meu estado, Minas Gerais que preserva o lugar que foi cenário para o romance brasileiro que eu mais gosto, Grande Sertão Veredas; grande sertão é uma grande e espessa savana aberta, e veredas são formadas ao redor de rios e nascentes e tem uma vegetação mais verde e densa; uma área da Floresta Atlântica, no Vale do Rio Doce, também no meu estado de origem, particularmente uma reserva onde um grupo liderado por Karen Strier, professora em Wisconsin, estuda os Muriquis, primatas com muito carisma; e o Pantanal, nosso maior santuário de vida selvagem. Mas conforme procurava conteúdo relevante para minha agenda atual sobre baixo carbono, modelo de desenvolvimento menos desigual e mais responsável, o lugar para se estar é a Amazônia e seus muito bonitos lugares. Para encontrar uma solução duradoura pra o desflorestamento na Amazonia é o primeiro passo em projetar um modelo vencedor de desenvolvimento para o século XXI no Brasil.



Mongabay.com: O que você diz para os estudantes que gostariam de uma carreira no jornalismo ambiental?



Sergio Abranches: Que eles deveriam não ver a si mesmo como um “nicho de jornalistas”, eles deveriam se considerar jornalistas com uma visão do meio ambiente. Quanto mais temos um angulo ambiental mais claro na cobertura dos casos da economia, politica e diplomacia, vida da cidade, viagens, negócios, mais cedo as pessoas entenderão que o meio ambiente, e a mudança climática em especial, já estão e se tornarão mais fortes como fator determinante da vida no século XXI.


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